Alfabetização e Estudo de Caso por Bolsista do PIBID no Ensino Fundamental II

Beatriz dos Santos Lima, Rosane de Carvalho

Resumo


RESUMOA presente pesquisa é fruto de um estudo de caso, realizado na E.E Dr. “Pércio Gomes Gonzales” em Flórida Paulista, interior do Estado de São Paulo, por uma aluna do 6º termo de Pedagogia, Bolsista do PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência) com um aluno não alfabetizado, agressivo e histórico de retenção de quatro anos consecutivos no 6° ano. Partindo deste contexto, foi realizada uma investigação sobre as causas da não aprendizagem do aluno. Para atingir aos objetivos da pesquisa utilizou-se de entrevistas com os professores, equipe gestora e familiares; priorizou-se a metodologia qualitativa com questionários mistos a fim de esclarecer os obstáculos favoráveis à interrupção do aprendizado. Como resultado percebeu-se a grande dificuldade da equipe escolar em entender e resolver a questão da retenção do aluno em pesquisa. Ficou clara a necessidade de reprogramar as práticas pedagógicas, pois existe uma lacuna entre a teoria e a prática docente; os manejos das estratégias didáticas ainda demonstram certa fragilidade; a distância entre o indivíduo e o objeto de aprendizagem, às vezes, não recebe a mediação adequada dos conhecimentos. Além disso, existe a falta de encaminhamentos médicos adequados ou tardios.Palavras-chave: Analfabetismo. Repetência. Intervenção. Qualidade de ensino. Estudo de Caso.ABSTRACT The present research is the result of a case study, carried out at EE Dr. "Pércio Gomes Gonzales" in Florida Paulista, in the interior of the State of São Paulo, by a student of the 6th term of Pedagogy, PIBID Scholarship Initiation to Teaching) with a non-literate, aggressive and historical student of retention of four consecutive years in the 6th year. From this context, an investigation was made on the causes of student non-learning. In order to reach the research objectives, we used interviews with the teachers, management team and family members; the qualitative methodology was prioritized with mixed questionnaires in order to clarify the obstacles that favored the interruption of learning. As a result it was noticed the great difficulty of the school team in understanding and solving the question of student retention in research. The need to reprogram pedagogical practices was clear, because there is a gap between theory and teaching practice; the management of didactic strategies still shows a certain fragility; the distance between the individual and the learning object sometimes does not receive adequate knowledge mediation. In addition, there is a lack of adequate or late medical referrals.1Graduanda, bolsista de iniciação à docência, Pedagogia/E.E. Dr. Pércio Gomes Gonzales - UNIFAI Centro Universitário de Adamantina.2Especialista, bolsista supervisor, Pedagogia/E.E. Dr. Pércio Gomes Gonzales - UNIFAI Centro Universitário de AdamantinaKeywords: Illiteracy. Repeat. Intervention. Teaching quality. Case study.INTRODUÇÃO“Um dos maiores danos que se pode causar a uma criança é levá-la a perder a confiança na sua própria capacidade de pensar”. (Emilia Ferreiro)Vivemos em um momento da história com alta tecnologia. Temos a vida registrada, a cidade desenhada no papel, a memória eletrônica, a mídia digital, entre outros. Mas não se pode falar em desenvolvimento científico e tecnológico, da organização do espaço e da gestão pública e princípios de cidadania, sem falar da leitura e da escrita. Nessa trajetória da civilização ocidental, a escrita deu voz à oralidade, criou o rádio, o telefone e o computador, aprisionou o tempo e modificou o espaço. “Saber e poder ler e escrever é uma condição tão básica de participação na vida econômica, cultural e política que a escola se tornou um direito fundamental do ser humano, assim como a saúde, moradia e emprego” (Brito, 2003, p. 7).Porém, está cada vez mais difícil que a escola seja capaz de realizar a sua primeira função: ensinar. O artigo 2° da Lei N° 9.394/96 de 20 de Dezembro de 1996 (LDB) “A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.”