Orientação de Bolsistas de Iniciação à Docência no Contexto da Recuperação Contínua e Progressão Continuada
Resumo
RESUMOO artigo foi escrito a partir de orientações dadas aos bolsistas de iniciação à docência no projeto Intervenções Pedagógica no contexto da Recuperação contínua realizado na EE. Pércio Gomes Gonzales, Flórida Paulista, SP. Cada vez mais a escola torna-se incapaz de realizar a sua primeira função, a de ensinar a todos os alunos. De posse dos dados da Avaliação da Aprendizagem em Processo (AAP), uma avaliação que tem a intenção de diagnosticar para propor intervenções pedagógicas do Governo do Estado de São Paulo aplicada no início de cada ano, analisa-se e verifica-se a necessidade de se propor intervenções pontuais. O desafio é o de oferecer um ensino de qualidade, sem repetência ou evasão. Com o intuito de aguçar nos bolsistas do PIBID o prazer pelo educar, enquanto nos educandos o desejo de refletir e interagir para tornarem-se autores de sua aprendizagem. Além disso, objetivou-se a recuperação dos alunos que estão abaixo do básico, segundo a avaliação do SARESP (Sistema de Avaliação e Rendimento Escolar do Estado de São Paulo). Diante disso, foi feito um projeto que colaborasse com a formação dos acadêmicos graduandos de Pedagogia e ao mesmo tempo fosse útil aos alunos da escola.Palavras-chave: docente; avaliação; intervenção; registro; aprendizagem.ABSTRACTThis article was written from guidance given to the teaching initiation scholarship in Educational Interventions project in the context of the ongoing recovery held in EE. Pércio Gomes Gonzales, Florida Paulista, SP. Increasingly, the school becomes unable to perform its primary function, to teach all students. Having the process Learning Assessment data (AAP), which is an assessment that is intended to diagnose to propose pedagogical interventions of the São Paulo State Government applied at the beginning of each year, is analyzed and is found to need to propose specific interventions. The challenge is to provide1 Especialista, bolsista supervisor, Pedagogia/E.E. Dr. Pércio Gomes Gonzales - UNIFAI Centro Universitário de Adamantina.2 Graduanda, bolsista de iniciação à docência, Pedagogia/E.E. Dr. Pércio Gomes Gonzales - UNIFAI Centro Universitário de Adamantina.quality education without repetition or dropout. In order to sharpen the fellows PIBID please by educating while in students the desire to reflect and interact to become authors of their learning. Also it aimed to the recovery of students who are below basic, according to the assessment of SARESP (System Evaluation and Performance School of the São Paulo State). Therefore, a project to collaborate with the training of undergraduate academic pedagogy and at the same time be useful to school students was made.Keywords: Teacher. Evaluation. Intervention. Record. Learning.INTRODUÇÃOO PIBID é um Programa do Ministério da educação, gerenciado pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), cujo objetivo é incentivar a formação de professores para a educação básica e a elevação da qualidade da escola pública. (PIBID, 2014)Sendo um programa de iniciação a docência, os participantes são alunos dos cursos de licenciatura que, inseridos no cotidiano de escolas da rede pública, planejam a participam de experiências metodológicas, tecnológicas e práticas docentes de caráter inovador e interdisciplinar, e que buscam a superação de problemas identificados no processo de ensino aprendizagem. (PIBID, 2014)Hoje em dia é grande a insatisfação de professores do Ensino Fundamental II com relação ao nível de aprendizagem dos alunos. Há que se refletir quanto às possíveis causas deste infortúnio no dia a dia dos protagonistas da educação brasileira, professores e alunos. A proposta é investigar este tema tão polêmico e comentado inclusive nos jornais televisivos, documentários, entrevistas e tantos outros veículos de comunicação, pois esta situação leva a reflexão e ao hipotético questionamento: será que práticas de leitura e escrita não foram proporcionadas a estes alunos? Ou eles precisam ser atendidos em suas peculiaridades e necessidades de aprendizagem de maneira a participarem de ações pedagógicas ajustadas e individualizadas?Escolheu-se ficar com a segunda hipótese, que, sem pretensão, utilizou-se como norte para a rota de ensinar todos os alunos, principalmente os que ainda não foram alfabetizados na idade certa.Entende-se que a participação docente é pedra fundamental no processo de ensino- aprendizagem. Portanto, debruçaram-se todos os esforços para auxiliar os bolsistas na construção da