TRABALHO E CONTEXTO SOCIAL: A PERSPECTIVA DA PESSOA IDOSA NO CAMPO
Resumo
O Brasil está passando por um envelhecimento populacional que afeta também, a relação do indivíduo com o labor. E, nesse sentido, cabe dizer que o trabalho desempenha um papel central na vida do sujeito, uma vez que é produtor de identidade social. Estudos realizados têm mostrado a inserção do trabalho em diferentes contextos da vida dos idosos, uma vez que para eles o ofício está relacionado ao lazer, saúde, relações familiares e cultura, exercendo, assim, uma pluralidade biopsicossocial. Este trabalho pretende analisar a valoração do ofício para as pessoas no meio rural, assim como a produção da subjetividade destas em relação à ocupação por ele desempenhada. Esta produção é um recorte da pesquisa “Estudo socioeconômico e demográfico da população idosa no meio rural do município de Santa Cruz do Sul”, da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), que tem por objetivo compreender a realidade da população idosa. A pesquisa se configura como um estudo exploratório e descritivo que vem sendo realizada ao longo dos últimos três anos pelo grupo de pesquisa “Envelhecimento e cidadania”. Foram realizadas 20 entrevistas com pessoas que tinham mais de 60 anos no meio rural, o que permitiu compreender as representações sociais sobre a velhice nos sete distritos rurais do município de Santa Cruz do Sul. Os dados qualitativos foram trabalhados por meio da técnica denominada Análise de Conteúdo de Bardin que consiste em um conjunto de técnicas de investigação com a finalidade de interpretar a comunicação. A interpretação de dados foi realizada através de um pacote do software chamado NVivo versão 9.0. A partir dos resultados, observou-se que, para os idosos na zona rural, grande parte das suas conquistas, adquiridas ao longo da vida, foram obtidas por meio do trabalho. A maioria dos idosos entrevistados aponta o fato de estar trabalhando como um produtor de saúde mental, pois mantém suas “cabeças ocupadas”, afastando-os de “pensar besteira”. Também, fica evidente a relação de identidade criada com o trabalho segundo os relatos reiterados de que “o trabalho é (significa) tudo para mim”. Outros apontam que o fato das pessoas no meio rural terem o trabalho como elemento centralizador de suas vidas pode auxiliar inclusive a que os jovens se mantenham afastados de situações de violência e dependência química. Entretanto os mesmos referem dificuldades para cessar sua vida laborativa, pois parar de trabalhar requer um processo de ressignificação de novos papéis e projetos de vida, sendo que esse processo de transição nem sempre é próspero. Sistematicamente, parar de trabalhar torna-se uma preocupação para quem irá assumir a condição de aposentado, o que muitas vezes é confundido com improdutividade e invalidez. Em relação aos homens, nota-se a importância que o trabalho representa não somente enquanto sustento, mas também quanto ao que é considerado masculino e, portanto, ao que significa ser homem e trabalhador nesse meio. Já trabalho feminino no campo ainda é considerado complementar, destinado quase que exclusivamente às tarefas em prol do cuidado da casa e da família. Para além do valor econômico, o trabalho no campo significa para estes idosos a continuidade de seu papel de trabalhador enquanto ator social. Nesse sentido, o trabalho se apresenta para estes sujeitos como formador de identidade, e a impossibilidade de executá-lo acarreta no rompimento com os sentimentos de inserção, pertencimento e integração ao meio social.
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