Este estudo apresenta um recorte do projeto de pesquisa (Des)colonialidade do ser/poder/saber na Pedagogia da Alternância: sistematização de uma experiência e tem como objetivo principal compreender a centralidade dos instrumentos pedagógicos para que a “do-discência” ocorra na alternância entre tempo-escola e temo-propriedade familiar. Para tanto, identificamos e caracterizamos os diferentes instrumentos pedagógicos existentes no processo educativo da Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul (EFASC). Trata-se de uma pesquisa qualitativa em que nos detivemos a realizar uma análise documental, cuja principal fonte utilizada foi o conjunto de Relatórios de Atividades anuais publicados por essa instituição de educação comunitária, além de entrevistas com educadores/as da EFASC. A observação participante também fez parte de nosso percurso metodológico. Como orientação teórico-epistemológica, tomamos os princípios da educação popular e da educação do campo como fundamentos. A partir dessas referências, buscamos conhecer a experiência da pedagogia da alternância no ato e na reflexão dos sujeitos envolvidos (famílias, educandos/as, educadores/as). Configurando a relação teórico-prática, direcionada para os/as jovens camponeses/as, tendo em vista o desenvolvimento integral, relações políticas, econômicas e sociais, pudemos identificar que a pedagogia realizada pela EFASC está organizada da seguinte maneira: no 1° ano a proposta pedagógica tem como tema gerador “eu, família e a propriedade”; no 2° ano, o enfoque se encontra na “comunidade”; e, finalmente, no 3° ano, nas relações econômico-produtivas e sociais-humanas. Para formação técnica, no 4° ano, os/as estudantes realizam o Estágio Médio Técnico. Tudo começa com o diagnóstico da realidade que desemboca nos planos de estudos que, por sua vez, se constrói a partir de uma pesquisa participativa desenvolvida no diálogo com a família e com a comunidade. A dinâmica da pedagogia da alternância se realiza com pelo menos 17 instrumentos que formam uma relação complexa entre os diferentes sujeitos e a produção do conhecimento. Podemos citar alguns destes instrumentos: colocação em comum, caderno da realidade, caderno de acompanhamento, estágios de vivências, assembleias da Associação Gaúcha das Escolas Famílias Agrícolas, visitas técnicas e visitas às propriedades rurais. É imprescindível salientar a importância da dimensão histórica e vivencial do trabalho no campo, e trocas de saberes para a realização dessa pedagogia. O presente estudo mostrou que a EFASC faz uso de uma metodologia inovadora, relevante para compreensão da realidade do campo, e que trabalha com a questão ensino-aprendizagem de maneira própria e direta. Cada instrumento pedagógico tem foco na especificidade de um tempo (escola-propriedade) e/ou na articulação entre os diferentes tempos, garantindo certa coerência e partilha na formação que é realizada na alternância também de espaços. Se aprende a fazer perguntas (estudantes-famílias-educadores/as); a questionar a realidade (local e global); e, a relacionar os saberes populares e os conhecimentos científicos.  Entendemos que as experiências são sempre processos individuais e coletivos, históricos e dinâmicos, assim também acontece na relação docência-discência propiciado pelos múltiplos e complexos instrumentos pedagógicos oferecidos pela EFASC.