prática pedagógica, pois se acredita que profissionais bem formados farão a diferença em sala de aula.REFERENCIAL TEÓRICOAs questões abaixo foram norteadoras do processo em que o bolsista questionava-se em relação ao aluno: “como foi a sua vida até este momento? Como se deu sua escolarização? Como estuda na escola e fora dela? De que tempos e recursos dispõe para isso? Quais seus maiores interesses? Projetos? Amigos? O que pensam da escola e dos professores?” (HOFFMAN, 2013, p. 54). O bolsista ao tentar responder estas questões pôde estabelecer vínculos significativos com os alunos, de maneira a atendê-los em suas particularidades sem deixar para depois.As etapas que impulsionaram a prática foi a mesma mencionada por Madalena Freire (2014), e que se acredita serem necessárias no processo de recuperação: intervir, encaminhar e devolver. Para intervir é importante ter claro qual o ponto a ser abordado dentro do conteúdo, pois é a partir do que foi delimitado que os questionamentos devem ser feitos para alcançar o alvo de ensinar a todos sem deixar ninguém para trás. As intervenções propiciam uma base para uma aprendizagem significativa.É no exercício de perguntar-se para intervir que o grupo docente tem estruturado o aprendizado, pois com este movimento constata-se o que se sabe, bem como o tanto que se sabe e o que ainda não se conhece. A partir disso, é feito os encaminhamentos preparando para a devolutiva aos alunos, que ao findar iniciam-se em novas intervenções. Não se pode esquecer que o planejamento parte da avaliação e para intervir é preciso avaliar antes.Hoffman (2013 p.102) ressalta que o professor assume o papel de pesquisador. Observou-se duas concepções, a classificatória e a mediadora, na primeira o questionamento é para ver se o aluno aprendeu, na segunda o questionamento é para saber o que o aluno ainda não sabe, de que jeito ele sabe fazer. Cada sujeito tem o direito de sair do anonimato e ser visto como ser que tem particularidades especiais. Sendo esta a melhor forma de romper com o paradigma do não aprender.Por muito tempo e ainda hoje existe a ideia de que recuperar é sinônimo de repetir, retomar, ou seja, ensinar novamente, fazendo isto de forma coletiva, tratando alunos diferentes como iguais.Os professores muitas vezes têm seu foco no conteúdo curricular, e nas atividades pedagógicas, em vez de estarem focados na aprendizagem. O acompanhamento aos alunos deve partir do desejo de compreender para ajudá-los, não para aprová-los ou reprová-los. Perrenoud (2000) (apud Hoffman, 2013 p. 79), afirma que as ações pedagógicas são sempre uniformes e padronizadas e não dão conta de atender de maneira pontual as necessidades individuais.Recuperar é incluir, investigar o que ainda não foi compreendido, o que ainda não foi produzido e o que necessita de maior atenção e orientação. Ao observa-se como é feita a recuperação de alunos em escolas públicas, percebe-se que neste momento o aluno é tido como “todos”, ou seja, não são atendidos em suas necessidades individuais, pois assistem às mesmas aulas de recuperação, independente de suas dificuldades. São vistos como carentes das mesmas mazelas. Isto não tem consistência, pois segundo Vygotisky, é na relação entre os pares que os indivíduos aprendem, e quanto mais variedade de trocas entre eles, mais espaço para aprender. Acrescenta-se aqui a formação de grupos produtivos para que a recuperação seja mais efetiva. Os grupos produtivos são estratégias que devem ser usadas pelos professores para causar o conflito cognitivo e promover o debate e o compartilhamento de saberes.Na literatura encontram-se autores que rindo criticavam-se os costumes, (FREIRE, 2014 p.29) diz que o educador do século XXI precisar estar em constante formação e instrumentalização da “sua capacidade de brincar com as situações de aprendizagem”, bem como “rir de seus erros, ajudando os outros a fazerem o mesmo”. No dia a dia do seu fazer pedagógico e no exercício da reflexão sobre a prática é importante conseguir rir e brincar com os erros, de maneira a permitir que os outros se aproximem sem que o autoritarismo atrapalhe. Desta forma, faz-se um convite aos outros para rirem e contribuírem para a construção de um saber colaborativo. A autora diz que quando o autoritarismo impera educamos para a falência do desejo e da criação. Sendo assim, produzimos um sentimento de tristeza e medo. O contrário disto, a alegria e os desejos de viver exige muito esforço, porque emergem do conflito, do caos do processo de criação das diferenças de pensar, mas tudo isso torna-se saudável, pois “um sonho que se sonha