REDUÇÃO DE DANOS COMO UM FAZER NÔMADE PROMOTOR DE PROTAGONISMO

Natalia Sulzbach, Marcia de Bastos Braatz, Rayssa Madalena Feldmann, Taís Morgana dos Santos, Carina Ferreira dos Santos, Edna Linhares Garcia

Resumo


Este trabalho é um recorte de um percurso desenvolvido na pesquisa guarda-chuva, intitulada Narrativas de adolescentes sobre drogas e os serviços de saúde CAPSia e CAPSad: intersecções possíveis, que propõe a discussão entre os diferentes setores e instâncias sobre o uso e abuso de drogas. O objetivo é descrever os achados arquitetados no encontro com uma equipe de redutores de danos de uma cidade localizada no interior Rio Grande do Sul e delinear os entraves enfrentados pelos profissionais. A Redução de Danos (RD) apresenta  raízes já na década de 80 no Brasil, tendo sido incorporada como uma estratégia de saúde pública em 1989, em São Paulo, ligada ao alto índice de HIV relacionado ao uso de drogas injetáveis. A partir de 2003 a RD é palco de mudanças significativas, marcadas por sua ampliação como dispositivo norteador da Política do Ministério da Saúde para Atenção Integral a Usuários de Álcool e Outras Drogas e da Política de Saúde Mental. Ao alcançar o status de política pública a RD efetiva uma abordagem que não trata baseada em juízos de valor ou princípios moratórios e dogmáticos. A RD é uma estratégia de cuidado que atua diretamente no território e tem a finalidade de minimizar as consequências adversas do uso e/ou abuso de drogas, engendrando ações pautadas no princípio fundamental de respeito à liberdade de escolha do sujeito. A metodologia deste trabalho repousa nos preceitos da pesquisa-ação, na qual o conhecimento é construído no enlace entre pesquisadores e pesquisados, em uma relação horizontal. Os dados tecidos nesta escrita se desenharam através da análise e discussão de entrevistas qualitativas e semiestruturadas realizadas com dois redutores de danos que integram uma equipe composta, no total, por quatro profissionais, do  município. A análise seguiu a proposta de Mary Jane Spink, de forma que os encontros foram audiogravados e posteriormente transcritos, a fim de que seja possível sublinhar os significados e sentidos que permeiam os discursos dos sujeitos participantes. Destaca-se ainda a proposta da escuta, sustentada, aqui, em termos teóricos, pela Psicanálise, que preconiza o desejo do pesquisador como condição de investigação e convida os participantes à associação livre, que permite o pleno movimento dos espaços de fala e sentidos. Dentre os resultados, evidencia-se a constatação dos entrevistados sobre a existência de um aumento no índice de atendimentos e a possibilidade de esboçar um perfil das demandas. Do mesmo modo, evidencia-se que a RD incorpora no seu fazer, a clínica ampliada, na medida em que legitima a escuta dos sujeitos em espaços que por muito tempo não eram considerados como lugares de possível linguagem, não fixando seu fazer em um único espaço. Nessa posição nômade, os profissionais circulam, assumindo não apenas um, mas muitos territórios físicos e subjetivos. Evidencia-se um desafio assumido pelos Redutores: legitimar o fazer nômade da RD, na medida em que disponibilização de recursos se entrelaça a uma perspectiva de cuidado que por muito tempo tem se direcionado às paredes fixas dos serviços. Conclui-se que as narrativas abordadas sinalizam, para uma atuação singular, promotora de protagonismos e implicada com o indivíduo no seu espaço físico, social e subjetivo. Os entraves atuais, apontados pelos redutores, dão contornos à necessidade de novas discussões no campo da saúde pública como um todo.


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