Olga: um olhar sobre a memória
Resumo
RESUMO: Discorrer sobre um fato na história, como atesta Walter Benjamin, é muito mais experenciá-lo intimamente de maneira a capturar dele, todos os sentidos possíveis de reconhecimento do conteúdo humano que o preenche. Em Olga, romance histórico escrito por Fernando Morais, no ano de 1946, têm-se a possibilidade de diálogo efetivo entre o conteúdo histórico e o conteúdo precisamente emocional que preenche suas lacunas. Muito dos espaços ou vazios deixados pelo caráter histórico da obra, permitem ao leitor a possibilidade de sensibilizar-se com o ideário das personagens, sempre muito intenso, vivo e repleto de sonho, luta e desejo de liberdade, emitidos pelos ecos de suas falas. Esta breve e despretensiosa exposição, a cerca do caráter mediador da consciência do critério histórico, ideológico e social, junto ao de sensibilização para o conteúdo humano das histórias pessoais, almeja posicionar o papel da história e da literatura como instrumento tanto de conhecimento quanto de humanidade. Por isso, a feitura de romances históricos tende a contribuir para elucidar novos questionamentos sobre determinado fato, servem de caminho para o diálogo ininterrupto entre o passado, o presente e o limiar deste com o futuro. A história de Olga não é apenas um relato sobre uma das vítimas do anti-semitismo ou da repressão, vivido pelos pesados e longos anos da segunda grande guerra. A história é a marca de um tempo histórico carregado de ideais, sonhos e um desejo intenso e vigoroso por mudança. O sonho da luta de classes, da igualdade de direitos, do senso de coletividade, de uma consciência mais crítica e livre de pré-julgamentos. Assim, nesse tempo que mais parece eternidade, ficaram registrados na história os maiores massacres contra a raça humana e o que um ser humano é capaz de fazer a outro, quando esse não o reconhece como igual. Todo o conteúdo da obra biográfica da personagem, Olga, envolve o tema da memória, suscitando relatos que constituam dados concretos sobre a vida da heroína. Walter Benjamin em um de seus pensamentos a cerca da memória a relaciona como distinta em dois momentos: o primeiro em que a experiência era baseada na coletividade e no ideal igualitário surgem assim, posteriormente as lutas em favor das minorias, enquanto que, no segundo momento ocorre uma total negação ou afastamento desse ideário para um egocentrismo exacerbado, com a busca de satisfação pessoal e a consolidação do capitalismo como sistema econômico de destaque mundial. O papel da literatura de relato, que visa a um conhecimento sobre determinado fato histórico ou social perpassa por Benjamin um caminho em que “a dinâmica ilimitada da memória é a constituição do relato, com cada texto chamando e suscitando outros textos” (1985, p. 13). Isso implica dizer que o texto nunca será único, fechado ou completo. Ele sempre se voltará sobre outros textos que o completem ou que o permitam alçar possibilidades mais prementes. Como Olga trata-se de um romance histórico, produzido em forma de relato documentário, as marcas da memória estão justamente ligadas às reproduções de documentos e vivências pessoas da personagem. O que está em conteúdo neste trabalho é a possibilidade de encontrar pela leitura histórica caminho para a leitura de ficção. Isso se dá na medida em que, a questão da memória vai além do material apenas contido na obra e permite abrir para outras possibilidades, como acima na citação.
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