INFÂNCIAS E EDUCAÇÃO GUARANI
Resumo
O projeto 223Infâncias e Educação Guarani224, vinculado ao grupo de pesquisa LinCE - Linguagens, Cultura e Educação, do Programa de Pós-Graduação em Educação da UNISC, estabelece interlocução entre pesquisadores, acadêmicos, aldeias Guarani e escolas indígenas para investigar a educação das crianças Guarani em duas aldeias no interior do Rio Grande do Sul 226 Estrela Velha e Salto do Jacuí. O projeto 223Dimensão poética das linguagens na educação da infância224, realizou o estudo da infância Guarani e promoveu encontros com as crianças das aldeias, a fim de registrar a interação entre a comunidade indígena e os pesquisadores não-indígenas envolvidos. O estudo tem por objetivo promover abertura a outros modos de interrogar a educação das crianças pequenas em contextos coletivos a partir da interlocução entre princípio biocêntrico, pensamento ameríndio e as fenomenologias da imaginação poética, do corpo operante no mundo e da ação narrativa. O interesse científico para a área educacional está em problematizar o modelo dominante de escolarização das crianças pequenas e avançar no processo dialógico de formação das escolas diferenciadas Guarani. A abordagem metodológica sustenta-se na etnografia e na pesquisa-ação com os índios Guarani nas duas aldeias. Os participantes da pesquisa são as crianças, os jovens Guarani, caciques e professores, bem como as diretoras e professoras não indígenas das duas escolas diferenciadas. Nos encontros ocorreram almoços coletivos, compartilhando o alimento, conversando e convivendo. Essa experiência permite reafirmar o que foi conquistado pelos pesquisadores como aprendizagem nos estudos poéticos da linguagem ao compreender valores educacionais sustentados em uma estética e uma ética dos tempos lentos, do corpo no mundo, do imagético multisensório, do poder das narrativas míticas que revelam diversos modos de ser criança. Portanto, os termos infância e criança não são sinônimos. Infância diz respeito às ideias constituídas historicamente no coletivo por cada grupo cultural e criança diz respeito ao aqui e agora, a um tempo radical na vida de cada um. A partir do encontro com os indígenas, o grupo vem estudando a implementação de escolas públicas diferenciadas, as quais provocam desconfortos nos modos de vida tradicionais Guarani. Torna-se importante, para pensar escolas diferenciadas nas aldeias Guarani, o resgate de outra escuta e outro olhar para o sentido educacional de saberes e modos de pensar ameríndios. Espiritualidade, silêncio, tempo, ludicidade e corporeidade são aspectos fundamentais a serem também respeitados e conhecidos no contexto da escola na infância. Isto supõe acolher as diferenças, pensar sua autonomia, seus símbolos, valorizar o diálogo intercultural para pensar currículos, aprendizagens, conteúdos e metodologias. Para isso, é importante considerar com Dahlberg, Moss e Pence que a infância não é natural nem universal. Existem muitas infâncias e crianças. Nessa compreensão, as crianças estão entre nós, são ativas no seu contexto comunitário, agindo no mundo em que vivem e isso significa que não somente estão incluídas, mas que vivem em relacionamento ativo com os adultos, incorporando o mundo comum no qual vivem, influenciando este mundo e constituindo significados a partir dele.
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