OS SABERES LOCAIS EMPREGADOS NA PRODUÇÃO DE ORGÂNICOS: UMA PERSPECTIVA SOBRE O GRUPO DE AGRICULTORES ECOLOGISTAS DE FORQUETA, ARROIO DO MEIO, RS, BRASIL

Lucas Nicolini Barreto de Pádua, Guilherme W. Niedermayer, Luciana Turatti

Resumo


A agroecologia lança luz aos meios de produção milenares, tidos como tradicionais, que acabaram substituídos pela lógica da maximização da produção e da eficiência econômica, que fundamentava e segue fundamentando a agricultura convencional. Mais do que uma melhoria no campo, os modelos que fundamentaram a “agricultura moderna”, constituídos especialmente quando do fenômeno da Revolução Verde, contribuíram para uma crise socioambiental sem precedentes. Com a crise vivenciada por este modelo, abriram-se brechas para novos questionamentos e o retorno das ideias de uma agricultura mais tradicional apoiada nos antigos ensinamentos, representados pelos saberes locais e pelos conhecimentos tradicionais. As diretrizes da agroecologia foram estabelecidas no Decreto Nº 7.794, de 20 de agosto de 2012, que institui a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, e propõem a aproximação dos saberes dos agricultores, constituídos ao longo da história, com os conhecimentos de diferentes ciências. É neste interim que se insere o presente estudo, com o apoio do CNPq, voltado para a identificação dos sentidos construídos pelo Grupo de Agricultores Ecologistas da localidade de Forqueta, em Arroio do Meio, RS, acerca das diretrizes da Política Nacional. Um dos objetivos da pesquisa é verificar em que medida o Grupo investigado utiliza-se dos saberes locais na produção de orgânicos e como ocorre seu processo social de aprendizagem e compartilhamento. A proposta em questão é balizada por metodologias participativas. A pesquisa é qualitativa, descritiva, explicativa e tem caráter intervencionista. Como resultados parciais tem-se a criação de uma proposta metodológica participativa, aplicada especificamente ao grupo em questão quando da produção de um vídeo-documentário contendo relatos das agricultoras, no qual, roteiro, filmagem e edição foram compostos pelas participantes. Todo esse processo foi cartografado permitindo que se fizesse uma primeira leitura acerca do que emergia naturalmente nas falas das participantes com relação aos saberes locais. Evidenciaram-se aspectos associados ao grau de importância atribuído aos seus saberes, uma vez que na sua visão estes são tidos como inferiores, comuns e simples, se comparados aos saberes científicos. Em uma das falas mencionam que elas teriam que voltar para escola para aprender. Já quanto a relação com a natureza as falas acentuaram a harmonia, admiração e respeito pelo ambiente no qual vivem (“O amor na produção faz efeito: fico falando com as flores”; “se você machuca uma árvore deve pedir desculpas”; “Como a natureza é perfeita, né?”). A próxima etapa envolve a aplicação de entrevistas semi-estruturadas e a observação participante. Espera-se, ao final, atingir o desenvolvimento social comunitário, por meio da propagação e registro de conhecimentos, desenvolvimento de espírito crítico de todos os envolvidos no processo de pesquisa-ação-participante, valorização e socialização dos saberes locais e o empoderamento das participantes.

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