Gastronomia e Gastronomias: movimentos acadêmicos-científicos
DOI:
https://doi.org/10.17058/agora.v26i2.20126Palavras-chave:
Gastronomia, Descolonização, Pesquisa, Identidade cultural, Transformação socialResumo
Este artigo discute a gastronomia como um campo multidimensional que ultrapassa o preparo técnico de alimentos, refletindo práticas culturais, históricas e identitárias de sociedades. Fundamentado em teóricos como Mauss, Poulain, Collaço, Bueno, Gonzales, Ferro, Soares e Ribeiro, o texto posiciona a gastronomia como um fato social total, integrando aspectos econômicos, políticos e culturais. A alta gastronomia francesa é reconhecida por sua influência técnica e hegemônica, mas também criticada por padronizar práticas alimentares globais, invisibilizando tradições locais. Nesse contexto, emerge a necessidade de descolonizar a gastronomia, valorizando saberes regionais e desafiando hierarquias culturais. O objetivo deste texto é analisar criticamente a consolidação da gastronomia como um campo acadêmico-científico, evidenciando como a combinação entre tradição, inovação e valores socioculturais pode fortalecer sua potencialidade transformadora e ampliar a compreensão das relações entre comida, cultura e identidade. Ao revisitar epistemologias e práticas pedagógicas, sugere-se um ensino de base transdisciplinar e extensionista, conectado às demandas contemporâneas, como a soberania alimentar e a sustentabilidade. Os resultados indicam que a consolidação acadêmica da gastronomia ainda enfrenta desafios, como a ausência de diretrizes curriculares nacionais e a marginalização do campo por áreas consolidadas. No entanto, avanços significativos incluem a criação do Mestrado Acadêmico em Gastronomia na UFC e a inclusão de disciplinas voltadas ao ensino e pesquisa gastronômica. Concluímos que a gastronomia deve ser valorizada como espaço de expressão identitária e transformação social, promovendo diálogos interculturais e práticas inclusivas. Esse movimento requer a integração entre técnica, criatividade e raízes culturais, consolidando a gastronomia como um campo acadêmico autônomo e relevante.
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