Nosso trabalho tem origem nos resultados da pesquisa realizada por nós no ano de 2016, a qual é intitulada “A construção e a compreensão de sentido por crianças entre 10 e 12 anos”. Tínhamos a compreensão de que a língua e a linguagem, desde muito cedo e até de modo instintivo, são essenciais para o nosso desenvolvimento, seja pelo grau de instrumentalidade que elas têm, seja pela sua influência na formação da identidade. Em contrapartida, a pesquisa nos fez concluir que os alunos a partir de determinado momento de sua vida escolar apresentam grandes dificuldades em trabalhar com os aspectos que envolvem a linguagem e a língua. Ao construir um teste, aplicá-lo e analisá-lo para identificar o desempenho dos alunos quanto à construção de sentido em discursos, observamos grandes dificuldades em compreender enunciados, considerando seus aspectos de formação, como o contexto, a intencionalidade do autor e as próprias escolhas lexicais. Tendo em vista tal realidade, pretendemos na atual pesquisa produzir um material didático, que ao considerar tais dificuldades, busque auxiliar os professores no seu enfrentamento e, quiçá, na sua resolução. São objetivos do nosso trabalho: identificar as principais dificuldades apresentadas por alunos de 6º ano quanto à construção de sentido em discursos, a partir dos resultados da nossa pesquisa anterior, atenciando também o desempenho dos alunos de 5º e 7º ano para a obtenção de uma visão global do processo; selecionar metodologias adequadas para exercitar e sanar as dificuldades apresentadas e produzir material didático sobre a construção de sentido em discursos para aplicação em turmas de 6º ano. Entendemos que para compreender um enunciado, é essencial compreender o papel de cada palavra e o produto da sua interação com as outras palavras presentes no enunciado, pensamento esse que encontra fundamentação na Teoria da Argumentação na Língua de Oswald Ducrot, cuja premissa é a de que o sentido se constrói na língua e que os significados das palavras só podem ser identificados mediante seu contexto. Além disso, nos embasamos em documentos oficiais, como os PCNs de Língua Portuguesa, e os resultados de avaliações, como a Prova Brasil, para assim construir um panorama do que se tem falado sobre as metodologias adequadas ao enfrentamento de dificuldades referentes à leitura e a escrita. Após todo o estudo e a criação do material, que é o momento no qual nos encontramos, realizaremos um teste piloto, para verificar a eficiência do material. A partir das análises dos resultados da pesquisa de 2016 e do nosso referencial teórico, concluímos que para estruturar um material que seja adequado ao nível escolar dos alunos e que trabalhe as capacidades alvo, é preciso que pensemos não só no material como um todo, mas em cada escolha lexical, em cada modo de enunciação. Para que possamos promover um estudo metalinguístico, é preciso um exercício metalinguístico de criação, ou seja, a metalinguagem é um meio e um fim, seja na criação de materiais, seja no estudo da língua, seja no emprego da língua. Concluímos, através desse aporte teórico e desse trajeto criativo, que é essencial que pensemos sobre a língua e sobre a linguagem, pois, nos parece, que só assim podemos agir sobre ela. E só agindo sobre esse meio e esse fim de nossa interação é que podemos realmente pensar em autonomia e em uma escola formadora.