Modernização, riscos sociais e psicossociais
DOI:
https://doi.org/10.17058/psiunisc.v6i1.16460Palavras-chave:
Riscos sociais, Riscos psicossociais , Valores de autoexpressão, LutoResumo
O processo de modernização vivenciado, principalmente nas duas últimas décadas do século passado e nas décadas iniciais do século XXI, apresenta alguns riscos sociais e psicossociais que são fenôme-nos resultantes desse processo. Existem tentativas de minimizá-los de diferentes maneiras, mas nem todos os países conseguiram efetivamente minimizar os riscos pré-modernos, chamados de “visíveis” e os riscos “invisíveis” que estão muito atrelados ao desenvolvimento da tecnologia gerando desafios. Existem visões sobre os padrões culturais contemporâneos que apontam em sentidos diferentes: ou de valores de autoexpressão, ou de sentimento de luto. O objetivo do presente estudo é identificar se existem efeitos nos valores de autoexpressão e no sentimento de luto como desdobramentos culturais à modernização contemporânea, que não são opostos, mas complementares. Para tanto, foram realiza-das uma revisão teórica e uma testagem empírica sobre a relação entre os riscos sociais e psicossociais - a partir da obra de Beck (2010) – e o sentimento de luto - identificado na obra de Zizek (2010) -, e uma análise quantitativa a partir dos dados da sétima rodada (2017/2020) da Pesquisa Mundial de Valores, para a testagem empírica de valores de autoexpressão e sobrevivência identificados por In-glehart e Wezel (2009). A hipótese é que tais valores, de autoexpressão e sobrevivência, materializam culturalmente a dicotomia entre os riscos e o luto, especialmente num mundo em mudança e que há grande oscilação entre perspectivas otimistas e pessimistas sobre os efeitos da modernização. O mun-do vem passando por profundas mudanças tecnológicas, econômicas e sociais que podem ser medidas de forma quantitativa, em índices e indicadores de desenvolvimento humano e social, mas também de formação de valores. A modernização dos últimos séculos trouxe alento para vastas camadas da po-pulação, mas também trouxe desesperança e medo. O medo já foi relacionado aos valores de sobrevi-vência, mas ele também pode estar, como sentimento de luto, relacionado aos valores de autoexpres-são, numa espécie de cansaço que as pessoas estão tendo com esse apelo todo por felicidade, autoa-juda, segurança e conforto.
Downloads
Referências
Beck, U. (2010). Sociedade de risco: rumo a uma outra modernidade. São Paulo: Ed. 34.
Bendassolli, P., & Borges-Andrade, J. E. (2011). Significado do trabalho nas indústrias criativas. Revista de Administração de Empresas, 51(2), 143159.
Cardoso, F. H., & Faletto, E. (1984). Dependência e desenvolvimento na América Latina: ensaio de interpretação sociológica. Rio de Janeiro: Zahar Editores.
Cheung, S. Y. (2019). Lessons from an “old” second generation in the US: fresh evidence on assimilation theories. Ethnic and Racial Studies, 42(13), 2285-2290. doi: 10.1080/01419870.2019.1627477
Ciftci, S. (2018). Self-expression values, loyalty generation, and support for authoritarianism: evidence from the Arab world. Democratization, 25(7), 1132-1152. doi: 10.1080/13510347.2018.1450388
Dejours, C. (2006). O medo e a precarização do Trabalho. Sociedade do Risco. Entrevista conce-dida a IHU Online. Recuperado de http://www.ihuonline.unisinos.br/media/pdf/IHUOnlineEdicao181.pdf
Diener, E., Oishi, S. & Lucas R. E. (2002). Subjetive well-being: The science of happiness and life satisfaction. In C. R. Snyder, & S. Lopes (Eds.), Handbook of Positive Psychology (pp. 187-194). New York: Oxford University Press.
Freud, S. (2010). Luto e melancolia (Obras Completas de Sigmund Freud, vol.XII). São Paulo: Companhia das Letras (Original publicado em 1917).
