Apropriações e jagunçagens: um sertão homérico

Autores

  • Rafael Guimarães Tavares Silva Doutorando na Universidade Federal de Minas Gerais (POS-LIT/FALE/UFMG)

DOI:

https://doi.org/10.17058/signo.v45i84.13708

Palavras-chave:

Guimarães Rosa, Grande Sertão, Veredas, Recepção clássica, Homero, Estudos clássicos.

Resumo

Neste texto busco identificar as diferentes estratégias de composição de que se vale João Guimarães Rosa, em Grande Sertão: Veredas, para instituir o caráter épico de seu romance. Parto de uma consulta aos principais críticos da obra rosiana que se debruçaram sobre o assunto, sugerindo, através das diferentes hipóteses elaboradas até o momento, a importância da intertextualidade explicitamente estabelecida com as epopeias de Homero. Lendo atentamente certos trechos das respectivas obras proponho relações que demonstram a complexidade desse diálogo, no qual o escritor brasileiro tece uma leitura renovada e renovadora da tradição literária. Chamo atenção principalmente para a perspicácia com que Guimarães Rosa institui diferenças nas mais evidentes repetições, empregando de forma arejada recursos caros à antiga tradição homérica de poesia oral.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Rafael Guimarães Tavares Silva, Doutorando na Universidade Federal de Minas Gerais (POS-LIT/FALE/UFMG)

Estudos Clássicos, Letras

Referências

AREND, Walter. Die typischen Scenen bei Homer. Berlin: Weidmann, 1933.

ARRIGUCCI JR. Davi. O mundo misturado. Novos estudos. São Paulo, n. 40, p. 7-29, 1994.

BARBOSA, Tereza Virgínia. Ler, ver, reconhecer: anagnórisis em Grande Sertão: Veredas de João Guimarães Rosa. PLURAL PLURIEL, v. 18, p. 1-12, 2018.

BIZZARI, Edoardo. Guimarães Rosa – Correspondência com seu tradutor italiano Edoardo Bizzari. 2. ed. São Paulo: Instituto Cultural Ítalo-Brasileiro, T. A. Queiroz Editor, 1980.

BLANCHOT, Maurice. La communauté inavouable. Paris : Les Éditions de Minuit, 1983.

BONOMO, Daniel Reizinger. A biblioteca alemã de Guimarães Rosa. Pandaemonium germanicum, São Paulo, n. 16, p. 155-183, 2010.

BRANDÃO, Jacyntho Lins. Antiga Musa (arqueologia da ficção). 2. ed. rev. ampl. Belo Horizonte: Relicário, 2015.

BRUYAS, Jean-Paul. Técnica, estruturas e visão em Grande sertão: veredas. In: COUTINHO, Eduardo (Org.). Guimarães Rosa. Rio de Janeiro: INL/ Civilização Brasileira, 1983, p. 458-477.

CAMPOS, Augusto de. Um lance de “dês” no Grande Sertão. In: XISTO, Pedro; CAMPOS, Augusto de; CAMPOS, Haroldo de. Guimarães Rosa em três dimensões. São Paulo: Conselho Estadual de Cultura, 1970, p. 41-70.

CANDIDO, Antonio. O Homem dos Avessos. In: ______. Tese e antítese: ensaios. 3. ed. São Paulo: Ed. Nacional, 1978, p. 119-140.

CAVALCANTI PROENÇA, M. Trilhas no Grande Sertão (1958). In: ______. Augusto dos Anjos e outros ensaios. 2ª. ed. Rio de Janeiro; Brasília: Grifo; Instituto Nacional do Livro, 1973, p. 155-239.

COSTA, Ana Luiza Martins. Rosa, ledor de Homero. Revista USP, São Paulo, 36, p. 46-73, 1997-98.

FRÄNKEL, Hermann. Die homerischen Gleichnisse. Göttingen, Vandenboeck & Ruprecht, 1921.

GUYARD, Marius-François; CARRÉ, Jean Marie. La littérature comparée. Paris: Presses Universitaires de France, 1951.

HAZIN, Elizabeth. De Aquiles a Riobaldo: ação lendária no espaço mágico. Revista da ANPOLL, São Paulo, v. 24, p. 291-303, 2008.

HAUBOLD, Johannes. Homer after Parry: Tradition, Reception, and the Timeless text. In: GRAZIOSI, Barbara; GREENWOOD, Emily (Ed.). Homer in the Twentieth Century. Oxford: Oxford University Press, 2007, p. 27-46.

HOMERO. Ilíada. Trad. de Frederico Lourenço. São Paulo: Penguin Clássicos Companhia das Letras, 2013.

LÉTOUBLON, Françoise. Le récit homérique, de la formule à l’image. Europe : Homère, Paris, n. 865, p. 20-47, 2001.

LOPES DA COSTA, Lorena. Joãozinho Bem-bem e os antigos: a história de um herói através de sua estória. Territórios e Fronteiras (UFMT. Online), v. 11, p. 6-24, 2018a.

______. Sobre narrar a experiência e o outro: os riscos da xenía em “Meu Tio o Iauaretê”. Tempo e Argumento, v. 10, p. 201-220, 2018b.

MALTA, André. A musa difusa: visões da oralidade nos poemas homéricos. São Paulo: Annablume Clássica, 2015.

MONTEIRO, Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro. O espaço iluminado no tempo volteador (Grande sertão: veredas). Estudos avançados, São Paulo, v. 20, n. 58, p. 47-64, 2006.

OTIS, Brooks. Virgil: A Study in Civilized Poetry. Norman: Oklahoma University Press, 1963.

PARRY, Milman. The making of Homeric verse: the collected papers of Milman Parry. Org. Adam Parry. Oxford: Oxford University Press, 1971.

ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro:

Nova Aguilar, 1994. Disponível em: http://stoa.usp.br/carloshgn/files/-1/20292/GrandeSertoVeredasGuimaresRosa.pdf. Consulta em: 29 de outubro de 2016.

SCHÜLER, Donaldo. Significante e significado em Grande Sertão: Veredas. Organon, Porto Alegre, v. 12, n. 12, p. 65-76, 1967.

SEGAL, Charles. The theme of the mutilation of the corpse in the Iliad. Leiden: Brill, 1971.

SPINA, Segismundo. Na madrugada das formas poéticas. 2. ed. Cotia: Ateliê Cultural, 2002.

VIVANTE, Paolo. Rose-Fingered Dawn and the Idea of Time. In: ATCHITY, Kenneth. Critical Essays on Homer. Boston: G. K. Hall & Company, 1987, p. 51-61.

WERNER, Christian. Mire veja: uma fórmula em Grande sertão: veredas. Aletria, Belo Horizonte, v. 26, n. 1, p. 177-194, 2016.

WHITMAN, Cedric. Image, Symbol, and Formula. In: ATCHITY, Kenneth (Ed.). Critical Essays on Homer. Boston: G. K. Hall & Company, 1987, p. 83-105.

Downloads

Publicado

2020-09-01

Como Citar

Silva, R. G. T. (2020). Apropriações e jagunçagens: um sertão homérico. Signo, 45(84), 90-100. https://doi.org/10.17058/signo.v45i84.13708