O presente trabalho insere-se no âmbito do Projeto Biopolítica, Educação e (des)Construção do Sujeito Negro no Brasil Pós-abolição (1888-1945) desenvolvido na Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC). Esse projeto visa analisar a educação enquanto dispositivo de governamento biopolítico estratégico no processo de (des)construção do sujeito negro e da formação da chamada ideologia da democracia racial. A presente pesquisa busca refletir sobre o papel estratégico da educação, compreendida como um dispositivo de governamentalidade biopolítico e disciplinar na formação das narrativas identitárias produzidas no período pós-abolição. Como materialidade discursiva para a análise, lança-se mão do periódico "A Voz da Raça", publicado pela Frente Negra Brasileira (FN) nos anos de 1933 e 1937. Fundada em 1931, a Frente Negra Brasileira possuía como base de luta a integração do negro na sociedade brasileira dentro de um projeto modernista. Dentre suas reivindicações, a que mais se destacava era a da instrução do negro. A educação era vista como fundamental para FN, pois se acreditava que a instrução escolar formal seria o caminho para solucionar as mazelas oriundas do período escravocrata, garantindo maior igualdade, respeito, dignidade, emprego e reconhecimento. As ideias educacionais da FN, expressas no jornal A Voz da Raça, permite que se problematize, ainda, a inclusão do negro nos dispositivos disciplinares como estratégia emancipacionista e integracionista na narrativa identitária nacional mobilizada a partir dos anos 1930, com a era Vargas. Durante a década de 1930, periódicos como o A Voz da Raça buscavam, entre outras coisas, a afirmação da identidade nacional e a maior integração da raça negra na sociedade brasileira. Assim é que nas páginas da A Voz da Raça, encontramos indicações aos leitores de como deveria ser o comportamento e a conduta social dos negros para uma melhor aceitação social. Para a análise do periódico A Voz da Raça, utilizou-se como ferramentas reflexivas e metodológicas as teorizações do filósofo e historiador Michel Foucault, nomeadamente os conceitos de biopolítica, dispositivos de segurança e governamentalidade. A presente pesquisa encontra-se em andamento. Sendo assim, seus resultados ainda são parciais. No entanto, já é possível afirmar que, apesar de possuir um caráter combativo, era visível, durante esse período, a ideia de que o negro deveria igualar-se ao branco por intermédio da instrução formal. Em várias edições do jornal, encontra-se alusão ao quadro de carência educacional da população negra e à necessidade dela instruir-se para que fosse possível maior inclusão ao corpo da nação.