Leitura compartilhada em contexto familiar: Modelos conceituais, evidências empíricas e a pandemia de COVID-19

Résumé

As relações familiares, principalmente entre pais/responsáveis-filhos, são as principais fontes de estímulos e cuidados nos primeiros anos de vida, atuando com influências relevantes para o desenvolvimento infantil. O presente artigo consiste em uma revisão teórica não-sistemática da literatura acerca da leitura compartilhada (LC) no contexto familiar. Abordam-se os modelos teóricos e evidências científicas sobre o tema e possíveis efeitos da pandemia de Covid–19 sobre essa prática. Contribui-se para o campo da literacia familiar, em especial da LC, ao indicar que modelos teóricos de diferentes epistemologias ressaltam o papel das relações familiares e práticas de literacia, como a LC, como implicadas no desenvolvimento infantil, embora ainda se careça de modelos específicos sobre LC e, mais amplamente, de literacia familiar. Ao mesmo tempo, há evidências sólidas dos efeitos positivos da LC em desfechos como cognitivo-linguísticos e socioemocionais na infância, já em idades precoces. A pandemia de COVID-19, como evento estressor às famílias, salientou a necessidade de manejo adequado do estresse parental e da necessidade de organização familiar (e.g., uso de telas, tempo para LC) no que tange às atividades de estímulo à criança. Por último, torna-se fundamental identificar os fatores de risco e proteção familiares que podem influenciar o desenvolvimento infantil e as práticas de LC, e proporcionar intervenções precoces, especialmente em períodos de crise ou de potencial estressor.