A saúde mental para todos que bordeje o mal estar de cada um: a resistência da psicanálise as estratégias biopolíticas em psiquiatria ampliada

Autores

  • Kelly Moreira de Albuquerque Fanor Devry
  • Clara Virginia de Queiroz Pinheiro Universidade de Fortaleza

DOI:

https://doi.org/10.17058/psiunisc.v2i2.10921

Palavras-chave:

Psiquiatria ampliada. Biopolítica. Sofrimento psíquico. Subjetividade. Psicanálise.

Resumo

Os discursos em psiquiatria ampliada e seu projeto biopolítico de gestão das condutas não patológicas ocupam hoje um lugar hegemônico na problematização do sofrimento psíquico e dos modos de subjetivação nele entrelaçado. Assim, objetivamos, mediante a introdução de uma discussão sobre a dimensão ética em Psicanalise, apontar uma posição de resistência, sugerindo um modo diferenciado deste estabelecido pelo biopoder, para pensarmos o estatuto do sofrimento psíquico na atualidade.Constituímo-nos enquanto um estudo teórico conceitual orientado pela perspectiva genealógica de Michel Foucault. Composta por um conjunto de princípios metodológicos para a análise das formas do exercício do poder, a genealogia nos possibilita apreender a medicalização dos sofrimentos e comportamentos não patológicos, assim como a preocupação psiquiátrica pelos pequenos desvios e fracassos, como uma estratégia biopolítica. O discurso de ampliação da psiquiatria é produto de uma história atravessada por relações de poder, imprescindíveis à fabricação da subjetividade contemporânea. Absolutamente, só há poder porque há possibilidade de resistência. Por isso, inferimos, com a psicanalise, que o sofrimento psíquico constitui-se como um antipoder dos indivíduos em face do poder psiquiátrico e seu processo normalizador.

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Biografia do Autor

Kelly Moreira de Albuquerque, Fanor Devry

Doutora em Psicologia pela Universidade de Fortaleza - UNIFOR. Mestre em Psicologia (UFC). Graduação em Psicologia (UNIFOR). Docente do curso de graduação em Psicologia da Fanor-Devry Brasil. Membro do grupo de estudos foucaultianos Vontade de Saber, vinculado ao Laboratório de estudo em psicanalise, cultura e subjetividade - LAEPCUS.

Clara Virginia de Queiroz Pinheiro, Universidade de Fortaleza

Doutora em Saúde Coletiva pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ. Pós-doutorado no CNRS/CERME3/Université Paris-Descartes. Professora titular do Programa de Pós Graduação em Psicologia da Universidade de Fortaleza. Membro do GT/AMPEPP Dispositivos clínicos em saúde mental e membro/fundadora do Laboratório de Estudos em Psicanalise, Cultura e Subjetividade - LAEPCUS. Membro do grupo de estudos foucaultianos Vontade de Saber.

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Publicado

2018-01-05

Como Citar

Albuquerque, K. M. de, & Pinheiro, C. V. de Q. (2018). A saúde mental para todos que bordeje o mal estar de cada um: a resistência da psicanálise as estratégias biopolíticas em psiquiatria ampliada. PSI UNISC, 2(1), 122-141. https://doi.org/10.17058/psiunisc.v2i2.10921

Edição

Seção

Artigos