Exclusão e violência em Filho Nativo, de Richard Wright

Ívens Matozo Silva, Rosani Úrsula Ketzer Umbach

Resumo


RESUMO: Considerado uma das melhores produções literárias já escritas abordando questões relativas ao preconceito racial na América do Norte, o romance Filho Nativo (1940), do escritor afro-americano Richard Wright, retrata o tratamento desumano dado à população negra durante o regime de segregação racial. A narrativa apresenta como protagonista o personagem Bigger Thomas, jovem negro e criado nas favelas de Chicago, que nos apresenta sua luta diária pela sobrevivência em um contexto marcado pela exclusão e violência. A presente pesquisa visa analisar de que forma o preconceito racial é apresentado no romance, assim como propor uma reflexão acerca da inclusão de fatos históricos no ambiente ficcional. Delimitamos como corpus o romance Filho Nativo (1940), de Richard Wright, por apresentar, sob a perspectiva de um afro-americano, os problemas sociais enfrentados pela população negra. Após a leitura, foram selecionados e analisados fragmentos que evidenciassem a presença do preconceito racial enfrentado pelo protagonista, bem como a inclusão de fatos históricos na diegese. Para tanto, baseamo-nos no conceito de Linda Hutcheon (1991) denominado metaficção historiográfica. Através do narrador heterodiegético com perspectiva no personagem, Bigger Thomas, pode-se perceber, através das suas descrições, o ambiente de extrema miséria que o protagonista e outros afro-americanos viviam, assim como um forte sentimento de inferioridade da população negra ao se relacionarem com os brancos. Verificamos o medo e a angústia do protagonista de ser linchado pela população ao assassinar uma jovem branca, além da constante utilização de designantes perifrásticos, utilizados pela mídia e polícia local, o animalizando. Evidenciamos passagens em que há descrições da prática das leis segregacionistas e a presença de grupos racistas. Por fim, foi perceptível uma forte crítica à população branca norte-americana e, ao mesmo tempo, uma feroz denúncia sobre as opressões enfrentadas pelos afro-americanos. A análise do romance permitiu identificar como o preconceito racial foi apresentado na obra, utilizando a perspectiva de um personagem periférico que descreve seus medos e angústias, bem como a função da inclusão de fatos históricos na diegese, a segregação racial, que podem ser vistos como uma tentativa de (re)memorização da trajetória de desumanização gerados pela escravatura. Ao finalizar, cabe ressaltar que a narrativa, ao trazer como protagonista um personagem negro, afirma que ele também pertence à América e que também é um de seus filhos nativos.

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