.Diante disso, somando a indagação do não aprender, desenvolveu-se esta pesquisa com um aluno do 6º ano do Ensino Fundamental II, da Escola Estadual Dr. “Pércio Gomes Gonzales” localizada no município de Flórida Paulista-SP. O mesmo está matriculado pela quarta vez no 6° ano e ainda não está alfabetizado. É agressivo, rejeita as orientações dos professores, pois está desmotivado e sem autoestima para aprender.Werneck (1992) aponta em seu livro “Se você finge que ensina, eu finjo que aprendo”, isto mostra uma “Pedagogia do Fingimento”, o professor que finge que ensina, não utiliza o material didático corretamente. Não se importa se o aluno tenha aprendido ou não. Cabe conjecturar que existe uma lacuna entre a teoria e a prática docente, pois os manejos das estratégias didáticas ainda demonstram certa fragilidade. Quando se observa o percurso da nãoaprendizagem do aluno em estudo percebe-se a distância entre o indivíduo aprendente e o objeto de estudo, que muitas vezes não recebe a mediação adequada dos conhecimentos.O maior prejudicado é o aluno. Para Werneck (1992 p. 14,15) “A teoria do fingimento é assim: o professor pode estar em sala, no entanto não se sabe se há algum ensino...” “Nada se ensinou; nada se corrigiu, ninguém progrediu...” Esta, infelizmente, é uma realidade que ainda faz parte de muitas escolas.Elencam-se os objetivos da pesquisa em: a) identificar as possíveis causas da aprendizagem tardia; b) analisar quais providências foram tomadas por parte dos professores anteriores; c) refletir sobre a metodologia utilizada; a prática de ensino e a aprendizagem oferecida.REFERENCIAL TEÓRICOSegundo o PNAIC (Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa), há um compromisso formal assumido pelos governos federal, do Distrito Federal, dos estados e municípios de assegurar que as crianças estejam alfabetizadas até os oito anos de idade, porém, cada indivíduo possui seu próprio ritmo de aprendizagem e esse processo deve ser respeitado. Considerando que a escola deve ser um lugar de igualdade, o ideal é que os alunos tenham as mesmas oportunidades. O professor é peça chave, mas não a única para que o aluno consiga progredir em seu processo de ensino aprendizagem. Esse pensamento está de acordo com Tiba (1998) quando retrata que “uma educação se faz a seis mãos: escola, família e sociedade.”.Skinner considera o professor como um dos principais elementos para a aprendizagem dos sujeitos. Sua função é indispensável para o desempenho de uma boa aprendizagem. “Ensinar é o ato de facilitar a aprendizagem; quem é ensinado aprende mais rapidamente do que quem não.” (SKINNER, 1972, p. 4).Vygotsky (2007) afirma que o bom ensino é aquele que baseia as suas intervenções pensando no que o sujeito está em fase de maturação, pois o desenvolvimento para a próxima etapa dependerá deste movimento realizado pelo mediador dos conhecimentos da zona de desenvolvimento proximal, que com uma intervenção adequada passará a ser a zona de desenvolvimento real do sujeito que aprende.Quando essa aprendizagem é favorecida nos anos iniciais da escolarização há uma chance maior desenvolvimento integral do ser humano. As séries iniciais formam uma etapa extremamente importante. Os estímulos que uma criança recebe nos primeiros anos de vida definem seu sucesso escolar.Segundo Werneck, (2004 p. 39) “Ninguém melhor que o professor, que se encontra com os alunos muitas vezes na semana, para detectar suas necessidades e angústias. O professor participa de uma troca de conhecimentos entre seres humanos em construção.”