TECNOLOGIA, NEUROPLASTICIDADE E AUTOPOIESIS: NOVOS DISCURSOS SOBRE O TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA

Luís Fernando da Veiga, Nize Maria Campos Pellanda

Resumo


Apesar de encontrarmos novas maneiras de pesquisar o autismo, atentamos que muito de sua teoria e práxis persiste em segmentar e classificar o viver de uma maneira que engessa os diferentes modos de ser e estar no mundo. O Transtorno do Espectro Autista não é uma doença, mas uma deficiência do neurodesenvolvimento que apresenta seus principais marcadores na comunicação, na socialização e no comportamento, sendo diferente para cada sujeito. Com o projeto de pesquisa “Na ponta dos dedos: o iPad como instrumento complexo de cognição/subjetivação” pretendemos apresentar uma maneira de estudar o espectro, tomando como norteadores os princípios da neuroplasticidade e da autopoiesis, conceito desenvolvido pelos biólogos chilenos Humberto Maturana e Francisco Varela, trazendo as tecnologias touch para as vivências de crianças e familiares de pessoas com autismo. A pesquisa é vinculada ao Grupo de Ações e Investigações Autopoiéticas (GAIA) da Universidade de Santa Crus do Sul (UNISC). O grupo de estudos e o projeto de pesquisa são amparados pelo conceito de Ontoepistemogênese que propõe o processo de complexificação do sujeito que se acoplando com o seu ambiente, transforma-se de modo integral em todas as dimensões do seu ser. Nosso estudo observa a relação da criança com o tablet e os mecanismos complexos disparados através dos estados afetivos, cognitivos e sensório-motor. Os principais recursos utilizados com a tecnologia são músicas, vídeos e jogos e também acreditamos na relação da criança com o pesquisador e com todo o ambiente como viés de significação. As sessões acontecem semanalmente no Serviço Integrado de Saúde (SIS) e na Escola Educar-se da UNISC com duração de quarenta minutos atendendo quatro crianças entre cinco e sete anos de Santa Cruz do Sul (RS) e região. Gravamos todos os encontros e utilizamos de diários de campo e das autonarrativas para a mineração e discussão dos dados. No último ano reconhecemos que os pesquisadores e as crianças desenvolveram bom vínculo, também destacamos que o interesse pela tecnologia trouxe aspectos virtuais para as suas relações interpessoais e implicações pessoais, as novas cognições de linguagem não verbal e de vocabulário ao seu repertório foram grandes conquistas e o processo de simbolização que se fez crescente durante todo o tempo de pesquisa explicitam crianças mais autônomas e identitárias. Nossa maneira de fazer pesquisa acredita que a autoconstrução é inseparável dos processos do fluxo vital e busca construir espaços e propostas desafiadoras, ultrapassando as unidades básicas de estímulo e resposta do comportamento respondente, quebrando as rotinas e potencializando a neuroplasticidade e o processo de complexificação de cada sujeito.


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