A PERCEPÇÃO DAS EQUIPES DE SAÚDE MENTAL E OUTROS CUIDADORES SOBRE A MEDICALIZAÇÃO DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA

Mariana Hintz Moraes, Jerto Cardoso da Silva

Resumo


O conceito de medicação é decorrente do ato de medicar em excesso, em relação aos psicofármacos esta temática é frequente a partir dos anos 60 e 70, nos trabalhos de diversos teóricos. Nesse contexto, problemas sociais passaram a ser cada vez mais medicalizados, ou seja, tomados sob o prisma da medicina científica como “doenças” a serem tratadas de forma iatrogênicas. Nesse âmbito, o presente trabalho foi desenvolvido com o objetivo de retratar e problematizar as discussões que vem sendo desenvolvidas nas equipes de saúde mental através da apresentação dos resultados da pesquisa Medicalização da infância: produções de sentido sobre o discurso dos pais e cuidadores, a qual visa averiguar a relação que se estabelece entre as categorias encontradas nas entrevistas e o processo de medicalização relacionado ao ato de cuidar que é exercido por pais e cuidadores de crianças e de adolescentes que utilizam medicações psiquiátricas. Diante disso, buscou-se compreender qual foi o lugar reservado à criança, ao adolescente e aos cuidadores durante a medicalização, quais os significantes que se repetem ou se transformam e quais os acontecimentos produzidos nessa relação. O método utilizado foi desenvolvido em três etapas, inicialmente realizamos entrevistas semiestruturadas com pais, logo após com os cuidadores e por último discussões com as equipes de saúde metal. A pesquisa é de cunho qualitativo, por isso a análise foi desenvolvida através da Análise de Discurso, visando à compreensão de como um objeto simbólico produz sentidos, como ele está investido de significância para e pelos sujeitos. Assim, dentro do dispositivo teórico da Análise de Discurso que construirmos um aparato analítico de interpretação que possibilitou compreender algumas regularidades, opacidades e transformações dos sentidos produzidos nas falas dessas pessoas. Diante disso, partimos da superfície linguística dos depoimentos, para chegar ao espaço discursivo, pois, pela análise dessas duas dimensões (linguística e discursiva), podemos apontar algumas regularidades e instabilidades do processo discursivo sobre a medicalização nas vivências dessas crianças e adolescentes através da percepção dos cuidadores. Como resultados e discussões finais observamos que o uso precoce das medicações na primeira infância está muito atrelado as dificuldades no vínculo que se estabelece pelo adoecimento da criança/adolescente. Constatamos também o uso de medicação como solução imediata e em muitos casos até como preventivo para evitar problemas futuros. Além disso, na atualidade para muitos cuidadores os sentidos sobre o cuidar são justapostos ao uso da medicação. Nesse contexto, esse estudo ao problematizar sobre o processo de medicalização da infância e da adolescência, procurou contribuir para a pluralidade de perspectivas na compreensão crítica e complexa que esse tema merece e produz. Por fim, essa pesquisa pretende contribuir para a reflexão e construção de estratégias que superem o olhar patologizante da vida.

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