.De acordo com Visca (1991), não se pode mascarar a dificuldade de aprendizagem, ela precisa ser vista com olhar cuidadoso, propondo encaminhamentos necessários a fim de que o indivíduo aprenda a superar os obstáculos ou aprenda a lidar com a dificuldade, partindo da ideia de um sujeito que aprende. Ignorar o problema do aluno no 1º, 2º ou 3º ano, não é a solução, é necessário “tratar”. Quanto mais tempo se passa, mais sedimentado fica, carregado de sofrimento emocional, com menores chances de resgate da autoestima e do aprender efetivo. Com o passar do tempo, o ambiente confirma o fracasso através dos risos dos colegas e impaciência docente. Além disso, na adolescência, a sociedade passa a exigir mais desse indivíduo e comentários como: “nossa você deste tamanho, não sabe ler?”, “Não tem vergonha de não saber escrever o próprio nome?”, “Você não terá um bom emprego!” pioram o quadro. Neste caso, como temos visto na rotina de escolas públicas estaduais do Ensino Fundamental II, o aluno que é estigmatizado como o “burro” da turma passa a ser altamente agressivo ou retraído demais.Outro fator que engloba a questão do “não aprender” neste caso é a retenção, que não é a melhor solução. O aluno não precisa começar tudo de novo para “aprender melhor”, mas ser ajudado em suas dificuldades específicas. Este pensamento está de acordo com Ferreiro, e Teberosky, A, (1992) que “quando uma criança fracassa na aprendizagem e a escola lhe oferece uma segunda oportunidade, em muitos casos, está obrigando a criança a repetir seu fracasso”.Partindo desse pressuposto, entende-se que o aluno não deve pagar por eventuais deficiências do sistema de ensino, principalmente quando este priva o aluno de um atendimento adequado. “Fatores externos da vida do aluno também influenciam seu desempenho escolar, mas a competência ou incompetência do aluno resulta em última instancia, da incompetência ou competência da escola.” (Ferreiro, e Teberosky, A, 1992. p. 18).METODOLOGIAPara atingir os objetivos desta pesquisa foram realizadas as seguintes etapas: entrevista com 1) aluno em estudo (sobre o que pensa sobre a escola e história escolar); 2) anamnese com a mãe; 3) três professores do aluno e com a equipe gestora sobre seu comportamento cognitivo e social; 4) diretor do Ensino Fundamental I; 5) três colegas da sala 6) trabalho desenvolvido pelos Bolsistas do Programa de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID), quatro dias por semana; 7) atividades adaptadas do Caderno do Aluno de Língua Portuguesa (volume 1 e 2) 8) encaminhamento para um profissional da saúde (pediatra) e 9) análise de dados.Através da pesquisa qualitativa com questionários mistos, perguntas abertas e fechadas, exclusivamente relacionadas à aprendizagem e desenvolvimento social do aluno. Ademais, optou-se pela utilização do método descritivo indireto com a intenção de videnciar dados relevantes para a pesquisa.RESULTADOSDurante todo o desenvolvimento deste estudo, deparou-se com alguns fatores que foram bloqueadores para o desenvolvimento positivo da pesquisa: a crueldade do sistema autoritário de avaliar para classificar e com isso atinge violentamente um dos pontos mais delicados do sujeito, a autoestima. Sendo o mesmo taxado de incapacitado e deficiente para prosseguir nos estudos, sente-se infeliz, com sentimento de inferioridade e desânimo. Além disso, deparou-se com a insensibilidade de alguns professores; a falta de compromisso político com a profissão; a superlotação das salas de aula, um currículo a ser cumprido e é exigido pela escola; a falta de apoio da direção e principalmente da família para lidar com o aluno em estudo; as suspenções que o aluno recebe por indisciplina; violência com os colegas e xingamentos impossibilita-o de aprender. Enfim, inúmeras questões ocorreram até o presente momento para que o aluno progredisse em seu processo de ensino aprendizagem e fosse alfabetizado. A maior dificuldade encontrada durante esse estudo de caso foi às realizações das adaptações do currículo ao aluno, cabe esclarecer que as adaptações fizeram parte do projeto realizado pelos Bolsistas do PIBID - Intervenções Pedagógicas no Processo de Ensino Aprendizagem com Alunos do Ensino Fundamental II. O aluno recusava-se em realizar as mesmas justamente pornão saber ler, vale ressaltar que no contexto em que ele estava inserido, a alternativa mais indicada para se trabalhar a alfabetização do aluno foi através das adaptações curriculares. Observa-se que quando o mesmo realizava algumas atividades, vez ou outra, solicitava ajuda e/ou demonstrava interesse no que lhe era proposto. Vejamos:Na figura 1, foi solicitado que o aluno escrevesse algo de engraçado que já havia acontecido