A IMIGRAÇÃO HAITIANA NO RIO GRANDE DO SUL E A FORMAÇÃO DE AGENTES DE DESENVOLVIMENTO PARA O HAITI

Leonardo Alves, Mariana Dalalana Corbellini

Resumo


O Haiti foi o primeiro país das Américas a conquistar sua independência, em 1804, mas sua história nesses mais de 200 anos é marcada pela instabilidade política que gera obstáculos na manutenção da paz e da ordem na ilha. Em 2004, após uma crise política que gerou uma série de conflitos entre a população do país, as Nações Unidas instauraram a Minustah (Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti), cuja liderança da vertente militar coube ao exército brasileiro. Em meio ao trabalho da ONU no Haiti, um terremoto de grau 7,0 na escala Richter assolou a capital Porto Príncipe e a região metropolitana no ano de 2010, mesmo ano em que um surto de cólera levado pelos pacificadores da Minustah acometeu a população. Tal situação levou a uma forte emigração, que trouxe ao Brasil cerca de 45 mil imigrantes haitianos, dos quais cerca de um mil residem nas cidades de Lajeado e Encantado, na região do Vale do Taquari, e constituem o objeto em estudo desta pesquisa. A opção por realizar a presente pesquisa junto às comunidades haitianas das cidades de Lajeado e Encantado se dá em virtude da proximidade e do fato de constarem entre as comunidades de haitianos mais representativas, em termos numéricos, do Rio Grande do Sul. Como objetivo, a pesquisa tem o intuito de aclarar o papel desses imigrantes como um fator de transformação dos contextos sociais e econômicos tanto no Brasil, seu país de destino, como no Haiti, seu país de origem e possível retorno. Os métodos escolhidos são distintos e complementares: uma análise descritiva e uma análise etnográfica com aplicação de questionário, o que confere uma melhor compreensão do objetivo e da relevância dessas transformações culturais, políticas e socioeconômicas em torno dos imigrantes. A proposta metodológica da pesquisa é predominantemente de coleta e análise de informações, propondo-se a partilhar de seus resultados a fim de servir como instrumento que possibilite a sua transformação em projeto de extensão. Para esse fim, é de suma importância notar o contexto de inserção desses imigrantes enquanto agentes do desenvolvimento nas comunidades onde se encontram e de que forma tal fator é refletido nessas comunidades, identificando, também, como o setor público e o terceiro setor desempenham seu papel junto a eles. Nesse sentido, os resultados preliminares indicam movimentos difusos, efetuados primordialmente por entidades do terceiro setor - de maneira expressiva, por instituições de cunho religioso - sustentadas, em maior ou menor grau, pelo setor público, imediatamente na esfera municipal, e de forma complementar na esfera federal. Suas ações visam primordialmente o acolhimento do imigrante, porém a falta de recursos financeiros e humanos, assim como a precariedade de estruturas federais e internacionais orientadoras à inserção dos imigrantes, impedem a capacitação e qualificação necessárias tanto ao engajamento do imigrante haitiano nas comunidades das cidades onde estão inseridos, quanto a sua transformação em agente do desenvolvimento para o retorno ao seu país de origem.


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