ADOLESCÊNCIA E OS SENTIDOS PRODUZIDOS ACERCA DA DROGADIÇÃO
Resumo
Mary Jane Spink propõe que a produção de sentidos repousa na dinâmica dos encontros, marcados por diferentes linguagens, repertórios, conteúdos e contextos. Nessa direção, a pesquisa Narrativas de adolescentes sobre drogas e os serviços de saúde mental CAPSIA e CAPSAD: intersecções possíveis no contexto de Santa Cruz do Sul, da qual deriva esta escrita, estuda a temática da drogadição na adolescência como uma problemática multifacetada, que se constitui nas inúmeras relações que o sujeito estabelece consigo, com o outro e com o mundo. A pesquisa objetiva compreender o espaço que a droga ocupa na constituição subjetiva dos adolescentes, visando subsídios para a elaboração e implementação de ações de prevenção de uso e promoção da saúde. Este recorte apresenta os resultados do trabalho realizado com 63 adolescentes, entre 12 e 18 anos, em quatro escolas públicas do município, no período de março a julho deste ano. Para tanto, foram realizados grupos focais, composto por três encontros, em cada instituição escolar, utilizando, como disparador da discussão, recursos potencializadores de criatividade. Denota-se que independentemente do território, os adolescentes demonstram senso crítico em relação a temática da drogadição, uma vez que propõem problematizações a partir dos diferentes discursos que lhes são apresentados. Nas suas narrativas mostram-se cientes das consequências do uso e tráfico das drogas, enfatizando muitos aspectos relacionados ao fim da vida. Divergem entre percepções que remetem a uma escolha do sujeito e outras a uma não-escolha em relação ao envolvimento com a drogadição. No que diz respeito ao conceito de droga, os sentidos se modificam a partir da dinâmica do território: os adolescentes de duas escolas entendem a drogadição na sua relação com a ilegalidade e violência, não apontando, por exemplo, as nuances que se estabelecem entre lícito-ilícita. Demandam falar daquilo que é real e presente no seu contexto, que parece não haver espaço para refletir sobre outros tipos de drogas. As outras duas escolas trazem como questão principal a noção de vício, ampliando a discussão sobre a temática. Nesta perspectiva, consideram droga também o uso indiscriminado de medicações, alimentos e tecnologia. A partir da amplitude alcançada pelas reflexões dos adolescentes se configura a necessidade e a importância de ações que se deem para além da prevenção do uso drogas, demandando uma linha de atuação conjunta entre os diferentes agentes que compõem o cenário das políticas públicas. Conclui-se que os adolescentes das quatro escolas provocam um movimento que se desloca do pressuposto da inconsequência atribuída socialmente à adolescência, na medida em que identificam fatores de risco relacionados ao uso de drogas, contribuindo para pensar em estratégias de prevenção ao uso e promoção de saúde.
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