A PESQUISA ACADÊMICA NA PRODUÇÃO DE SENTIDOS SOBRE A INCLUSÃO

Bruno Corralo Granata, Taís Morgana dos Santos, Giulia Netto Löbler, Betina Hillesheim

Resumo


O termo inclusão, de uso cada vez mais frequente nos mais variados âmbitos sociais, evoca uma gama de significados que englobam saberes, deveres e chamamentos já familiares a todos. Substituindo a antiga diretriz da integração no contexto da educação brasileira, a noção de inclusão adquire um novo significado social, disseminando-se de maneira acelerada nas últimas décadas do século XX e início do século XXI. Essa disseminação, que pode ser descrita como uma explosão discursiva, é facilmente percebida pela multiplicação de slogans que incitam à inclusão e sustentam o que se tem denominado como um imperativo do nosso tempo. Atenta a esse panorama, a pesquisa Inclusão, diferença e políticas públicas: uma cartografia tem como objetivo analisar de que formas se constitui e circula esse discurso, abordando a inclusão a partir da noção foucaultiana de que todo e qualquer dizer somente se faz possível e encontra sustentação obedecendo a uma determinada ordem discursiva, histórica e cultural. Para tanto, a produção de dados se deu junto ao portal Domínio Público, especificamente na seção de teses e dissertações, no período de 2004 a 2011. Através da busca pelo termo inclusão nos campos título e palavras-chave do site, chegou-se a um total de 723 trabalhos que debatem o tema da inclusão, os quais foram organizados de acordo com a tabela de áreas do conhecimento do CNPq. Embora uma intensa concentração de resultados tenha sido observada nas áreas de Ciências Humanas e Ciências Sociais aplicadas (com destaque para a subárea de Educação, seguida pela Psicologia), destaca-se o fato de que todas as principais áreas do conhecimento do CNPq, em maior ou menor quantidade, apresentaram teses ou dissertações que abordam a inclusão, o que evidencia a disseminação discursiva sobre a temática. Para uma análise mais aprofundada sobre os discursos da inclusão, tomaram-se os eixos público, caráter e adjetivação como marcadores. Público, aqui, refere-se aos sujeitos identificados pelos autores em cada tese ou dissertação como excluídos ou passíveis de inclusão. Já o eixo caráter se refere à noção que se encontra vinculada à inclusão. Em terceiro lugar, o eixo adjetivação se refere aos adjetivos que se utilizaram vinculados à inclusão (inclusão escolar, inclusão digital, etc.), além dos casos em que a própria inclusão se utilizou como adjetivo (escola inclusiva, educação inclusiva, etc.). Assim, o presente trabalho abrange desde Ciências Humanas e Ciências da Saúde até áreas como Ciências Exatas e da Terra, Ciências Biológicas e Ciências Agrárias, buscando compreender as formas como se constituem os dizeres sobre a inclusão em cada uma. Observa-se um alargamento nos limites do alcance do discurso da inclusão que parece coincidir com uma multiplicação e fragmentação dos sujeitos a serem incluídos, que se tornam cada vez mais diversos e específicos. Em linhas gerais, o que se constata é um alinhamento entre as noções de inclusão vigentes nas diferentes áreas de conhecimento da pesquisa acadêmica. Sem desconsiderar as particularidades advindas dos diferentes níveis de proximidade e apropriação de cada área com o tema, bem como suas possibilidades singulares de atuação, que se fizeram visíveis nos resultados da pesquisa, percebe-se uma clara tendência de aproximação entre os discursos como um todo, destacando-se a força com que se impõe o imperativo de inclusão.



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