Giddens, A. (1994). A vida em uma sociedade pós tradicional. In U. Beck, A. Giddens & S. Lash (Orgs.), Modernização reflexiva: política, tradição e estética na ordem social moderna. São Paulo: EdUnesp.
Giddens, A. (2002). Modernidade e identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
Harari, Y. (2015). Homo Deus: uma breve história do amanhã. São Paulo: Companhia das Letras.
Han, B. (2019). Hiperculturalidade: cultura e globalização. Petrópolis, RJ: Vozes.
Han, B. (2015). A sociedade do cansaço. Petrópolis, RJ: Vozes.
Holum, M. L. (2018). How does competitive tendering and contracting affect satisfaction with mu-nicipal health and care services?. International Review of Administrative Sciences, 84(3) 520–538, doi: 10.1177%2F0020852316630391
Inglehart, R., & Welzel, C. (2009). Modernização, mudança cultural e democracia: a sequência do desenvolvimento humano. Brasília: Verbena.
Inglehart, R., Haerpfer, C., Moreno, A., Welzel, C., Kizilova, K., Diez-Medrano J. ... B. Puranen (eds.). (2020). World Values Survey: All Rounds – Country-Pooled Datafile. Madrid, Spain & Vienna, Austria: JD Systems Institute & WVSA Secretariat. Recuperado de http://www.worldvaluessurvey.org/WVSD ocumentationWVL.jsp
Kapitány-Fövény, M., Richman, M. J., Demetrovics, Z., & Sulyok, M. (2018). Do you let me symptomatize? The potential role of cultural val-ues in cross-national variability of mental disorders’ prevalence. International Journal of Social Psychiatry, 64(8) 756–766, doi: 10.1177%2F0020764018811361
Krys, K., Uchida, Y., Oishi, S., & Diener, E. (2018): Open society fosters satisfaction: explanation to why individualism associates with country level measures of satisfaction. The Journal of Positive Psychology, 14(6), 768-778. doi: 10.1080/17439760.2018.1557243
Kübler-Ross, E. (2009). Sobre a morte e morrer (9 ed.). São Paulo: Martins Fontes.
Levitsky, S., & Ziblatt, D. (2018). Como as democracias morrem. Rio de Janeiro: Zahar.
Lhuilier, D. (2020). E se essa crise mudasse radicalmente o mundo do trabalho. Caderno de Administração, 28, 89-94. doi: 10.4025/cadadm.v28i0.53900
Lipovetsky, G., & Serroy, J. (2011). Culturamundo: resposta a uma sociedade desorientada. São Paulo: Companhia das Letras.
Lourenço, N. (2019). Sociedade Global, Risco e Segurança. Revista de Estudos Constitucionais, Hermenêutica e Teoria do Direito (RECHTD) 11(2), 211-219. doi: 10.4013/rechtd.2019.112.05
Lövgren, J. (2018). Secular youth and religious practice: candle lighting in Norwegian folk high schools. British Journal of Religious Education, 40(2), 124–135. doi: 10.1080/01416200.2016.1256268
Malvezzi, S. (2013). A gestão de pessoas no contexto da estrutura de redes: desafios para a sociedade, empresas e indivíduos. Perspectivas em Gestão & Conhecimento, 3(3), 6-17.
Marini, R. M. (1992). América Latina: dependência e integração. São Paulo: Editora Brasil Urgente.
Martins, C. E. (2011). Globalização, dependência e neoliberalismo na América Latina. São Paulo: Boitempo.
Meireles, M. I. P. (2012). Entre a Submissão e a Revolta: Estudo Exploratório sobre o Medo Social do Desemprego nas Indústrias do Vestuário e Calçado (Dissertação de Mestrado). Departamento de Sociologia, Instituto Universitário de Lisboa, Portugal. Recuperado de http://hdl.handle.net/10071/6159
Nasciutti. J. C. R. (2020). Pandemia e perspectivas no mundo do trabalho. Caderno de Administração, 28(Ed. Esp.).
Noll, J., Rohmann A., & Saraglou, V. (2018). Societal level of religiosity and religious identity expression in Europe. Journal of Cross-Cultural Psychology, 49(6), 959975, doi: 10.1177%2F0022022117737302
Piketty, T. (2020). Capital e ideologia. Rio de Janeiro: Intrínseca.
