ROSA MARIA EGIPCÍACA DA VERA CRUZ: UMA SANTA AFRICANA EDUCADA PARA A RESISTÊNCIA NO BRASIL COLÔNIA
Resumo
Este estudo faz parte do Projeto de Pesquisa "Educação Popular e Pesquisa Ação-Participante: respostas descoloniais no contexto de transmodernidade na América Latina" e tem como tema a visibilidade que a "Santa Popular", Rosa Maria Egipcíaca da Vera Cruz (1719-1778?), foi constituindo em sua vida na colônia brasileira, já que passou de escrava, desde pequena trazida da África para o Brasil à força, à meretriz, abusada por seus donos e por outros escravos, depois à beata, se tornando visível, admirada e venerada por negros e brancos, ricos e pobres, se livrando, de certa forma, da exploração da sua força de trabalho e da exploração sexual. Como as mulheres do período colonial faziam para resistir aos domínios patriarcais? Essa é a pergunta de partida para colocar em foco a educação das mulheres nesse referido período, especialmente a de Rosa Maria Egipcíaca da Vera Cruz. Busca-se compreender essa questão, principalmente pela análise do artigo "Rosa Egipcíaca: Uma Santa Africana no Brasil Colonial" (2005), da biografia "Rosa Egipcíaca: Uma Santa Africana no Brasil" (1993), de Luiz Mott e através da obra de Heleieth Saffioti (2013), "A mulher na sociedade de classe: mito e realidade". A trajetória de vida da Egipcíaca nos faz entender que, apesar de toda a exploração e violência que ela sofreu pelo sistema colonial, suas experiências eram de resistências (ZITKOSKY; REDIN; STRECK, 2010) e o sincretismo religioso foi o seu principal meio. As suas explicações "divinas" sobre como haveria se alfabetizado, justificava não apenas o seu acesso ao mundo das letras, mas nos permite pensar que buscava justificar a sua inserção social numa sociedade em que uma mulher negra não poderia ler, nem escrever. Alfabetizada por "visões divinas", essa "Santa Africana" se utilizou do sincretismo religioso para ser livre, fundando o Recolhimento do Parto e assim construindo a sua "relativa" libertação. Algumas mulheres brancas e ricas do período colonial resistiam aos desmandos patriarcais, obrigando-se à clausura de conventos onde tinham a possibilidade de estudar. Muitas vezes eram os próprios maridos e pais que as mandavam para lá, como forma de punição às ações que os homens julgavam estar erradas. Às mulheres brancas pobres e às mulheres negras, restavam a prostituição e, como refÚgio, até mesmo para estudar, se tornavam beatas, assim como o que ocorreu com a Rosa Egipcíaca. A busca dessas mulheres pela religiosidade era um possível caminho para a "salvação" de uma vida como oprimida, neste período.
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