INCLUSÃO, DIFERENÇA E POLÍTICAS PÚBLICAS: PRODUÇÃO CIENTÍFICA RELATIVA À TEMÁTICA DA INCLUSÃO NA ÁREA DA EDUCAÇÃO

Giulia Netto Löbler, Taís Morgana dos Santos, Bruno Corralo Granata, Betina Hillesheim

Resumo


Nos tempos atuais vivemos aquilo que, no âmbito de nossa pesquisa, temos chamado de tagarelice em relação à inclusão: somos todos constantemente incitados a incluir. Assim, parte-se do pressuposto de que a inclusão configura-se, em nosso tempo, como um imperativo que, gradativamente, conquistou um estatuto de verdade. Dessa forma, o presente trabalho tem por objetivo apresentar as discussões que vem sendo realizadas pela pesquisa “Inclusão, diferença e políticas públicas: uma cartografia”, a qual busca investigar como os diferentes discursos sobre inclusão se constituem e circulam em diferentes contextos. No recorte aqui apresentado,  trata-se de analisar os sentidos produzidos acerca da inclusão a partir da produção acadêmica na área da Educação. Para tanto, elegeu-se como materialidade de análise os resumos dos trabalhos publicados nas Reuniões Nacionais e Regionais da Associação Nacional de Pesquisa em Educação (ANPEd), entre os anos de 2011 e 2016. Para seleção dos resumos analisados, buscou-se todos aqueles que continham o descritor ‘inclusão’ no título, resumo e/ou palavras-chave. A presente discussão apresenta resultados parciais, os quais se referem somente aos três grupos de trabalho (GT) da ANPEd  que mais contemplaram o termo nas buscas das Reuniões Nacionais. Tendo em vista que, no período analisado, foram publicados 265 trabalhos nos referidos GT, o termo inclusão foi encontrado em 63 deles, o que corresponde a um percentual de 24,15%. Em ordem decrescente, os GT que mais contemplaram o termo são: Educação Especial (46), Educação e Relações Étnico-Raciais (10) e Educação Fundamental (7). A partir disso, voltou-se para a análise desses resumos, a qual foi dividida em três eixos: os sentidos da inclusão (que investiga quais termos estão atrelados à inclusão ou, ainda, quais são compreendidos como equivalentes ou próximos), agentes da inclusão (quem são os sujeitos e instituições que devem incluir) e os sujeitos incluídos (quem se busca incluir). Observa-se que em “os sentidos da inclusão” houve uma ocorrência significativa das expressões “educação inclusiva”, “inclusão escolar” e a inclusão vinculada a questões políticas. Além disso, é frequente encontrar a inclusão fundida à exclusão, como dois lados de uma mesma moeda, e não como o binarismo que as compreendem como termos como opostos. No segundo eixo, “agentes da inclusão”, como ocorrências mais frequentes se apresentam o Estado e as Políticas Públicas, sujeitos (professores, alunos, gestores, entre outros) e a escola.  No terceiro eixo, “sujeitos incluídos”, os que mais se destacam são as pessoas com deficiência, que, em uma grande variedade de sujeitos, se dividem essencialmente em jovens, crianças e estudantes.  Aponta-se ainda que, neste eixo, prevalece a não especificidade, ou seja, não está claro no texto quem são os sujeitos a serem incluídos, o que pode evidenciar tanto um alargamento da inclusão, como seu próprio esmaecimento, na medida em que todos, em algum momento, podem ser passíveis de inclusão. Essa não especificidade também pode ser observada na maioria dos resumos no que se refere aos “agentes da inclusão”.  Assim, os próximos movimentos da análise irão se voltar para um aprofundamento dessa discussão, buscando entender como a produção acadêmica na área da Educação constitui determinadas verdades sobre a inclusão, participando, em larga medida, da chamada tagarelice da inclusão. 

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