Piketty, T. (2013). Le capital au XXIe siècle. Paris: Seuil.
Pires, S. C., Pinto, A. L., & Justo, A. M. (2021) Percepção de risco da violência urbana no estado do Espírito Santo. PSI UNISC, 5(1), 96-110. doi: 10.17058/psiunisc.v5i1.15335
Rawls, J. (2011). O Liberalismo político (Trad. Luís Carlos Borges). São Paulo: Editora WMF Martins Fontes.
Roudijk, B., Donders, A. R. T., & Stalmeier, P. F. M. (2019). Cultural values: can they explain differences in health utilities between countries?. Medical Decision Making, 39(5), 605–616. doi: 10.1177%2F0272989X19841587
Rudnev, M., & Savelkaeva, A. (2018). Public support for the right to euthanasia: Impact of traditional religiosity and autonomy values across 37 nations. International Journal of Comparative Sociolo-gy, 59(4), 301–318.
Salvagni, J. E., & Veronese, M. V. (2017). Risco invisível: trabalho e subjetividade no setor elétrico. Psicol. soc. (Online), 29, e131134.
Schihalejev, O. Kuusisto, A. Vikdahl, L. & Kallioniemi, A. (2019). Religion and children’s percep-tions of bullying in multicultural schools in Estonia, Finland and Sweden. Journal of Beliefs & Values, 41(3), 371-384. doi: 10.1080/13617672.2019.1686732
Slovic, P. (1987). Perception of Risk. Science, 236(4799), 280-285. doi: 10.1126/science.3563507
Spink, M. J. (2001). Trópicos do discurso sobre o risco: Risco- aventura como metáfora na modernidade tardia. Cadernos de Saúde Pública, 17, 1277-1311.
Teti, A., Abbott, P., & Cavatorta, F. (2019). Beyond elections: perceptions of democracy in four Arab countries. Democratization, 26(4), 645-665, doi: 10.1080/13510347.2019.1566903
Yoo, Y., Boland, R. J., Lyytinen, K. & Majchrzak, A. (2012). Organizing for Innovation in the Digitized World. Organization Science, 23(5), 1398-1408. Recuperado de https://EconPapers.repec.org/RePEc:inm:ororsc:v:23:y:2012:i:5:p:1398-1408.
Van Horn. J. E., Taris, T. W., Schaufeli, W. B. & Scheurs, P. J. G. (2004). The structure of occu-pational well-being: a study among Dutch teachers. Journal of Occupational and Organizational Psychology, 77, 365375.
Vial, G. (2019). Understanding digital transformation: A review and a research agenda. The Journal of Strategic Information Systems, 28(2), 118-144.
Zafar, R. (2019). Impact of income and education on socio-political values of women: an empirical study of Pakistani working women. Journal of Asian and African Studies, 54(5), 691-701. doi: 10.1177%2F0021909619830718
Zizek, S. (2010). Viver no fim dos tempos. Lisboa: Relógio D’Água.
Zizek, S. (2015). Problemas no paraíso: do fim da história ao fim do capitalismo. Rio de Janeiro: Zahar.
Zizek, S. (2019). A coragem da desesperança: crônicas de um ano em que agimos perigosamente. Rio de Janeiro: Zahar.
Zhuravlev, D. (2017). Orthodox identity as traditionalism: construction of political meaning in the current public discourse of the Russian Orthodox Church. Russian Politics & Law, 55(4-5), 354-375.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
A submissão de originais para este periódico implica na transferência, pelos autores, dos direitos de publicação impressa e digital. Os direitos autorais para os artigos publicados são do autor, com direitos do periódico sobre a primeira publicação. Os autores somente poderão utilizar os mesmos resultados em outras publicações indicando claramente este periódico como o meio da publicação original. Em virtude de sermos um periódico de acesso aberto, permite-se o uso gratuito dos artigos em aplicações educacionais e científicas desde que citada a fonte conforme a licença CC-BY da Creative Commons.