LEITURA: O PAPEL HEURÍSTICO DA PARÁFRASE

SABRINA ROSA BARRETO, PAULA JUNQUEIRA BORBA, ONICI CLARO FLORES

Resumo


O presente relato embasa-se nos resultados da pesquisa intitulada Leitura: o papel heurístico da paráfrase, desenvolvida com acadêmicos do Curso de Letras, no 2º semestre de 2013 e no 1º semestre de 2014. Dois grupos de alunos - iniciantes (A), durante o 2º/2013, e finalistas (B), durante o 1º/2014, participaram do estudo. Três textos de gêneros distintos (jornalístico, acadêmico e literário) foram selecionados para as práticas leitoras e posterior produção de paráfrases. Um dos testes mais utilizados para comprovar compreensão leitora é o de repetir com as próprias palavras o conteúdo do texto lido. Repetir é, então, uma atividade sociocognitiva bastante comum, tanto no cotidiano acadêmico, propriamente dito, quanto no escolar. Em vista disso, a parafrasagem desempenha papel heurístico relevante na (re)produção do conhecimento, uma vez que se constitui no ponto de articulação entre o novo e o velho, lócus a partir do qual o processo de afastamento do já conhecido começa a se manifestar. O estudo da paráfrase é interessante porque o recurso à retomada do já dito é constante, tanto na fala quanto na escrita, para os mais diversos fins, representando, na prática, a reativação de um texto anterior com alguma modificação formal. Isto é, na paráfrase o texto fonte é relembrado e recuperado através de outro que lhe é posterior, em termos de tempo cronológico, do qual se diferencia, entretanto, em aspectos de ordem semântico-estrutural e pragmática. O processo de parafrasear engendra nuanças interpretativas e pode levar à reformulação do conhecimento existente, uma vez que desloca as palavras de seus lugares fixos, de seus vínculos usuais, o que faz com que o pensamento se desprenda da rigidez formal das palavras e estruturas linguísticas, permitindo que o sujeito diga de outro modo e até possa entender de modo diferente. 240A investigação evidenciou que as paráfrases, em sua maioria copiaram ou reproduziram o texto base, como já constatado anteriormente por outras investigações. Por outro lado, observou-se que a construção do conhecimento por meio da leitura desenvolve-se em etapas 226 repetição, paráfrase reprodutora e paráfrase reformuladora. Ao que parece, a prática de parafrasear promove progressivo afastamento da forma linguística, deflagrando a dissociação entre conhecimento já estabilizado e outras perspectivas de categorização. Assim, embora a produção de paráfrases da amostra considerada caracterize-se, sobretudo, como cópia ou reprodução (com alterações mínimas), também se registrou reformulação do conhecimento, o que atesta a consecução do objetivo da pesquisa desenvolvida.


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