AVALIAÇÃO DA ECOTOXICIDADE E GENOTOXICIDADE DO AZAMAX®, UTILIZANDO DAPHNIA MAGNA COMO ORGANISMO-TESTE

Priscila da Silva Araújo, Daiane Cristina de Moura, Alexandre Rieger, Eduardo Lobo Alcayaga

Resumo


A prática da agricultura orgânica está em amplo desenvolvimento no Brasil, sendo que com o advento de tais técnicas surgiram diversos produtos considerados naturais e amplamente difundidos em nosso ambiente. Um desses produtos é o inseticida a base de Óleo de Nim, conhecido comercialmente como Azamax®, extraído da planta Azadiractha indica, que é reconhecido mundialmente por seus efeitos deletérios no ciclo de desenvolvimento dos insetos. Por se tratar de técnicas agrícolas consideradas recentes, há a necessidade de estudos em relação ao verdadeiro potencial tóxico destes inseticidas. Neste contexto, dentre os métodos empregados nestas análises destacam-se os testes ecotoxicológicos e genotoxicológicos, pois são importantes ferramentas para o monitoramento do potencial tóxico dos mais diferentes compostos, visto sua capacidade de detectar potenciais substâncias prejudiciais aos organismos vivos. Testes ecotoxicológicos detectam alterações capazes de causar efeitos sobre a vitalidade e viabilidade do organismo-teste, enquanto testes genotóxicos, como o Ensaio Cometa (EC), permitem avaliar danos no DNA passíveis de reparo e que não afetam tais alterações, destacando o microcrustáceo Daphnia magna como organismo-teste. Desta forma, o presente trabalho objetivou avaliar a ecotoxicidade e a genotoxicidade do Azamax®, utilizando o microcrustáceo D. magna como bioindicador. Os testes foram empregados por meio de bioensaios de toxicidade aguda, cultivo de organismos previamente expostos em longo prazo para a avaliação da sobrevivência e capacidade reprodutiva destes. Nos testes genotoxicológicos optou-se pela versão alcalina do EC, sendo que a partir da concentração de 1 ml L-1 (1%) foram testadas as diluições de 0,5%, 0,25% e 0,125%. Todos os ensaios seguiram o estabelecido na norma técnica brasileira ABNT nº 12713/2016. Para a aplicação do EC o material passou para uma solução de lise por 1 hora e posteriormente por eletroforese (0,7V/cm; 300mA) de 20 min em tampão alcalino (pH>12), sendo posteriormente neutralizadas, fixadas e então coradas a base de nitrato de prata, e analisadas em microscopia óptica. Calcularam-se a Frequência de Dano (FD) e o Índice de Dano (ID), ambos comparados a um controle negativo (CN) de água reconstituída. Os valores de FD e ID foram estandardizados em relação à respectiva média do CN. As diferenças estatísticas foram estabelecidas utilizando a prova não paramétrica de Mann-Whitney (a = 0,05). Os testes ecotoxicológicos apontaram para a ausência de ecotoxicidade em todas as diluições testadas. Em relação aos testes genotoxicológicos observou-se danos no material genético nos diferentes tempos de exposição (1 e 2 dias), ocorrendo tanto para a FD como para o ID, sendo que a maior resposta genotoxicológica foi no primeiro dia de exposição, com uma FD 2,2 vezes maior que o CN, e um ID 2,3 vezes maior que o CN. Nas avaliações de sobrevivência e reprodução constatou-se que todas as exposições sofreram danos, sendo que o lote da diluição de 0,125% conseguiu se transformar em matriz e, por conseguinte, se reproduzir, coincidindo com os resultados obtidos no lote do Controle Negativo (CN). Concluímos que é extremamente importante o uso conjunto dos testes ecotoxicológicos e genotoxicológicos, bem como a análise destes em longo prazo. Além disso, ressalta-se o cuidado no manuseio e aplicação do Azamax®, uma vez que mesmo em sua menor concentração, foi capaz de ocasionar efeitos genotóxicos significativos.

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