ENTRE MOLIÈRE E RUBEM FONSECA: PERSPECTIVAS METAFICCIONAIS

LUANA GRASIELA SCHONARTH, BIANCA CARDOSO BATISTA, EUNICE TEREZINHA PIAZZA GAI

Resumo


O presente estudo vincula-se ao projeto de pesquisa "Narrativas e conhecimento: especificidades teóricas e constituição de sentido", coordenado pela Prof.ª Dra. Eunice Terezinha Piazza Gai. Um dos eixos de desenvolvimento do projeto é o estudo de narrativas que apresentem a metaficcionalidade como aspecto constituinte e central em sua estrutura. A metaficção "é ficção sobre ficção - isto é, ficção que inclui em si mesma um comentário sobre sua própria identidade narrativa e/ou lingüística" (HUTCHEON, L. Narcissistic narrative: the metafictional paradox. 2 ed. New York: Methuen,1984). As narrativas metaficcionais exigem um leitor muito mais preparado, pois apresentam muitas referências que ultrapassam o nível da história narrada. Para compreender, é necessário realizar outras leituras, além da narrativa em si. Tendo em vista esse processo de desenvolvimento do projeto, em que é necessário optar por um autor para aprofundar os estudos, Rubem Fonseca foi o escolhido, com o romance "O doente Molière". Nesse romance, o narrador sugere que Molière não teria falecido em razão de uma doença qualquer, mas sim em decorrência de um homicídio provocado por envenenamento. O narrador-personagem, um amigo anônimo, era o único que tinha conhecimento de tal circunstância e, por isso, decide investigar a autoria do crime. As peças teatrais de Molière caracterizavam-se pela crítica à sociedade, ironização às doutrinas da Igreja e o desmerecimento dos profissionais da época, razão por que era considerado uma pessoa hostil e, consequentemente, visada. A partir disso, o amigo-anônimo se voltou às várias peças de Molière tencionando encontrar possível responsável por sua morte. Para a obra, de fato, ser compreendida, é necessário fazer também uma leitura das peças teatrais citadas por Rubem Fonseca, visto que elas auxiliam no esclarecimento dos fatos. Neste trabalho, será considerada uma das peças citadas, que se intitula "Tartufo", para estabelecer relações entre a obra original e a citação no romance brasileiro. A peça revela o quão inescrupuloso pode se tornar um indivíduo em busca de seus objetivos e dá origem a questionamentos sobre até que ponto o sujeito consegue enganar a si e aos outros. Após leitura e reflexão, torna-se evidente a relevância da leitura para a compreensão da obra de Fonseca. Ao ponderar sobre a obra, é possível perceber que, embora escrita há muito tempo, a peça ainda faz sentido e valida sua reflexão, pois mesmo nos dias de hoje existem "tartufos", pessoas dissimuladas que se valem da ingenuidade alheia para satisfazer suas ambições. Trazendo Molière como personagem e interpretando as suas obras, através da metaficção, Rubem Fonseca reapresenta esse tema, entre outros abordados nas demais comédias e comentados em "O doente Molière". Trata-se, pois, de uma narrativa policial que reativa a discussão sobre a morte do tão famoso comediante do século XVII ao lado da rediscussão a respeito dos valores humanos.


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