A PRODUÇÃO DE SENTIDOS SOBRE A INCLUSÃO NA PESQUISA ACADÊMICA EM PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
Resumo
Michel Foucault propõe que um determinado discurso somente se faz possível sob determinadas condições históricas e culturais que propiciam sua emergência. Nesse sentido, a pesquisa “Inclusão, diferença e políticas públicas: uma cartografia”, da qual deriva este trabalho, estuda a inclusão como uma construção social recente, cujos discursos se intensificaram no final do século XX e início do século XXI assumindo, gradativamente, um estatuto de verdade. A pesquisa objetiva analisar de que formas se constitui e circula esse discurso, sendo que, para este recorte, se tomou como objeto de análise as teses e dissertações do site Domínio Público. Através da busca pelo termo “inclusão” nos campos “título” e “palavras-chave” do site, após um “filtro de sentido”, chegou-se ao total de 723 resultados, que foram organizados de acordo com a tabela de áreas do conhecimento do CNPq. Chama a atenção o fato de todas as principais áreas do conhecimento do CNPq apresentarem teses ou dissertações que discutem a inclusão – o que inclui áreas como Ciências Exatas e da Terra e Ciências Agrárias – demonstrando que a inclusão já não é um tema exclusivo de determinados campos, sendo falada por todos de diferentes lugares. Porém, destaca-se a concentração dos resultados na área da Educação, em que foram encontrados 314 trabalhos (43,4% do total), demonstrando o entendimento da escola como espaço primeiro e essencial de inclusão. Em um segundo momento, o trabalho voltou-se para a análise das teses e dissertações das áreas de Educação e Psicologia, a segunda com o maior número de resultados (64). A análise aqui se deu sob dois eixos: adjetivação (quais adjetivos se encontram vinculados à inclusão) e público (a quem se dirige a inclusão), a partir da análise do título, resumo e palavras-chave de cada um dos trabalhos. Para a discussão da adjetivação, tomou-se a ocorrência das expressões “inclusão social”, “inclusão escolar” (cuja frequência manteve-se alta mesmo na área de Psicologia, reforçando o entendimento da escola como espaço primeiro de inclusão) e “inclusão digital” (que, embora apareça em quase 10% dos trabalhos da área de Educação, aparece em apenas um em Psicologia), além da ocorrência do termo “inclusão” ligado a “exclusão”, cuja frequência significativa demonstra o quanto é comum o entendimento de ambos os conceitos como que imbricados, além da ampla difusão da ideia de “exclusão” como “o outro da inclusão”, proposta por Veiga-Neto e Lopes. No eixo “público”, destacou-se as duas ocorrências mais frequentes: Pessoas com deficiências/Necessidades educativas especiais (NEE) e População de baixa renda ou em situação de vulnerabilidade social. Apesar da possível constatação de uma concentração do debate sobre a inclusão em torno da deficiência (que aparece em aproximadamente 70% dos resultados em ambas as áreas), a grande variedade dos sujeitos citados nos trabalhos e que foram agrupados nessa categoria demonstram, talvez mais do que uma concentração, a existência de um alargamento dos “limites” da inclusão, que se direciona a uma diversidade cada vez maior de pessoas. Por fim, a semelhança dos resultados encontrados nas áreas de Educação e Psicologia, salvo divergências pontuais, demonstra um direcionamento e possivelmente um “esquema geral” do debate e da pesquisa sobre inclusão, podendo-se claramente traçar pontos de encontro entre o entendimento de diferentes áreas, que parece coincidir em linhas gerais.
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