EXÍLIO: APROXIMAÇÕES ENTRE UMA EDUCAÇÃO POPULAR E CLANDESTINA
Resumo
A presente comunicação intersecciona os projetos de pesquisa "Educação Clandestina e Traição: uma história da educação dos comunistas no Brasil da Guerra Fria" e "Educação Popular e Pesquisa-Participante: respostas descoloniais no contexto de transmodernidade na América Latina". As investigações estão inseridas no campo da História da Educação e almejam compreender como determinadas redes de educação são organizadas na clandestinidade e como respondem aos paradigmas tradicionais da epistemologia, respectivamente. Nesse sentido, o objetivo principal dessa comunicação é o de, a partir da experiência de exílio (STRECK, 2010; REXHEPI, 2010) de Paulo Freire, compreender como se dá a aproximação de uma educação popular produzida na clandestinidade. Entende-se que o exílio possui um aspecto pedagógico, pois conforme escreve o próprio Freire, em uma correspondência para Frei Beto, "[...] quando, exilado, tomei distância do Brasil, comecei a compreender-me e a comprendê-lo melhor. Foi exatamente ficando longe dele, preocupado com ele, que me perguntei sobre ele." (FREIRE apud GADOTTI, 1996, p.162). Através deste excerto, podemos perceber o quanto o exílio foi importante para o crescimento pessoal e intelectual de Freire. O distanciamento e a condição de exilado também contribuíram para um processo pedagógico de transformação e autoconhecimento. "Foi tomando distância do que fiz, [...] que pude melhor compreender o que fiz", diria Freire. Os livros Educação como Prática da Liberdade (FREIRE, 1959, 1967) e Pedagogia do Oprimido (FREIRE, 1968, 1970) são as fontes utilizadas para o desenvolvimento da metodologia desse estudo que está sustentado na análise bibliográfica. O primeiro preocupa-se em discutir uma educação para uma sociedade em trânsito e estabelece a importância desse mesmo movimento sobre as consciências. Já o segundo, apresenta a necessária superação da contradição opressor-oprimido. Cabe ressaltar que ambas as obras foram publicadas na década de 1960, período em que Paulo Freire esteve na condição de exilado, no Chile. Os Círculos de Cultura, iniciados por Paulo Freire entre o final da década de 1950 e início dos anos 1960, na região nordeste do Brasil, foram experienciados em várias partes do país. Com a instauração da Ditadura Militar, esses Círculos foram postos na ilegalidade, mas muitos continuaram funcionando de forma clandestina. De acordo com o exercício crítico de análise das obras supracitadas, foi possível depreender que eles correspondiam a uma síntese dessa educação popular que, contingenciada pelas circunstâncias da clandestinidade, objetivava uma alfabetização conscientizadora para a responsabilidade social e política.
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