A PRODUÇÃO DE SENTIDOS SOBRE A INCLUSÃO NA PESQUISA ACADÊMICA EM PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO

Giulia Netto Löbler, Bruno Corralo Granata, Amanda Cappellari, Caroline da Rosa Couto, Taís Morgana dos Santos, Betina Hillesheim

Resumo


Michel Foucault propõe que um determinado discurso somente se faz possível sob determinadas condições históricas e culturais que propiciam sua emergência. Nesse sentido, a pesquisa “Inclusão, diferença e políticas públicas: uma cartografia”, da qual deriva este trabalho, estuda a inclusão como uma construção social recente, cujos discursos se intensificaram no final do século XX e início do século XXI assumindo, gradativamente, um estatuto de verdade. A pesquisa objetiva analisar de que formas se constitui e circula esse discurso, sendo que, para este recorte, se tomou como objeto de análise as teses e dissertações do site Domínio Público. Através da busca pelo termo “inclusão” nos campos “título” e “palavras-chave” do site, após um “filtro de sentido”, chegou-se ao total de 723 resultados, que foram organizados de acordo com a tabela de áreas do conhecimento do CNPq. Chama a atenção o fato de todas as principais áreas do conhecimento do CNPq apresentarem teses ou dissertações que discutem a inclusão – o que inclui áreas como Ciências Exatas e da Terra e Ciências Agrárias – demonstrando que a inclusão já não é um tema exclusivo de determinados campos, sendo falada por todos de diferentes lugares. Porém, destaca-se a concentração dos resultados na área da Educação, em que foram encontrados 314 trabalhos (43,4% do total), demonstrando o entendimento da escola como espaço primeiro e essencial de inclusão. Em um segundo momento, o trabalho voltou-se para a análise das teses e dissertações das áreas de Educação e Psicologia, a segunda com o maior número de resultados (64). A análise aqui se deu sob dois eixos: adjetivação (quais adjetivos se encontram vinculados à inclusão) e público (a quem se dirige a inclusão), a partir da análise do título, resumo e palavras-chave de cada um dos trabalhos. Para a discussão da adjetivação, tomou-se a ocorrência das expressões “inclusão social”, “inclusão escolar” (cuja frequência manteve-se alta mesmo na área de Psicologia, reforçando o entendimento da escola como espaço primeiro de inclusão) e “inclusão digital” (que, embora apareça em quase 10% dos trabalhos da área de Educação, aparece em apenas um em Psicologia), além da ocorrência do termo “inclusão” ligado a “exclusão”, cuja frequência significativa demonstra o quanto é comum o entendimento de ambos os conceitos como que imbricados, além da ampla difusão da ideia de “exclusão” como “o outro da inclusão”, proposta por Veiga-Neto e Lopes. No eixo “público”, destacou-se as duas ocorrências mais frequentes: Pessoas com deficiências/Necessidades educativas especiais (NEE) e População de baixa renda ou em situação de vulnerabilidade social. Apesar da possível constatação de uma concentração do debate sobre a inclusão em torno da deficiência (que aparece em aproximadamente 70% dos resultados em ambas as áreas), a grande variedade dos sujeitos citados nos trabalhos e que foram agrupados nessa categoria demonstram, talvez mais do que uma concentração, a existência de um alargamento dos “limites” da inclusão, que se direciona a uma diversidade cada vez maior de pessoas. Por fim, a semelhança dos resultados encontrados nas áreas de Educação e Psicologia, salvo divergências pontuais, demonstra um direcionamento e possivelmente um “esquema geral” do debate e da pesquisa sobre inclusão, podendo-se claramente traçar pontos de encontro entre o entendimento de diferentes áreas, que parece coincidir em linhas gerais.

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