NA PONTA DOS DEDOS: O USO DO IPAD ENQUANTO POTENCIALIZADOR PARA A APRENDIZAGEM E COMUNICAÇÃO EM CRIANÇAS COM AUTISMO
Resumo
Ao conceber-se esta pesquisa, levou-se em consideração que cada ser humano aprende do seu modo pessoal e único e que os estilos de aprendizagem podem facilitar esse processo. Nesse contexto, o uso de um computador com tela sensível ao toque, com suas características de possibilitar autonomia, interconexões e invenção de caminhos, abre passagem para potencialização. Sendo assim, este projeto tem como objetivos investigar as implicações do uso do iPad em crianças autistas para entender como as tecnologias touch podem potencializar a construção do conhecimento e de subjetividade nestes sujeitos. Desta forma, buscamos entender o acoplamento sujeito/máquina nas tecnologias touch e observar o processo de complexificação dos sujeitos envolvidos para que assim possamos compreender a cognição de forma ampliada a partir de um artefato técnico. Trata-se de uma pesquisa qualitativa pois se propõe a trabalhar com os aspectos subjetivos como uma dimensão inseparável de todo o processo cognitivo dos sujeitos. São 10 sujeitos de pesquisa, com faixa etária entre 6 e 10 anos. Foram realizadas 10 sessões com cada sujeito, de forma que em cada encontro foram propostas tarefas desafiadoras a serem realizadas no iPad, levando-se em consideração o diagnóstico de cada sujeito. Os pesquisadores utilizaram-se de um diário de bordo, onde incluiram-se enquanto parte da realidade observada e relataram o processo de acoplamento tecnológico das crianças com o iPad. Foi possível constatar através dos dados gerados pela pesquisa, que a utilização do iPad pelas crianças que possuem autismo contribuiu em todos os casos estudados de forma positiva para o aprimoramento de questões referentes à sua interação social e aprendizagem. Por ser uma pesquisa qualitativa, apontamos que a maneira como cada criança se desenvolveu positivamente difere, entretanto, está claro que há resultados positivos. Para melhor entender os resultados, nos fundamentamos na teoria de Maturana e Varela, onde os mesmos elaboram o conceito de autopoiese explicando os seres vivos como sistemas que se produzem, continuamente, a si mesmos, com a capacidade de recompor seus componentes desgastados, tratando-se de redes de produções moleculares, onde as moléculas produzidas produzem a mesma rede que as produz, sendo o sistema, ao mesmo tempo, produto e produtor. Em outras palavras, autopoiese pode também ser entendida, como o centro da dinâmica constitutiva dos seres vivos, funcionando em termos de circularidade produtiva e, para que isso ocorra de modo autônomo, eles precisam recorrer a recursos do meio ambiente, sendo autônomos e dependentes ao mesmo tempo. Um dos conceitos constitutivos desta teoria está o de acoplamento estrutural, que se refere ao processo de relação dos organismos com o ambiente numa relação tal que o ambiente não determina o que acontece com os seres vivos, mas perturba, disparando processos neurofisiológicos que vão reconfigurando estes organismos. Nesse sentido, acreditamos que o iPad, enquanto instrumento proporcionado pelo meio ambiente, possa estar perturbando a forma como essas crianças vêem e interagem, tornando-se um objeto acoplado que proporciona uma reconfiguração do ser. Portanto, o presente projeto de pesquisa gerou contribuições para o desenvolvimento de novas possibilidades de acoplamentos e para a construção de novas formas de aprendizagem, fomentando discussões sobre a potencialização da subjetividade dos usuários das tecnologias touch.
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