ANÁLISE DA ANATOMIA NARRATIVA DAS FAKE NEWS

Vitor Augusto Vogt, Fabiana Piccinin

Resumo


A pesquisa sobre as narrativas das notícias falsas faz parte do projeto “Narrativas de fake news e pós verdade”, vinculado ao Grupo de Pesquisa GENALIM (CNPQ) - Grupo de Estudos sobre Narrativas Literárias e Midiáticas. O projeto investiga a anatomia das narrativas midiáticas contemporâneas, especialmente de natureza jornalística, buscando reconhecer neste contexto, as chamadas fake news (Kakutani: 2017), buscando compreender a emergência e recorrência das notícias falsas no contemporâneo, como próprias dos tempos de pós-verdade, marcados pelos limites já difusos entre fatos e ficção e suas possíveis correlações com o fenômeno da pós-verdade. Observa-se, neste sentido, que estas narrativas tendem a ser caracterizadas menos pela adoção de uma linguagem objetiva, paradigma até então clássico perseguido pelo jornalismo e por meio do qual suas narrativas assentaram a cara ideia de credibilidade, pelo discurso noticioso capaz de produzir impacto e afecções (Dunker: 2017) na opinião pública. Considera-se, portanto, que as notícias falsas, não entendidas como um fenômeno novo, são próprias deste momento de fragilização da razão e de perda crescente da legitimidade dos discursos especializados e das instituições. E apresentem-se, nessa recorrência, mediante um certo padrão narrativo concernente sobretudo à temática e linguagem, levando ao desenho de uma certa anatomia que permita distingui-las das notícias verdadeiras. O jornalismo que veio constituir e pautar a esfera de debate público (Habermas: 1984), tomando esse lugar de watchdog – o fiscalizador dos atos de governo – a partir da prática objetiva de seu discurso, agora sofre as influências de uma estética orientada pelas paixões e subjetividades das narrativas, em acordo com o que diz Dunker (2017), quando defende que se vive um tempo em que circunstâncias e fatos objetivos têm menos influência em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e a crenças pessoais. Ainda que não sejam exatamente uma novidade, as notícias falsas, orientadas por afetos e subjetividades encontram agora a ambiência adequada para viralização, com as facilidades oportunizadas pela internet, especialmente porque até mesmo o indivíduo comum torna-se editor nas redes sociais, publicando conteúdos e colocando-os para circular sem o compromisso e responsabilidade com a precisão e acuidade da informação. No Brasil, 66% dos brasileiros tem acesso à internet e 63% deles usam redes sociais, as grandes responsáveis pela distribuição das fake news. Assim, a fim de reconhecer o padrão narrativo que constitui as notícias falsas e poder distingui-las das verdadeiras, a pesquisa analisa uma série de fake news, legitimamente reconhecidas pelas agências de checagem, buscando identificar recorrência de temática, linguagem e estética adotada e sua possível relação com a notícia verdadeira que possa ter lhe dado origem. Como amostra empírica, foram analisadas notícias falsas, decorrentes de fatos verdadeiros amplamente divulgados pela imprensa, relacionados ao governo do presidente Jair Bolsonaro, divulgadas entre os meses de maio a julho, na internet, considerado, para tanto, conteúdos nos formatos em vídeo, áudio, fotografia e texto.


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