com ele na escola. Após isso, ele deveria desenhar o ocorrido e em seguida escrever um relato pessoal. Atividades como essa somente são possíveis de serem realizadas com a intervenção pedagógica. Em alguns momentos, palavras com silabas complexas foi preciso soletração, pois nestes casos, o aluno não associava a letra ao som.Necessita de intervenção pedagógica tanto na leitura, quanto na escrita. Percebe-se pelo recorte do texto na figura 2, que o aluno faz junções das silabas para compreender o que está lendo. Silabas simples são lidas facilmente por ele, porém sílabas complexas e palavras com mais de cinco letras, somente com intervenção.As figuras 1 e 2 são arquivos pessoais.Figura 1- Produção de texto com auxílio de um Bolsista PIBID.Figura 2- Leitura e interpretação de texto com auxílio de um Bolsista PIBID.Na entrevista realizada com a coordenadora pedagógica do Ensino Fundamental II, pode-se observar que os procedimentos adotados para o processo de ensino aprendizagem do aluno se deu por adaptações curriculares feitas apenas por alguns professores durante os últimos quatro anos. Neste ano, somente a professora de Língua Portuguesa realizou as adaptações. Além disso, o aluno é encaminhado todos os anos desde que começou a frequentar escola atual para um psicólogo, mas, segundo a coordenadora, o mesmo ainda não conseguiu ser atendido. Para a coordenadora, o aluno não apresenta condições cognitivas de prosseguir para o sétimo ano e que provavelmente será retido novamente.Partindo desse pressuposto, sabemos que quando um aluno é reprovado, é taxado de incapacitado o que afeta bastante sua autoestima de forma negativa. Estudos já comprovaram que a repetência não leva o aluno a uma aprendizagem melhor no ano seguinte, isto é, repetência não é sinônimo de melhoria na aprendizagem e bom desempenho nos anos seguintes. Segundo Marcel Crahay (2007, p. 185) “O balanço das pesquisas disponíveis sobre os efeitos da repetência não tem ambiguidade: em regra geral, os alunos fracos que repetem progridem menos que os alunos fracos que são promovidos.”.Foram entrevistadas duas ex-diretoras A e B, do Ensino Fundamental I. Uma delas relatou que apesar de ter tido pouco contado com o aluno, percebeu o quão dificultoso era seu processo de aprendizagem, pois o mesmo aprendia e desaprendia sistematicamente. A diretoraA, relatou: “Eu me lembro perfeitamente do aluno, residente da zona rural vinha para a escola todos os dias em condições bem precárias. A família, apesar de muito humilde era bem presente na vida escolar do aluno, porém eu e minha equipe gestora da época não tínhamos mais o que fazer por ele, pois assumi o cargo da direção logo no final do terceiro bimestre.”. Já a diretora B, acompanhou o aluno por três anos e disse que nenhum trabalho diferenciado era desenvolvido com ele. “Apesar da aprendizagem e a socialização do aluno ser muito comprometida, não se desenvolvia nenhum trabalho pedagógico para a recuperação paralela do mesmo. As orientações passadas ao professor polivalente, de Arte, Educação Física e inspetores era em relação à agressividade do aluno e o cuidado que deviam ter para que ele não agredisse os colegas menores.”. Ainda complementando, no ano de 2007 a diretora B, que na época era estudante de Pós-graduação em Psicopedagogia, realizou um estudo de caso com o aluno com mais duas pedagogas. A principal queixa para o encaminhamento do aluno, tanto na visão da família, como da escola foi o fato de ele ser muito nervoso, retraído e agressivo. Durante este período a diretora B, frequentava a APAE (Associação de Pais e Amigos Excepcionais), na cidade de Marília- SP, onde o mesmo recebia AEE (Atendimento Educacional Especializado). “Através do eletro feito no período de atendimento foi constatado que o mesmo possuía idade cronológica atrasada em quatros anos com relação a sua idade biológica.”