CURRÍCULO, EDUCAÇÃO INTEGRAL E DECOLONIALIDADE: POSSÍVEIS INTERSECÇÕES

Marcelly Machado Cruz, Giovana Maria da Cruz, Éder da Silva Silveira

Resumo


O presente escrito objetiva compreender as relações entre currículo e colonialidade do ser, do poder e do saber para, assim, enxergar possibilidades emancipatórias de um movimento decolonial a partir da concepção crítica de Educação Integral. Metodologicamente, fizemos uso de uma pesquisa bibliográfica de cunho qualitativo, a partir de artigos científicos e livros acadêmicos sobre a temática. Essa ação vincula-se à busca de indicadores de educação integral, etapa em curso no projeto “Narrativas sobre políticas e experiências de Ensino Médio de Tempo Integral na América Latina”, em que analisamos a presença desses indicadores nos protótipos curriculares de documentos recentes da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) para a América Latina. Entendemos que na concepção de Educação Integral inscreve-se instrumentos e ferramentas de pensar o currículo com vistas à construção de alternativas contra-hegemônicas à uma educação bancária e antidialógica. O currículo, enquanto conceito polissêmico, é histórico e político. Atravessado por relações de poder, sua significação não se esgota em sua dimensão prescritiva. Na acepção freireana, o currículo é um conceito amplo que diz respeito à teoria, política e prática inscritas no processo educativo. O currículo é arena contestada, onde diferentes agentes sociais disputam pelos sentidos da educação; seus sentidos não são neutros, expressando aquilo que determinado grupo deseja integrar ao processo formativo. A escolha do que deve ser lecionado está em constante conflito e negociação, conferindo caráter político e ideológico à questão educacional. No contexto latino-americano, investigar essas disputas implica em entender como as colonialidades do ser, do poder e do saber vigoram na contemporaneidade e compõem o currículo. O modo de produção de conhecimento, nas relações moderno/coloniais, é organizado a partir da experiência do colonizador. Esse conhecimento é admitido como universal e classificado como racional e científico. As colonialidades legitimam, em termos de produção do conhecimento, o regime extrativista moderno/colonial. Conhecer as colonialidades e o processo de construção curricular possibilita que problematizemos: currículo para quê? Currículo para quem? Qual conhecimento compõe o currículo? Essas questões oportunizam visualizar a ligação entre violência curricular e colonialidades. Perceber a ação da matriz colonial de poder e como ela organiza o processo educativo permite construir estratégias de ruptura com esse modelo vigente. Desnaturalizar aquilo que tomamos como dado e introduzir novas discussões que façam sentido aos/as educandos/as é uma tarefa importante na elaboração de opções decoloniais. Ela deve ser capaz de promover a emancipação política e humana e disponibilizar ferramentas crítico-transformadoras para a participação do homem e da mulher na sociedade. Na concepção crítica marxista, a Educação Integral busca desenvolver as potencialidades humanas e superação da condição de alienação. Desse modo, o resgate da Educação Integral pode ser um eixo basilar para o projeto decolonial, ao questionar as bases das divisões de classe, de trabalho, de raça e de gênero. As discussões realizadas pelos estudos decoloniais podem contribuir para expandir o conceito de educação integral a partir de uma perspectiva auto-referenciada, tendo em conta a questão da modernidade/colonialidade.  


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