ESTRATÉGIAS DE SAÚDE DA FAMÍLIA: TERRITÓRIO E VÍNCULO SOB A PERSPECTIVA NÔMADE

CAROLINE DA ROSA COUTO, ALEXSANDER WITT RODRIGUES , LETÍCIA ALINE BACK, BETINA HILLESHEIM

Resumo


O presente trabalho foi desenvolvido com o objetivo de apresentar as discussões que vem sendo realizadas através da pesquisa "A saúde e a lógica da inclusão: entre o território e os nômades", na qual investigamos as formas pelas quais se constroem as noções de território e inclusão no campo da saúde a partir da experiência de uma parcela da população que é invisível às estatísticas e estratégias de saúde: os nômades. Nessa pesquisa, entendemos por nomadismo tanto o fenômeno migratório de determinados grupos quanto o deslocamento tido como uma forma de vida. Sob a perspectiva da cartografia, procedimento metodológico tal como proposto por Deleuze e Guattari, em que se visa o acompanhamento dos caminhos e processos da pesquisa, a produção de dados tem sido realizada a partir de observações participantes em equipes de Estratégias de Saúde da Família (ESF) no município de Santa Cruz do Sul - RS. Uma vez que a proposta da ESF tem como parâmetro "saúde para todos" e é embasada nas questões relativas ao território por este presumir a criação de vínculos, problematizamos as relações de pertencimento que pensam a saúde e a assistência apenas para alguns, tendo em vista que os nômades rompem/escapam a essa lógica de fixação. Nesse sentido, os pressupostos de territorialidade, inclusão e vinculação das Políticas Públicas de Saúde também podem produzir vulnerabilidades na mesma medida em que intensificam as práticas de culpabilização e responsabilização dos sujeitos, estabelecendo por meio de cadastros e divisões de município/área/microárea quem pertence ou não a cada unidade de saúde. Na articulação dos sujeitos ao espaço, o vínculo atrelado a questões geográficas se torna estanque e, assim, limita e fragmenta a própria forma como pensamos e produzimos o cuidado. Durante a observação participante, as situações que se colocam, mais do que o nomadismo "convencional" daqueles que fazem do deslocamento um modo de vida (como os ciganos), têm sido daqueles que vêem a lógica nômade como uma forma de sobrevivência e resistência, apontando as instituições de saúde, trabalho, família como marcadores e motivadores das mudanças constantes. Na medida em que as noções de territorialização e regionalização aparecem como propulsoras de acesso fácil, continuidade e acompanhamento para a promoção de saúde, o nomadismo é posto atrelado a uma ideia de risco, que a invisibilidade destes grupos pelo campo da saúde perpetua. Através dos olhares das equipes, entendemos que a naturalização das práticas articuladas ao território, que impõem a lógica sedentária faz do vínculo, além de estanque, obrigatório. Assim, entre os meus e os outros (formas pelas quais as agentes de saúde se referem aos usuários dos serviços pertencentes ou não às microáreas) da área adscrita de cada Estratégia de Saúde da Família, os nômades rasuram a lógica inclusiva das Políticas Públicas de Saúde, mostrando que essas estratégias não respondem às necessidades dessa população.


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