AVALIAÇÃO DA RELAÇÃO ENTRE AS FAMÍLIAS HAARLEM E BEIJING E RESISTÊNCIA À FÁRMACOS DE PRIMEIRA LINHA EM CEPAS DE MYCOBACTERIUM TUBERCULOSIS DA POPULAÇÃO PRIVADA DE LIBERDADE DO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL.
Resumo
A tuberculose (TB) é um problema de saúde pública, onde, segundo a Organização Mundial da Saúde, o Brasil está entre os 30 países com maior carga da doença. As penitenciárias são consideradas reservatórios da doença, sendo que a taxa da incidência pode ser até 50 vezes maior que na população geral. A superlotação, falta de iluminação e ventilação, fragilidade socioeconômico característica dessa população, o precário sistema de saúde e falhas no tratamento contribuem para esse cenário e para o surgimento de estirpes resistentes. A expressão gênica do patógeno sofreu alterações ao longo dos anos, devido a fatores ambientais, aumentando o número de variações específicas nas espécies ou linhagens, tais como deleções, inserção ou polimorfismos de um único nucleotídeo, resultando na alteração da capacidade de sobrevivência, replicação e disseminação. O estudo das linhagens ajuda a compreender a diversidade genética e as características biológicas do patógeno. Cepas das famílias Beijing e Haarlem são caracterizadas por resistência aos fármacos, apesar da primeira ser rara no país. O mapeamento das linhagens corrobora na elaboração do esquema de tratamento mais adequado, visto que, é possível analisar a distribuição geográfica, hospedeiro característico, virulência, transmissibilidade e susceptibilidade a resistência. O objetivo deste trabalho foi determinar a associação entre as linhagens do Mycobacterium tuberculosis com a resistência a fármacos, em cepas da população privada de liberdade do Rio Grande do Sul, entre 2011 e 2014. Trata-se de um estudo transversal retrospectivo. Um total de 236 cepas foram obtidas a partir dos bancos do Laboratório Central do Rio Grande do Sul (LACEN) e do Laboratório de Micobactérias da Universidade Federal do Rio Grande, onde já haviam sido realizados previamente os testes de sensibilidade. Para a realização da genotipagem as cepas foram repicadas em meio de cultura Ogawa-Kudoh, e após o crescimento, submetidas a extração do DNA pelo método CTAB/NaCl. A genotipagem foi realizada através da técnica de MIRU-VNTR 15-locus. Foram analisadas as variáveis sociodemográficas: sexo, idade, co-infecção por HIV e resistência a medicamentos. As análises descritivas foram realizadas no SPSS v.20.0. Para a análise filogenética, utilizou-se o banco de referências de dados online, MIRU- VNTRplus, com classificador Naive Bayes, para predizer a descendência moderna ou ancestral. Houve predominância do sexo masculino e da faixa etária de 25 a 45 anos. A prevalência de co-infecção TB/HIV foi de 18,6%. Do total de cepas, 11,5% eram resistentes aos fármacos, e dessas, 8,6% pertenciam a família Haarlem, e, não foram identificadas cepas Beijing. As principais linhagens encontradas foram Lam e Haarlem, predominantes na América do Sul, Europa e Ásia, onde a segunda família é responsável por 46% dos casos de TB no Brasil. A taxa de co-infecção TB/HIV foi semelhante ao encontrado em um trabalho realizado na Flórida, onde 28,1% eram co-infectados. Entretanto, a taxa de resistência de cepas da família Haarlem foi inferior ao encontrado por Khanipour, onde 47,8% de seu total pertencentes à mesma família, apresentavam resistência. A literatura aponta baixa frequências de cepas da família Beijing no Brasil, apenas nos estados de Rio de Janeiro e São Paulo. As cepas Beijing e Haarlem não apresentaram relação com à resistência aos fármacos, devido ao baixo número de cepas resistentes, pertencentes à essas famílias, em nosso estudo.
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