COMPARAÇÃO DO POTENCIAL BIOMECÂNICO DO MÚSCULO MASSETER EM INDIVÍDUOS MESOFACIAIS E BRAQUIFACIAIS

GUILHERME REGHELIN GOULART, HIURI BREDOW MARQUES, JÉSSICA FRANCINE WICHMANN, DEIVIS DE CAMPOS

Resumo


O arranjo anatômico dos músculos e ossos no corpo está diretamente relacionado ao modo como os músculos trabalham. Desse modo, os músculos trabalham junto com os ossos, formando alavancas. Todas as alavancas mecânicas e biológicas possuem três elementos: um fulcro, um braço de força e um de resistência. A mecânica de ação da alavanca é a posição relativa dos três elementos, bem como a distância entre eles. Nesse contexto, a vantagem mecânica ou potencial biomecânico de uma alavanca é expressa como a razão entre o comprimento do braço de força e o comprimento do braço de resistência. No que se refere à articulação temporomandibular, a magnitude da força de mordida depende do tamanho e comprimento do braço de força dos músculos da mandíbula, que é modificada por meio da morfologia craniofacial. Assim, os diferentes padrões craniofaciais oferecem uma diversidade na mobilidade da articulação temporomandibular. Além disso, essa variabilidade na morfologia craniofacial possibilita diferentes padrões biomecânicos na magnitude de força da mordida. Indivíduos dolicofaciais têm forças de mordida menores quando comparados com indivíduos braquifaciais ou mesofaciais. Contudo, esta diferença pode não ser totalmente explicada pela menor área de seção transversa nos músculos da mandíbula de indivíduos dolicofaciais, e sim pelo fato de que os indivíduos braquifaciais podem apresentar um melhor potencial biomecânico/vantagem mecânica na articulação temporomandibular quando comparado com indivíduos dolicofaciais ou mesofaciais. Desse modo, foi analisado o potencial biomecânico do músculo masseter (MM) em indivíduos ME e BR através de um estudo morfométrico em mandíbulas. Foram analisadas 43 mandíbulas (idade=45,5+7,1) de ambos os gêneros [ME (n=34) e BR (n=9)], a partir da coleção didática do Laboratório de Anatomia Humana da Universidade de Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil. Utilizaram-se somente mandíbulas sem qualquer deformidade ou indício de patologia óssea. A distância entre o processo condilar e a borda anterior da tuberosidade massetérica (local de inserção do MM) representou o comprimento do braço de força (CBF) do MM. A distância entre o processo condilar e a protuberância mentual representou o comprimento do braço de resistência (CBR) do MM. Assim, a vantagem mecânica do MM foi obtida pela seguinte razão: CBF/CBR e, pelo inverso dessa razão, foi obtido o trabalho muscular (CBR/CBF) do MM. Quando comparado com os indivíduos ME, os parâmetros dos indivíduos BR são significativamente maiores, como se mostra pelo CBF (5,0%) e pela vantagem mecânica (4,6%, p=0,0370). Por outro lado, no que diz respeito ao CBR e ao trabalho muscular, os nossos resultados mostraram que os indivíduos ME apresentam valores maiores, 1,9% e 6,7% (p=0,0319), respectivamente. Esses dados morfológicos indicam que a vantagem mecânica do MM em indivíduos BR é significativamente maior quando comparada com os indivíduos ME. Além disso, esta maior vantagem mecânica pode explicar, pelo menos em parte, a maior propensão a disfunções temporomandibulares nos indivíduos BR. Esse modelo de estudo pode evidenciar importantes adaptações biomecânicas com potencial clínico em diversas disfunções da articulação temporomandibular. Assim, os ortodontistas poderão elaborar um plano de tratamento específico e obter melhores resultados, especialmente nos casos de pacientes nos quais o padrão biomecânico da articulação temporomandibular é desfavorável.


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