VIOLÊNCIA, MEMÓRIA E SUBJETIVIDADE NA NARRATIVA LATINO-AMERICANA CONTEMPORÂNEA
Resumo
Na contemporaneidade, as expressões vinculadas à violência presentes na literatura latino-americana enfocam, geralmente, pontos de vista periféricos e descortinam vidas ao privilegiar a experiência subjetiva das personagens, o "narrar sobre si" e o sentir do sujeito contemporâneo para a violência que o cerca ou que faz parte de seu passado recente. No Peru, o conflito armado entre as Forças Militares e Sendero Luminoso (1980-1992) gerou uma série de transformações na sociedade e na consciência dos peruanos. Algumas das sequelas deixadas pela violência desse período são a perda de milhares de vidas humanas, a mudança de rumo da política e a tendência da população a esquecer ou a ter dificuldade de racionalizar os fatos dolorosos. Segundo alguns pesquisadores, ainda faltam reflexões sobre o passado recente do país, sobre os atos de violência praticados pelos grupos subversivos e pelas forças armadas durante os anos de conflito armado interno, o que instaura, em grande parte da sociedade, uma vontade de silenciar e de reprimir memórias subalternas. Nesse contexto, a temática da memória sobre a violência foi incorporada de maneira dinâmica na prática simbólica e na cultura contemporânea, buscando ser como ponto de referência frente ao temor do olvido. Portanto, esta pesquisa justifica-se pelo amplo campo de estudos oferecido pela narrativa contemporânea hispano-americana no que tange as representações da memória sobre períodos de conflitos recentes na América Latina e apresenta como principais objetivos refletir sobre como o sujeito contemporâneo se constitui e estabelece sentido ao passado recente ao narrar sobre si e sobre o outro e, nessa perspectiva, pensar a ficção, por meio de sua proposta estética, como uma possibilidade de discutir sobre as relações entre o sujeito e as memórias, entre sua memória pessoal e a coletiva de seu país. Para atingir os objetivos propostos, optou-se pelo estudo da narrativa peruana contemporânea que vem se destacando no sentido de problematizar a violência a partir dos sujeitos que narram os conflitos que constituíram um passado recente, elegendo-se as obras Grandes miradas (2003) e La hora azul (2005), de Alonso Cueto. Cada uma das narrativas traz consigo um conjunto de representações que possibilita ativar múltiplos sentidos e discussões sobre a inquietude do ser em um contexto em que a violência se apresenta sob diversas faces ou ainda, encontra-se soterrada na cultura e nas instituições do estado. Nessa concepção, a violência não está somente em explosões de pólvora e armas, mas também em imagens e palavras que a convoca e a perpetua por meio da memória. Com base nas análises feitas até o momento, torna-se possível perceber que as narrativas em estudo podem ser entendidas como a representação estética da memória peruana participando, enquanto ficção, do processo de tentativa de compreensão da situação de violência e de quebra do silêncio. Ao discutirem sobre o conflito armado no Peru, as obras podem proporcionar a abertura de caminhos à reflexão, à escuta e ao diálogo, permitindo observar o drama coletivo por meio de histórias pessoais, o surgimento de significados negados por documentos oficiais e a (re)elaboração de memórias que articulam o presente com o passado e abrem um horizonte de futuro. A abordagem metodológica caracteriza-se pelo estudo bibliográfico sob o embasamento do método hermenêutico de compreensão, num processo de escuta do texto e aprofundamento dos sentidos desvelados.
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