EDUCAÇÃO E EUGENIA: A FEMINIZAÇÃO DO MAGISTÉRIO COMO ESTRATÉGIA BIOPOLÍTICA
Resumo
O presente trabalho é um desdobramento dos estudos produzidos no Projeto de Pesquisa “Biopolítica, Eugenia e Educação (1900-1950). O projeto circunscreve uma análise acerca de como o discurso eugênico interferiu na constituição da feminilização do magistério no início do século XX, investigando de que forma as discursividades subjetivaram os sujeitos femininos, tornando-os elementos centrais para a construção de uma sociedade eugênica e higienizada. Nesse sentido, objetiva-se compreender como o movimento eugenista construiu socialmente normas que subjetivaram os sujeitos femininos, que posteriormente foram utilizados na educação como estratégia de governamento biopolítico. Utilizou-se como ferramentas reflexivas e metodológicas as teorizações do filósofo e historiador Michel Foucault, nomeadamente os conceitos de biopoder, biopolítica, subjetivação/normalização e conceitos que dizem respeito aos sujeitos femininos e seus atravessamentos, como feminização e feminilização. Biopoder é uma forma de controle social que assume a direção da vida dos indivíduos desde antes de seu nascimento até a sua morte, revelando-se como protetor da vida. Biopolítica é a forma como o poder do Estado, a partir do século XVIII, passa a governar a vida da população, definindo papeis sociais a partir das dinâmicas associadas à saúde, mortalidade, natalidade, entre outras. Por subjetivação e normalização entende-se o processo de como os indivíduos passam a ser constituídos pelos discursos de saberes, através de dispositivos como a disciplina e o cuidado de si. Diferencia-se nessa pesquisa os conceitos de feminilização e feminização, aplicando o significado quantitativo à feminilização, qual refere-se ao aumento do peso relativo do sexo feminino na composição da mão de obra de determinada ocupação e o significado qualitativo à denominação feminização, relacionando às transformações em determinada ocupação, implicando uma mudança no significado da profissão. A pesquisa constitui-se com o método bibliográfico qualitativo, tomando como objeto de estudo livros e artigos referentes à temática e como materialidade discursiva para a análise, lança-se mão dos Boletins de Eugenia, periódicos que circularam entre os anos de 1929-1933, sob responsabilidade do Instituto Brasileiro de Eugenia e constituíram-se como o principal veículo das teses eugênicas, tendo a finalidade de construir uma sociedade branca, eugênica e higienizada, bem como propagar estudos científicos acerca do biodeterminismo. Esses periódicos contribuíram para a construção de narrativas culturais sobre os papeis imputados às mulheres, constituindo e subjetivando-as por intermédio de atravessamento de discursos como estratégia biopolítica. Logo, as mulheres desempenhavam funções em espaços privados e de cuidados com o outro, como a casa, a saúde e o magistério. Destaca-se que a pesquisa está em andamento e, sendo assim, os resultados parciais indicam que a feminilização do magistério atendeu a um duplo propósito. Assim, compreende-se que a trajetória de feminilização do magistério como uma estratégia de governamento biopolítico visando o branqueamento do magistério e a subjetivação dos corpos femininos para servir ao estado como difusora das teses construindo uma sociedade branca e eugenizada.
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