O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO COMO TRANSFORMADOR DA PERCEPÇÃO DA LINGUAGEM

Kadine Saraiva de Carvalho, Larissa Gerasch, Rosângela Gabriel

Resumo


Este estudo integra o projeto de pesquisa "A aprendizagem da leitura e seus efeitos sobre a linguagem e a cognição", coordenado pela Prof.ª Dr.ª Rosângela Gabriel, o qual tem como objetivo geral investigar se e como a aprendizagem de um sistema de leitura alfabético modifica a linguagem e a cognição humana, contribuindo para uma maior compreensão dos processos cognitivos envolvidos na leitura. O projeto é composto por estudos com crianças antes e após a alfabetização e com adultos analfabetos, ex-analfabetos e alfabetizados na infância. O presente trabalho se deterá no que se refere ao grupo de adultos analfabetos, e tem como objetivo analisar as dificuldades enfrentadas pelos mesmos durante o processo de alfabetização, destacando a etapa que consiste na transformação de grafemas em fonemas, ou seja, da associação de letras a sons. Para que tal procedimento ocorra, é imprescindível o desenvolvimento da consciência fonológica, que é a percepção e a capacidade de manipulação dos sons da língua. Essa habilidade é, normalmente, despertada nas crianças no primeiro ano de escolaridade, através de recursos como cantigas e jogos pedagógicos. No caso de adultos analfabetos, geralmente, trata-se de pessoas de nível socioeconômico baixo, que não tiveram a oportunidade de acesso à escolarização, não recebendo assim, estímulos metalinguísticos para que este tipo de consciência seja desenvolvida. Consequentemente, as palavras são vistas como aglomerados de símbolos, aos quais não conseguem atribuir sentido. De forma contrária, leitores experientes fazem a conversão grafema-fonema automaticamente, e têm acesso ao significado da palavra logo que ela é captada pela retina. Além disso, a partir da aprendizagem de um sistema alfabético, os indivíduos associam, inconscientemente, as palavras que conhecem à sua forma gráfica. Considerando tal informação, é intrigante a maneira como analfabetos fazem o processamento e armazenamento da língua oral, sem ter a escrita como apoio. Para alcançar o objetivo anteriormente exposto, a metodologia aplicada consistiu na análise de dados coletados através de testes de leitura, mais especificamente de subtração fonêmica e silábica, que pretendem  verificar a capacidade de segmentação das palavras, oralmente, por adultos que não sabem ler. Os testes foram aplicados com um grupo de onze adultos iletrados e ex-iletrados, nove mulheres e dois homens, alunos de um programa de alfabetização para adultos do Vale no Rio Pardo. A análise tem como base teórica a bibliografia relacionada ao projeto de pesquisa, produções de autores como Stanislas Dehaene, José Morais, Régine Kolinsky, Leonor Scliar-Cabral, Rosângela Gabriel, Lucilene Sousa, dentre outros especialistas na área. Durante a organização dos instrumentos, esperava-se que os participantes obtivessem um bom desempenho no teste de subtração silábica. Contudo, verificou-se um alto nível de dificuldade na realização de ambos os testes, principalmente na tarefa de subtração fonêmica, na qual a maioria dos participantes se mostrou incapaz de subtrair o primeiro fonema da palavra, apenas duas participantes ex-iletradas obtiveram sucesso. Sendo assim, é possível concluir que a percepção da linguagem por adultos analfabetos apresenta-se bastante limitada se comparada a de um adulto alfabetizado, independentemente se esse aprendizado aconteceu na infância ou na idade adulta.


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