RELAÇÕES DE GÊNERO, TRABALHO E APOSENTADORIA: UM DIÁLOGO NECESSÁRIO SOBRE A FAMÍLIA, O COTIDIANO, AS RELAÇÕES SOCIAIS E AS CONDIÇÕES DE VIDA NA VELHICE.

ANA MARIA BERCHT, ERIKA SCHEEREN, ROSILAINE KUNZLER, LEONIA CAPAVERDE BULLA

Resumo


No Brasil, atualmente a população idosa (60+ anos) soma 14,5 mi de pessoas com base no último Censo Demográfico (IBGE, 2010). Verifica-se que o Estado e a sociedade não estão preparados para lidar com o fenômeno do envelhecimento através de programas de atendimento eficazes e políticas sociais específicas que atendam a população idosa. Com isso, observa-se uma realidade na qual os idosos ainda não têm suas necessidades plenamente atendidas. Em uma cultura que embasa sua realidade no trabalho, no consumo, na jovialidade e na valorização do corpo, a ótica apontada para a velhice acaba sendo negativa e os idosos acabam ficando relegados ao plano da decadência física, da senilidade e da segregação, sendo considerados um "fardo" para a comunidade. A fase da velhice acaba por ficar marcada, então, pelo isolamento, a ociosidade, pelos sentimentos de inutilidade produtiva e falta de participação social. Simões (1998) traz que estes seres humanos passam a ser marginalizados e apresentam um quadro de múltiplas carências, pois não há um trabalho preventivo visando prepará-los para um melhor enfrentamento desta fase. Outro fator relevante a considerar é que a população idosa em expansão é predominantemente composta por mulheres, pois sobrevivem ao homem de oito a dez anos, conforme a região ou País (IBGE, 2010). Tal disparidade no percentual demográfico do país entre homens e mulheres idosos indica que a velhice está marcada por questões de gênero. Embora se suponha que as transformações associadas à aposentadoria sejam as mesmas para ambos os sexos, constata-se que a forma de encararem essa fase da vida é visivelmente diferente, assim como as prioridades que elegem ao aposentarem-se. O crescimento da população idosa em nível mundial desafia governos a apresentarem soluções para enfrentar esse fenômeno, mas não se elaboram projetos sobre como homens e mulheres reorganizam suas vidas pós-trabalho ou quais os efeitos da aposentadoria e como homens e mulheres lidam com essas mudanças. Justifica-se, portanto, a relevância desta pesquisa, que se vincula ao projeto de pesquisa em andamento "Relações de gênero, trabalho e aposentadoria: um diálogo necessário sobre a família, o cotidiano, as relações sociais e as condições de vida na velhice", com apoio do CNPQ (2013-2014), na busca por conhecer as experiências e significados do trabalho, da aposentadoria e da velhice numa perspectiva de gênero, através das percepções e implicações no cotidiano, na família, nas relações sociais e nas condições de vida, contribuindo na efetivação de políticas públicas a partir da identificação de demandas. Outros objetivos serão a análise, sob o ponto de vista subjetivo, social, econômico e familiar, de como os idosos resignificam suas vidas e lidam com as mudanças após o afastamento do mundo do trabalho, a análise da progressão de mudanças que vem ocorrendo na configuração demográfica brasileira e a investigação das condições de vida na velhice, quando idosos passam a contar com a Seguridade Social. Para isso se estabelecerá uma pesquisa com enfoque qualitativo, que terá como referencial teórico-epistemológico o método dialético-crítico. Os instrumentos e técnicas propostos são a entrevista semi-estruturada e a observação sistemática de 150 idosos que participam de Grupos de Terceira Idade em Porto Alegre. Para interpretação dos dados obtidos, utilizar-se-á o método de análise de conteúdo, com base em Gagneten (1987).


Apontamentos

  • Não há apontamentos.