sozinho , é só um sonho: um sonho que se sonha junto, é realidade”.Cabe citar que discutir e refletir antes, durante e depois de cada ação, seja ela sequencia didática, ou aula a aula, são necessários para a construção do fazer pedagógico.METODOLOGIAA base desta reflexão está nos preceitos disponibilizados pela educadora e escritora, Jussara Hoffman, que nos presenteou gastando parte de sua história com o tema avaliação, e também nos estudos de Madalena Freire. Para atender os objetivos da pesquisa, realizou-se uma pesquisa bibliográfica, com intuito de ampliar e partilhar os materiais já disponíveis para consulta. Segundo Lakatos e Marconi (1987), este tipo de pesquisa diz respeito a um arrolamento de documentos acadêmicos já publicados. Desta forma, o pesquisador se depara com o conteúdo existente sobre o assunto a ser pesquisado. Desta forma encontrou-se a fundamentação teórica para se escrever o projeto relatado neste artigo.A metodologia adotada durante o projeto junto aos bolsistas foi o acompanhamento individualizado dos alunos pelos bolsistas, e supervisionados pela professora regente de classe, cujos bolsistas registraram todo o processo em portfólios.Para atingir os alvos pré-estabelecidos fez-se uma análise dos rendimentos dos alunos na AAP, separou-se um aluno para cada bolsista, a fim de que este fizesse o acompanhamento diário sob a supervisão da professora da classe. Para cada atividade de intervenção o bolsista deveria fazer um plano de aula para ser apreciado pela Supervisora e em um momento posterior aplicado ao aluno. O professor Supervisor e os bolsistas trabalharam como mediadores das experiências de aprendizagem.As atividades propostas foram de reescrita textual, reflexão sobre a escrita, leitura, relato oral de histórias e produção textual a partir de situações reais. Os bolsistas frente a estas situações são levados a refletirem sobre a aprendizagem e a avaliação. São eles, professor Supervisor e bolsistas que devem refletir mais que o aluno na concepção mediadora, que investiga e aplicar-se em sala de aula. O avaliar sempre deve ser visto como “ver, refletir e agir” em benefício do educando.RESULTADOSO projeto até aqui tem surtido bons resultados, tanto para os bolsistas quanto para os alunos, pois se percebe a melhoria da autoestima dos alunos que estão recebendo o atendimento individualizado e o aprimoramento dos bolsistas.Durante a primeira etapa do projeto a avaliação foi vista a partir das reflexões de Hoffman (2013 p.18) como um pilar que precisa ser refletido, pois este processo é complexo, além do mais, no país têm-se agravantes, a reprovação e a evasão. Os prejuízos recaem sobre os mais fracos, as crianças e os jovens, que não percebem, ou sequer lutam contra o descaso dos governantes pela educação. Infelizmente “todos” são realmente “todos”, pois com tantos “Joões e Marias”, os indivíduos permanecem no anonimato, sem sequer ter um acompanhamento de aprendizagem individualizado. Acredita-se em uma aprendizagemefetiva, que garanta o direito de cada aluno ser único, com seu nome, idade e personalidade. Diante disto, perceber suas diferenças e maneiras de aprender a apreender o mundo, é crucial.O percurso do processo foi importante que os alunos perceberam-se aprendendo, portanto coube ao professor supervisor e aos bolsistas propiciarem momentos e espaços para que isto ocorresse, de maneira a monitorarem o progresso e ao mesmo tempo encorajarem a colaboração e autonomia.Com a participação dos bolsistas na escola procurou-se transmitir a eles que ter uma rotina dentro da prática pedagógica é essencial, pois esta é constituída pelos limites. Cada educador é regido pelo seu jeito particular de estruturar os limites, o tempo e o espaço, pois quando se foge destes princípios é estar fadados à indisciplina, pois esta aprisiona e engole roubando a liberdade.Neste trabalho enfocou-se a avaliação, a observação, o planejamento e o registro reflexivo como braços fortes para minimizar os problemas de aprendizagem. Além disso, foram e são auxiliares na construção da gestão e disciplina intelectual. Cabe dizer que ficar quieto, apenas, também é indisciplina, às vezes o estar quieto é cômodo para quem faz a gestão da sala, mas é inimigo da aprendizagem.