A POETICIDADE DOS COMEÇOS DA E NA LINGUAGEM E A EDUCAÇÃO DA INFÂNCIA

TAMIRIS ZINN, SANDRA REGINA SIMONIS RICHTER

Resumo


O projeto 223Dimensão Poética das Linguagens e Educação da Infância224, vinculado ao grupo de pesquisa LinCE - Linguagens, Cultura e Educação da UNISC, focalizou entre 2011 e 2013 o estudo da imaginação poética na educação de crianças pequenas a partir do encontro entre literatura e artes plásticas. O objetivo foi enfrentar o desafio de abordar a temática da linguagem no campo da pedagogia enquanto fenômeno que emerge da convivência entre adultos e crianças em espaços coletivos de vida para destacar a infância como o tempo radical da inserção 226 do começar-se 226 na e em linguagem. Para Agamben, a infância é a condição humana para a aprendizagem da linguagem. Para Bachelard, a imaginação poética é acontecimento de linguagem; inerente à linguagem mesma porque inseparável de sua expressão ou de sua enunciação. Para Merleau-Ponty a linguagem não se prende ao 223penso224 cartesiano, mas ao 223posso224 do corpo operante no e com o mundo. Por isso, para Larrosa, a linguagem é o horizonte de todas as coisas. Tais concepções exigiram enfrentar a experiência de linguagem como radical alteridade entre adultos e crianças. A alteridade linguageira entre adultos e crianças coloca a educação diante do desafio de pensar as infâncias: em dimensões e não em estruturas, conceitos, representações. Durante o projeto houve a reflexão e o estudo da relevância educacional de favorecer na infância modos de aprender a narrar o vivido para significá-lo no coletivo. Também ocorreu a problematização da tendência escolar de separar o corpo em diferentes linguagens ao destacar a experiência lúdica do corpo nos processos de aprender o poder inventivo do gesto de inaugurar sentidos agindo no mundo 226 falando, desenhando, cantando, escrevendo, pintando, modelando, construindo objetos 226, como modo de aprender a interpretar e valorar o vivido em narrativas. Para enfrentar a tradição de conceber a linguagem como representação de um mundo prévio, uma ilusão objetivista bem instalada, a pesquisa aproximou as fenomenologias de Bachelard (imaginação poética), de Merleau-Ponty (corpo operante) e de Ricoeur (ação narrativa) da concepção de ludicidade em Huizinga. A partir de ações educativas com crianças pequenas de uma EMEI de Santa Cruz do Sul no ateliê do Memorial da UNISC, promoveu encontros entre pesquisadores, colegas bolsistas, crianças entre quatro e cinco anos e suas professoras, os quais subsidiaram intensas experiências com a luz, a sombra, a palavra, a cor, o volume e a vocalização de poesias e histórias em sua abertura inventiva ao poder do corpo operante no instante da ação no e com o mundo. Como resultado, a pesquisa alcançou a ação educativa de planejar e realizar mediações lúdicas entre os participantes e as dimensões da linguagem através de rodas poéticas no espaço e tempo do ateliê. O termo 223poético224 remete ao termo grego poïein 226 o vigor do agir em linguagem 226 como elemento fundamental, não apenas dos fazeres, mas de tudo isto que é vida narrada enquanto ação de refazer o mundo dado: rearranjando, recontando, ficcionalizando, como poder de produção de sentido. Por isso, diz respeito à ludicidade da tensão do esforço do corpo e da alegria e divertimento da e na conquista de significados e não à respostas previamente dadas.


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