ANÁLISE INSTITUCIONAL: EM BUSCA DO INSTITUINTE EM UMA ESCOLA PÚBLICA
Resumo
A Análise Institucional tem como objetivo tornar a palavra social audível, possibilitando que os sujeitos realizem autoanálise e autogestão. Para tanto, uma escola estadual de Santa Cruz do Sul foi constituída como nosso campo de intervenção, enquanto o campo de análise caracteriza-se como a Educação Pública Brasileira. Partindo do pressuposto de que a escola é materializada por condições histórico-culturais, constituindo-se diariamente numa rede em que estão implicadas condições sociais, interesses individuais e de grupos, sendo atravessada por gestores, pelo bairro, por interesses do Estado, faz-se relevante o estudo de relações instituídas e processos instituintes. Assim, nosso objetivo foi conhecer o funcionamento de uma escola estadual, compreendendo as relações que lá ocorrem e seus atravessamentos. Ademais, realizar reflexões e problematizações acerca deste contexto educacional. Para a realização da Análise foram feitas nove visitas à instituição durante dois meses. Tivemos a oportunidade de conversar com profissionais, assistir a duas reuniões e a um evento comemorativo, bem como pesquisamos materiais disponibilizados pela escola. Ao longo do processo, chamou-nos atenção a semelhança da estrutura física da Escola com as instituições disciplinares descritas por Foucault. Essa semelhança remete as instituições escolares à matriz epistemológica que as vincula, historicamente, às práticas disciplinares, instrumentalizadas por meio da vigilância e punição. No caso estudado, a sala da direção encontra-se na parte central do prédio e a sala da supervisão localiza-se de forma a possibilitar uma visão ampliada sobre os corpos. Essas visões privilegiadas remetem ao panóptico, que significa que enquanto uns são vistos e nunca veem, outros conseguem ver sem nunca serem vistos. O principal nível de lei maior que rege a escola é o Estado, sendo ele quem determina, em última instância, projetos implantados e verbas recebidas. A relação de poder e burocracia entre escola e Estado faz com que este minimize o papel dos profissionais da escola, dando-lhes pouca autonomia. Constatamos verbas desproporcionais ao aumento da demanda escolar e à inscrição, nos documentos oficiais, de professores e alunos como elementos de despesa. Outra questão importante refere-se ao estigma, considerado um processo socialmente construído de desvalorização do indivíduo, que passa a ser portador de uma identidade deteriorada. Percebemos muitos alunos que chegam à escola com laudos, sendo estigmatizados. É necessário que se criem rupturas em práticas já cristalizadas, garantindo a circulação de discursos para que as pessoas possam estar implicadas e ser responsáveis por aquilo que fazem ou dizem. É relevante notarmos que as escolas possuem seus recursos e possibilidades de subversão, o que foi evidenciado, visto que a escola realiza atividades culturais e passeios com alunos. A potencialidade é a possibilidade que alguém tem de transformar a realidade. Nesta escola os profissionais proporcionam diversas atividades, preocupando-se em valorizar os estudantes, o que revela riqueza para o espaço de aprendizagem e convivência. A partir da Análise, confirmamos alguns modos de ser da escola que já conhecíamos, através do aporte teórico. Mas, principalmente, a experiência fez com que compreendêssemos que há muito mais do que a teoria é capaz de retratar. Há o instituído, mas há também espaço para o instituinte, visto que a escola é rodeada por recursos e possibilidades.
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