“Todo grupo depende de uma autoridade para a construção do seu exercício democrático” Freire (2014 p.113). Somente com os papéis definidos é possível que o educador exerça o papel de mediador que questiona, estimula, acompanha de maneira a intervir, encaminhar e devolver. Neste processo a aprendizagem é prioridade.Os bolsistas durante as atividades práticas em sala de aula depararam-se com a gestão da sala de aula que deve ser prevista pelo professor de maneira a preservar a garantir a aprendizagem. Aprende-se com Hoffmam (2013, p. 59) que o olhar do docente precisa ser sensível e estar atento para o que o aluno sabe e a partir da avaliação propor intervenções. Além disso, concorda-se com Madalena Freire (2014, p.88) que aponta a necessidade da intervenção, encaminhamento e a necessidade de se fazer a devolutiva ao discente para que ele perceba-se aprendendo.Aprende-se a partir do que se tem de experiência, ou seja, só retemos o que tem sentido e significado. Diante disso, o educador precisa acompanhar e ser acompanhado no processo de ensino e aprendizagem, pois enquanto se ensina também se aprende. Portanto, “fazer ciência exige exercício metodológico sistematizado, rigoroso, de observar, refletir, avaliar e planejar. São estes que alicerçam sua pesquisa, luta cotidiana, permanente”. (FREIRE, 2014 p.56)O registro é uma ação que precisa vir para ficar na rotina diária do professor, porque é por meio dele que a reflexão torna-se efetiva, a primeiro momento causa dor, desconforto, porém os frutos são dóceis. Professor reflexivo gera alunos reflexivos, porque entendem a importância do pensar sobre o fazer. Logo, professor motivado que sabe aonde quer chegar contagia seus discípulos.Durante o desenvolvimento do projeto procurou-se demonstrar aos bolsistas que a teoria muitas vezes precede a prática, mas também não há teoria que não tenha passado pela prática. Portanto, a reflexão conduz a ação transformadora em todos os envolvidos no processo de ensino e aprendizagem. Como recurso, tem-se o registro escrito para materializar e concretizar o pensamento, de maneira a revisitar o passado para construir o presente. É através do registro que se vai tecendo a história do processo de aprendizagem dos indivíduos, aprender registrando é um poderoso instrumento na construção da consciência pedagógica e política do educador, Freire (2014, p 56). Ao escrever também se reflete, pois cria-se hipóteses e somos obriga-se a exercitar operações mentais que ajudam a construir o pensamento. Com a escrita de observações evita-se a preguiça do pensamento. Sabe-se que esta ação não é fácil, e às vezes provoca até, como diz Freire (2014, p. 57|), medo, dores e pesadelos. Querendo ou não a escrita compromete mais, porém provoca o distanciamento saudável entre o produto e o produtor e neste ínterim tem-se a reflexão transformadora. Sem contar que com a escrita em um fazer solitário, retira-se da agitação do cotidiano paralisante para a sedimentação do pensamento.O registro ajuda o educador a não ser um mero repetidor de modismos pedagógicos, pois quem se aliena do pensamento tona-se apenas copiador da teoria de outro. Por outro lado, o pensar, o escrever e o refletir é exercitado, ou seja, pensa-se. Logo, mudanças são feitas e isso não pode parar aí, vai-se para um segundo momento de socialização das reflexões feitas para a comunidade escolar. Neste contexto julga-se o registro em portfólios uma prática que surte resultados fascinantes para acadêmicos e alunos.CONCLUSÃOSendo assim, entendem-se a importância de projetos para a formação dos acadêmicos de pedagogia, visto que o contato com as situações reais são experiências e objetos de aprendizagem de grande valor quando se está atuando em sala de aula ou se pretende fazer parte dela.Com base nos resultados e observações durante a pesquisa percebe-se que o fazer pedagógico, como disse Fernando Pessoa “poesia é mais transpiração que inspiração”. Sendo assim, com esta analogia fica evidente que a construção da prática depende do esforço intelectual do docente. O que evidencia que as ações do PIBID dentro das escolhas, a princípio foi uma ação paliativa para a resolução dos problemas apresentados neste artigo quanto aos problemas de aprendizagem, mas que a longo prazo poderá tornar-se um braço forte para a melhoria da qualidade do ensino brasileiro.Cada dia mais se torna necessário aproximar a teoria da prática, pois no exercício diário da prática docente exigem-se nos mais variados momentos o domínio da teoria por trás de cada atividade proposta aos discentes, seja na hora de uma sondagem (Psicogênese), brincar de amarelinha (fases de desenvolvimento de Piaget) entre outros. Pois no processo de aprendizagem precisa-se ter claro onde o aluno se encontra, qual será o melhor caminho a percorrer e onde se espera que ele chegue, e isto só será possível com uma prática alicerçada no conhecimento teórico.
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