RODAS POÉTICAS NA EDUCAÇÃO DA INFÂNCIA: APRENDENDO A NARRAR O VIVIDO

TAMIRIS ZINN, SANDRA REGINA SIMONIS RICHTER

Resumo


O projeto "Dimensão Poética das Linguagens e Educação da Infância", vinculado ao grupo de pesquisa Linguagens, Cultura e Educação da Universidade de Santa Cruz do Sul, desenvolve estudos que focalizam a infância, a criança, a imaginação poética, a ludicidade e a narrativa. A partir da articulação entre o campo conceitual da educação da infância e os campos da literatura e das artes plásticas no espaço e tempo do ateliê, tem como objetivo investigar a inseparabilidade entre corpo, linguagem e mundo como estratégia teórico-metodológica para sustentar ações educativas com crianças pequenas em contextos coletivos. Os adultos e as crianças, ao constituírem "rodas poéticas" (RICHTER: FRONCKOWIAK, 2008, 2009), exploram diferentes encontros no mesmo espaço, porém em tempos diferentes, com o desenho, a pintura, a poesia e a literatura. O termo "poético" remete ao termo grego poïein - o vigor do agir - como elemento fundamental não apenas dos fazeres mas de tudo isto que é vida narrada enquanto ação de refazer o mundo. Nas rodas poéticas, adultos e crianças brincam e jogam, tomam decisões, enfrentam os acasos, ensaiam tentativas, imitam, repetem, rearranjam, enfim, experimentam a tensão que é interrogar o mundo e a alegria e o divertimento que é transformá-lo sem separar imaginação e razão (RICHTER; FRONCKOWIAK, 2011). As "rodas poéticas" ocorrem simultaneamente a partir da proposta de reunião das crianças em pequenos grupos organizados pelas diferentes experiências com a luz, a sombra, o traço, a mancha, a poesia e as imagens. Gradualmente as crianças passaram a perseguir suas narrativas nos desenhos, nas pinturas, nas projeções de luz e sombras, nas poesias e nas modelagens com argila, aprendendo a conhecer o poder inventivo das fabulações e a força construtiva das mãos e da voz. Essa diversidade favorece a emergência de diferentes narrativas. O acolhimento dos adultos à diversidade de encontros do corpo com a linha, a cor, a forma, a voz, a palavra, em um mesmo espaço, instauram tempos lúdicos (HUIZINGA, 1999) que promovem diferentes modos de configurar experiências singulares no coletivo (LAROSSA, 2002). Em todos os espaços do ateliê as crianças encontram tempo para constituírem, com os adultos, narrativas que permitem estabelecer interações consigo e com outros. Através da ação ficcional, do faz de conta, nas quais o corpo exerce e expressa conversações que ampliam o real diante da necessidade de, juntos, configurarem narrativas para compartilhar experiências. Essa abertura ao poder narrativo de capturar o efêmero vivido - que permite entrar no jogo e jogar com outros -, esse movimento entre linguagens que promove interlocuções e constituições de narrativas, exige dos adultos intencionalidade pedagógica no planejamento e na organização tanto das materialidades a serem exploradas quanto dos espaços e dos tempos a serem vividos com as crianças.


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