MÍMESIS E EXPERIÊNCIA DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Fernando Muller Krebs, Sandra Regina Simonis Richter

Resumo


A fim de dar sequência à trajetória de pesquisas já realizadas dentro de uma perspectiva que considera o observador, a incompletude, a recursividade e o devir como fluxos da ação de aprender, o projeto de pesquisa Educação, arte e infância: mímesis e experiência de linguagem na Educação Infantil busca investigar a complexa relação entre ação mimética e potência inventiva da linguagem nos processos de produção de sentidos na convivência, assim como adensar estudos fenomenológicos anteriores apenas esboçados em torno da concepção de mímesis, intercorporeidade e mundo comum como forma de contribuir para a compreensão pedagógica dos processos miméticos de intercorporalidade (ou intersubjetividade) na primeira etapa da Educação Básica. O fenômeno da mímesis - ou reconhecimento - de um e de outro (adultos, bebês e crianças pequenas) emerge na convivência como mediação corporal e, como os outros a interpretam, permite constituir uma relação recíproca entre os participantes. O corpo lê, e é através da ludicidade das repetições de gestos que o corpo aprende a interpretar e participar do mundo comum, pois a leitura implica envolvimento e participação não somente com a racionalidade das ideias, mas com o corpo todo - ensinar e aprender a ler são mais, e outra coisa, que alfabetizar. A ação mimética do corpo no mundo possibilita a expressão, a comunicação e a atualização de significados culturais. Em síntese, a ideia de mímesis, aqui, não é a de cópia ou reprodução, mas a de reapropriação do mundo, na qual tanto bebês e crianças quanto adultos recriam sentidos na convivência a partir de suas próprias configurações e os compartilham com outros, cumprindo papel de produção criadora de sentidos na coexistência. Considerando o cenário atual da Educação Básica, com a entrada de bebês e crianças pequenas em um modelo escolar pragmático e instrumental, que deixa de lado as dimensões criadoras e inventivas da linguagem, esse projeto, num sentido de resistência, visa aproximar o fenômeno da mímesis e a experiência poética da linguagem, pois ambos envolvem a produção de sentidos pela ação do corpo, uma espécie de sabedoria do corpo constituída no agir linguageiro, como condição simultânea de constituição da singularidade e do pertencimento ao mundo comum - uma compreensão de mímesis a partir da relação sensível do corpo no e com o mundo. A primeira etapa do projeto é o desencadeamento do estudo do conceito de mímesis no pensamento filosófico de Paul Ricouer, considerando a aproximação entre ação mimética e experiência da linguagem na educação da infância a partir da compreensão da arte como experiência - no sentido de que uma experiência é artística quando uma singularidade se reconhece na experiência do outro, pois é através das narrativas que construímos que nos constituímos, inventamos e habitamos o mundo. A segunda etapa é o desencadeamento do estudo do conceito de imitação como invenção no pensamento sociológico de Gabriel Tarde, tomando a imitação como dinâmica corpórea de participação na coexistência e como possibilitadora de relações com o mundo. Ao longo do primeiro semestre, nos encontros semanais com dois grupos de bolsistas e pesquisadores, realizamos leituras e discussões de diversos textos e autores, sempre em torno dos objetos de pesquisa do projeto, e jamais perdendo de vista que complexificar interações no e com o mundo pelo ato de narrar, recontar e refazer o vivido é aprender a magicar e a imaginar


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