. Relatou a ex-diretora B.Ainda em 2011, o aluno começou frequentar a APAE da cidade de Adamantina- SP, onde foi constatado que possuía transtorno de aprendizagem, sendo solicitado pelo médico uma metodologia diferenciada e o uso de medicação.Na entrevista de anamnese realizada com a mãe constatou-se que o aluno foi criado pela avó materna desde pequeno. “Ele ama essa avó, é Deus no céu e ela na Terra (risos) [...] Na escola, como dava muito trabalho aos professores, ela ficava com ele dentro da sala de aula, das 12h30 min até as 17h00min [...] depois mudou-se pra Rondônia e ele foi junto [...] estou com a guarda dele desde o ano passado.” A mãe reconhece a dificuldade do filho e desabafa: “Esse ano ele deu muito trabalho na escola, eu ia a escola quase toda semana para resolver problema que ele causava lá [...] então eu fui ao promotor, falei com o juiz para tirar ele da escola, mas eles falaram que não podia [...] todo dia é uma luta para ele ir a escola, ele fala que não quer ir e que não gosta de estudar [...] ano que vem não vou mandar ele, não aprende nadamesmo né? Para que eu vou mandar? Para passar por tudo isso de novo?” Quando questionada sobre o acompanhamento que o aluno deve ter com psicólogo e uso de remédio continuo, indaga: “de que adianta ir nesses médicos? Não resolve nada não [...] ele toma remédio (ritalina) todo dia de manhã que eu dou para ele, mas até agora não vi melhora nenhuma [...]”Os resultados das entrevistas apresentados pelos colegas C, D e E em suma foram parcialmente parecidos. Quanto ao relacionamento interpessoal, os colegas entrevistados C e D, relataram que o mesmo somente se relaciona bem com a sala quando está interessado em algo. Já o aluno E relatou que sua interação com os demais colegas é ruim e que relaciona-se bem apenas com os alunos repetentes.Os professores entrevistados, PR1, PR2 e PR3 do Ensino Fundamental II relataram que o trabalho com o aluno tem sido árduo, o PR1 percebeu a dificuldade do aluno desde a primeira vez que obteve contado com ele, há mais de três anos e desde então propõe adaptações curriculares, porém o mesmo se recusa sistematicamente a realizar as atividades que lhe são propostas. O PR2 começou dar aula para o aluno neste ano, relatou ter percebido a dificuldade de aprendizagem e principalmente de socialização logo nas primeiras aulas. O mesmo disse que procurou ajuda da coordenação pedagógica da escola, mas não obteve sucesso. “Quando vi que a aprendizagem do aluno estava bem comprometida comuniquei a coordenação da escola, mas infelizmente, muito pouco se envolveu. As orientações passadas foram para que se registrasse tudo que o aluno fizesse ou não na matéria em que leciono.”.PR3 leciona para o aluno em estudo desde 2016 e diz que se sente muito preocupado com a aprendizagem do aluno “Quando vi a situação de aprendizagem do aluno, procurei focar meus esforços na investigação da real dificuldade que ele apresentava [...] [...] neste ano realizamos um projeto de Adaptação Curricular, em que as atividades, objetivos e procedimentos metodológicos utilizados para a sala foram adaptados para o aluno [...]. Para o professor, o aluno melhorou muito a relação interpessoal. “Podemos perceber um avanço positivo, pois ele fica mais tempo dentro da sala de aula...” “Antes isso não era possível, até a agressividade melhorou muito, já que não são em todas as aulas que ele bate nos colegas, ou demonstra ira contra os professores.”. Seria necessário que um trabalho multidisciplinar tivesse sido feito para este aluno. Apesar da dificuldade, PR3, sente-se feliz com avanços do aluno “pormenores que pareçam hoje, daqui alguns anos espero ver frutos positivos da educação na vida desde aluno.”.Na entrevista realizada com o aluno percebeu-se o quanto ele considera a escola um lugar monótono e chato. Além disso, seu relacionamento com colegas, professores e equipe gestora é, segundo ele, muito ruim. “Toda hora eles (professores) me mandam sair da sala.” “Eu bato mesmo, xingo mesmo.”, foram frases usadas pelo aluno enquanto algumas perguntas eram feitas. Para o aluno, a escola é um lugar que vai por obrigação e se sente solitário, entediado e incomodado. “Minha mãe me manda vir para escola, eu gosto de ficar em casa, mas ela me obriga vir”. “Então eu bato em todo mundo para ganhar suspensão e não precisar vir aqui.” Apesar de tudo, reconhece a ajuda que obteve dos Bolsistas do PIBID. “Às vezes eu gosto de receber ajuda, mas eu não gosto de estudar, as atividades são chatas e eu não consigo ler”. “Ler é muito difícil.”, relatou o aluno.Diante das entrevistas percebe-se a dificuldade do processo de escolarização do aluno. Crianças que apresentam dificuldade de aprendizagem, muitas vezes, se encontram inibidas do direito de aprender. Este pensamento está de acordo com Souza (1995), que discute o processo de construção e aquisição do conhecimento.