O PAPEL DOS LOCUTORES DISCURSIVOS EM EDITORIAIS E COLUNAS DE OPINIÃO

Valéria Elisabete Fischer, Carlos Rene Ayres

Resumo


O projeto Enunciação e Leitura busca, nas teorias de Oswald Ducrot (Teoria da Argumentação na Língua - TAL) e de Mikhail Bakhtin (Dialogismo) elementos que possam contribuir para a formação de leitores mais críticos e pensantes, que possam ir além da decodificação das letras e dos símbolos de um texto, para uma construção de sentido dentro de um todo. Para dar conta desse todo que é a linguagem, escolheu-se as duas teorias já citadas no intuito de que elas se complementem, pois, posteriormente, analisaremos textos reais do cotidiano e, por vezes, apenas uma teoria não consegue dar conta de toda a demanda que encontraremos em uma análise. A Teoria da Argumentação na Língua (TAL)  nos leva a perceber que a argumentação está na língua, por isso se faz tão importante a escolha das palavras dentro de um discurso. Bakhtin por sua vez, considera a língua como parte de um todo que é muito maior que essas relações entre enunciados; ele compreende em sua teoria que tudo o que falamos é consequência de tudo o que já ouvimos ou dizemos e fará parte de tudo o que ainda iremos falar. De acordo com a teoria bakhtiniana, para que haja um discurso, é necessário que haja um enunciador (quem efetivamente transmite a mensagem), um enunciado (o que se está sendo transmitido, a mensagem em si) e um receptor (quem a recebe a mensagem, a compreende e aceita como verdadeira ou não). Na esfera do enunciador, percebemos que esse passa a ser concebido como a voz que o locutor faz intervir no discurso para deixar entrever uma dada intenção, ou seja, um determinado projeto ideológico, que pode não ser necessariamente partidário do seu. As vozes dos enunciadores não são explicitadas; seu descortinamento e caracterização tornam-se  realizáveis através das pistas, ou seja, da imagem que a enunciação produzida pelo locutor [L] fornece delas. Torna-se, então, inviável continuar creditando a responsabilidade pelos atos ilocutórios aos enunciadores, como estava pressuposto na primeira versão da teoria de Ducrot. Dessa forma, na nova abordagem de Ducrot, os enunciadores podem estar imbricados na representação do locutor, do alocutário, ou na voz coletiva da opinião pública, em que podemos encontrar a representação do  locutor-enquanto-pessoa [Lp]. Podemos dizer, então, que temos polifonia num dado enunciado quando representar a manifestação de mais de um locutor; há também polifonia quando se representa mais de um enunciador num mesmo enunciado, ou seja, mais de uma perspectiva de onde se realizam enunciações. Pode acontecer, por exemplo, que um mesmo enunciado represente a posição assumida por um locutor e um enunciado universal. Ao analisarmos, então, a organização de vozes no discurso, devemos falar da constituição polifônica, na qual a enunciação passa a ser caracterizada pela participação de mais de um enunciador. Nossa análise, portanto, terá foco no papel dos locutores, apontando como eles funcionam no texto. As análises serão de editoriais e textos de opinião que falam a respeito de posicionamentos ideológicos e políticos no conturbado cenário nacional. Mostraremos como as vozes modalizam o texto e quais as mudanças percebidas em distintos períodos de tempo da história recente do país.


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