ANÁLISE DAS NARRATIVAS DE ADOLESCENTES SOBRE DROGAS: (RE)PENSANDO PRÁTICAS DE CUIDADO
Resumo
A seguinte apresentação refere-se à 3ª Etapa da pesquisa "A Realidade do Crack em Santa Cruz do Sul", desenvolvida desde o ano de 2010 neste município com objetivo de produzir conhecimento, intervir junto à comunidade local e contribuir na definição de políticas públicas e estratégias preventivas relacionadas a drogadição. A primeira etapa da pesquisa buscou identificar o perfil do usuário de drogas em Santa Cruz do Sul através de entrevistas semiestruturadas com 100 usuários e 100 familiares de usuários do município. A segunda etapa buscou realizar a análise qualitativa das entrevistas ora realizadas na etapa anterior. A 3ª Etapa, originada das análises das etapas anteriores e das ações preventivas realizadas pelo grupo da pesquisa, direcionou-se ao cenário da adolescência e suas narrativas frente as drogas. Buscou-se evidenciar e compreender como a temática das drogas perpassa a vida e as relações ao longo dos processos de subjetivação dos adolescentes, com intuito de repensar/construir estratégias de cuidado e prevenção de uso de drogas fundamentadas nos discursos trazidos diretamente pelos próprios sujeitos da pesquisa. Utilizou-se metodologia qualitativa a partir da técnica dos grupos focais, realizados nas escolas da Região. Possibilitou-se um espaço de circulação da palavra de forma livre, sem mencionar a drogadição ou propor este assunto como tema central, buscando investigar se a droga se constitui ou se apresenta implicada nos processos do viver desses adolescentes. A análise se deu com base nos sentidos produzidos nos discursos dos adolescentes no contexto dos grupos focais, considerando a livre circulação da palavra e a interação mutua entre os pares. A pesquisa possibilitou a percepção de diferentes espaços que a droga ocupa na vida dos adolescentes, perpassando seus sonhos, medos, desejos e ideais em uma teia de relações complexas. Em meio a estas constatações, evidenciaram-se discursos que permitiram identificar relações e espaços de vida ocupados pela droga. Neste cenário, a escola se evidenciou como uma referência dual, constituindo ora uma ideia de espaço composto e protetivo, ora de um espaço constituído por lacunas nos processos de socialização e escuta. Constatou-se também a evidencia de sujeitos que apresentam dificuldade na conexão presencial com os pares, multiplicando espaços virtuais e vivencias conexas a pratica relacional da cibercultura. Destacaram-se aspectos relacionados a territorialização e o uso de drogas, onde múltiplos fatores de conexão e desconexão compõe os espaços onde os adolescentes vivem, sendo que ora destacam o desejo de não mais pertencer a comunidade - e direcionam, em parte, este desejo aos fatores relacionados a drogadição -, ora do desejo de permanência neste espaço ao qual se identificam e no qual constituíram seus processos de vida. Constatou-se ainda, nas narrativas dos adolescentes, que embora tenham relações diretas ou indiretas com a droga, não mencionam os serviços substitutivos de atenção a suade mental, trazendo um discurso de desamparo frente a escuta e a possibilidade da fala. As constatações da pesquisa indicam a urgência de discussões intersetoriais voltadas a prática de cuidado relacionado a temática das drogas, bem como, da promoção de saúde e da prevenção de uso de drogas a partir dos discursos trazidos pelos adolescentes no seu contexto de vida.
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