MÍMESIS E FICÇÃO: EXPERIÊNCIA LÚDICA DE LINGUAGEM NA INFÂNCIA

Fernando Müller Krebs, Taís Milene Rusch, Sandra Regina Simonis Richter

Resumo


O projeto Educação, arte e infância: mímesis e experiência de linguagem na Educação Infantil investiga a complexa relação entre ação mimética e potência inventiva da linguagem nos processos de produção de sentidos na convivência a partir das concepções de imaginação poética em Bachelard, intercorporeidade e mundo comum em Merleau-Ponty e ação narrativa em Ricoeur. A opção fenomenológica de enfrentar, na pesquisa educacional, a tensão entre poesia e filosofia está em ambas partilharem a tarefa de ressignificar o mundo, na qual a dimensão poética da arte é uma advertência aos limites do pensamento conceitual. O objetivo é contribuir para a compreensão pedagógica dos processos lúdicos de começar-se em linguagem na infância ao problematizar a concepção escolar de ser a imaginação “livre” da ação linguageira do corpo operante no mundo. Nos estudos semanais com dois grupos de bolsistas e pesquisadores, realizamos leituras, seminários, encontros (extensão) e discussões em torno dos processos miméticos de intercorporalidade (intersubjetividade) como estratégia metodológica para compreender as relações existentes entre os fenômenos da mímesis, dimensão poética da linguagem e experiência lúdica de transitar entre real e ficcional nos processos de narrar o vivido. A ficção densifica a realidade pela redescrição narrativa inerente à força criadora e inventiva da linguagem de sermos contadores de histórias e cantadores de esperanças, memórias e crenças; de sermos capazes de valorar a existência como seres de sentido. Assim, estudamos argumentos que sustentem a mímesis como reconhecimento do e no outro, como reapropriação lúdica do mundo e não como cópia ou reprodução. Crianças e adultos recriam e compartilham sentidos na convivência a partir de suas (re)configurações narrativas pela criação de sentidos na coexistência. A dimensão poética da linguagem, em sua força mimética de redescrição do vivido, pela exigência de provocações à imaginação e desafios à razão, torna-se fundamental na pesquisa educacional, sobretudo nos dias em que estamos vivendo, ao interrogar a desconsideração pedagógica pela abertura à fabulação e ao ficcional no ambiente escolar, dada pela supervalorização do pensamento lógico e racional, conteudista, de um conhecimento unilateral. O estudo da mímesis vem permitindo a aproximação com a experiência poética da linguagem ao envolverem produção de sentidos pela ação do corpo, uma espécie de sabedoria constituída no agir linguageiro, como condição simultânea de constituição da singularidade e do pertencimento ao mundo comum. O caráter múltiplo da linguagem poética, por implicar experiência de linguagem exigente e interpeladora, aberta a novas interpretações em seu poder mimético de redescrever ações no mundo e favorecer a alteridade, seu jogo de máscaras, possibilita a emergência do novo e do diferente , ou seja, a ampliação do ser. O poder metamórfico da mímesis, em sua potência multifacetada de fuga à padronização e à unilateralidade, de recusa à massificação de uma identidade fechada e pronta, contribui com os objetivos de afirmar a relevância do “exercício de pensamento” em torno do fenômeno da mímesis e da experiência lúdica de linguagem na Educação Básica. Desde a infância, podemos compreender a impossibilidade educacional de negar experiências de intercorporalidade no mundo comum (e em sala de aula) e reivindicar o cuidado pedagógico com a função vital de começar-se em linguagem como experiência lúdica no e com o mundo.

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