A PRESENÇA DA METAFICCIONALIDADE NO ROMANCE "O DOENTE MOLIÈRE", DE RUBEM FONSECA

BIANCA CARDOSO BATISTA, LUANA GRASIELA SCHONARTH, EUNICE TEREZINHA PIAZZA GAI

Resumo


O presente estudo vincula-se ao projeto de pesquisa "Narrativas e conhecimento: especificidades teóricas e constituição de sentido", coordenado pela Prof.ª Dra. Eunice Terezinha Piazza Gai. O projeto tem como eixos centrais a reflexão sobre as possibilidades de relação entre narrativas literárias e conhecimento, a realização de estudos sobre a hermenêutica e a leitura, o estudo e a interpretação de narrativas literárias. Estas são selecionadas a partir da presença da metaficção e da ironia. A partir dos conceitos estudados e da leitura de várias narrativas ficcionais, é necessário realizar a escolha de uma delas para aprofundar os estudos e a interpretação. Portanto, o processo de pesquisa consiste na busca de materiais pertinentes aos eixos do projeto, no estudo dos diversos autores teóricos e na comparação destes, bem como na interpretação do texto ficcional. Com esse processo, é possível uma leitura atenta e uma profunda interpretação que permite ao bolsista desenvolver um amplo repertório literário e o capacita para a identificação de características que condizem com a pesquisa do projeto. Considerando esse processo, Rubem Fonseca foi o autor escolhido, com o romance O doente Molière, cujo título remete a uma das peças teatrais de Molière, O doente imaginário. A metaficcionalidade está acentuada tanto no título, quanto no decorrer da obra, na qual o autor não apenas cita as peças teatrais, mas coloca alguns fragmentos delas, o que salienta ainda mais a relação entre as obras. Em seu romance, o autor sugere que Molière não teria falecido em razão de uma doença qualquer, mas sim em decorrência de um homicídio provocado por envenenamento. O narrador-personagem, um amigo anônimo, era o único que tinha conhecimento de tal circunstância e, por isso, decide investigar a autoria do crime. As peças teatrais de Molière criticavam a sociedade, ironizavam as doutrinas da Igreja e desmereciam profissionais da época, razão por que consideravam-no uma pessoa hostil e, consequentemente, visada. A partir disso, o amigo-anônimo se voltou às várias peças de Molière tencionando encontrar possível responsável por sua morte. É justamente por isso que a leitura das peças teatrais se faz tão importante, visto que sem elas o leitor não conseguiria compreender a obra de forma desejável. Somente com a leitura das peças é possível perceber o quão crítico Molière era em suas criações, e como ele, realmente, poderia despertar raiva nos alvos de suas ironias. Uma leitura desatenta e superficial não se revela suficiente à compreensão da obra. Ao analisar a narrativa é possível perceber uma das peculiaridades do intertexto: ele requer um leitor perspicaz, que tenha capacidade de entender a sua complexidade intrínseca. A metaficcionalidade requer leitores mais aprofundados.


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