É possível constatar que por muitos anos o aluno está dentro da escola, mas não recebe o devido apoio intelectual. Conforme o artigo 3° da Lei N° 9.394/96, “o ensino deve ser ministrado nos princípios de igualdade de condições para o acesso e permanência na escola, garantia de padrão de qualidade”. Partindo desse pressuposto, a qualidade da educação oferecida a esse aluno encontra-se equivocada quanto ao que se deve oferecer para que a aprendizagem aconteça.Qualidade e quantidade são conceitos distintos, porém complementares. Observando minuciosamente cada questionário, não foi possível acessar quais critérios a escola nos anos iniciais utilizou para conduzir a aprendizagem deste aluno. Sabe-se que a mesma escola reconheceu a dificuldade do aluno, entretanto, o considerou, apesar de suas dificuldades, apto para avançar para o Ensino Fundamental II. Já na escola dos anos finais da escolarização, o aluno tem demonstrado graves problemas de indisciplina e analfabetismo, cena esta que se repete ano a ano, e nenhuma solução cabível para este caso estão previstas.CONCLUSÃOConforme os dados obtidos nesta pesquisa, conclui-se que foi dada maior importância para o que deveria ser aplicado ao aluno como quantidade de conteúdos em controversa com o que estava sendo aprendido significativamente por ele. Essa temática envolve um todo: família, professores e gestores. Mais um ano se passou, o trabalho foi árduo e o mesmo processo é enfrentado pelo aluno novamente.Existe aprendizagem sem ensino, mas não pode haver ensino sem aprendizagem. O aluno precisaria antes de tudo, ter sido “socorrido” em seus anos iniciais de escolarização, o que se tenta realizar agora, é a minimização do problema.Com relação ao ensino, percebeu-se o quão difícil é para o professor do Ensino Fundamental II trabalhar com os alunos que chegam do Ensino Fundamental I com pouca base da alfabetização. É precário o apoio da escola e a desunião entre os professores dificulta ainda mais esse processo. Muitas crianças não aprendem por falta de ensino adequado, por questões metodológicas e até mesmo por falta de incentivo e interesse. Isso acarreta a uma grande quantidade de analfabetos e semianalfabetos hoje no Brasil, levando em consideração que a educação, em alguns casos, foi colocada em segundo plano, sendo caracterizada como algo pouco importante.Na maioria dos casos é comum ouvir “esse menino não aprende”, “ele não tem jeito, já tentei de tudo, mas ele não aprende”.O aluno aqui apresentado não encaixa no padrão de desenvolvimento considerado “normal” e almejado pela grande maioria dos professores, sendo este critério inadequado para o desenvolvimento do aluno.O desafio de todo educador é descobrir a forma como cada sujeito aprende e respeitar o tempo demandado por ele para a formulação e ampliação do seu próprio conhecimento.Diante disso, é preciso ressaltar que a aprendizagem é uma capacidade inerente e reflexiva de todo sujeito e em toda tentativa de aprendizagem, mesmo que esta pareça fracassada resultará sempre em uma aprendizagem.O estudo de caso aqui apresentado evidenciou de forma clara que as supostas dificuldades de aprendizagem, muitas vezes, são desencadeadas na própria escola e reforçadas pela mesma, resultando na rotulação do educando como alguém incapaz de aprender.Sendo assim, esta pesquisa não fecha este assunto, outrossim abre portas para estudos futuros, pois uma segunda intervenção seria interessante, mas desta vez voltada para a equipe escolar com o objetivo de repensar as práticas educativas da instituição, propondo novas reflexões e novos caminhos.

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