MOBRAL: IDEOLOGIA E REGULAÇÃO NA ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Resumo
A ditadura militar no Brasil foi um período com muitos episódios terríveis que marcaram de forma dolorosa nossa história. Por trás dos acontecimentos, projetos de sociedade sempre estiveram em disputa e em contradição. O regime ditatorial representou a vitória de um destes projetos, de uma visão social de mundo conservadora, autoritária e violenta. Na educação, a força ideológica foi depositada através da regulação, da imposição e da censura. Este estudo compreende o Brasil da década de 1970. Durante o recrudescimento do regime, o governo iniciou uma grande mobilização para erradicar o analfabetismo no país através do Movimento Brasileiro de Alfabetização. Ao longo desse período, foram utilizadas diversas ferramentas de transmissão de ideologia, na educação de jovens e adultos não foi diferente. A enorme estrutura do MOBRAL permitia que o programa difundisse os “valores” presentes na visão social de mundo dos militares. Esta pesquisa tem por objetivo relacionar os elementos encontrados nos documentos com os conceitos de ideologia e epistemologia da regulação/emancipação. O recorte histórico foi determinado no governo Médici (1969 – 1974), tendo em vista o endurecimento do regime. A pesquisa qualitativa foi feita a partir da análise de conteúdo de seis fontes, destes, quatro são livros de alfabetizadores e dois são roteiros de alfabetização. As categorias de análise foram: a educação bancária, as representações da ordem patriarcal e das relações de trabalho. Com os resultados obtidos, pudemos concluir que o MOBRAL serviu como importante ferramenta do governo para a difusão de sua ideologia por todo o território brasileiro, estabelecendo a certa “monocultura” sobre o saber, o poder e o ser. O método de alfabetização dessa campanha desconsiderou diferenças regionais, desumanizando os educandos e educandas. Com função subjetiva, os materiais exerciam o controle ideológico na tentativa de eliminar qualquer possibilidade de resistência ao regime e emancipação dos sujeitos. Os “valores” conservadores empregados pelo MOBRAL, buscavam manter as relações patriarcais, com aspectos relativos ao lugar social da mulher, sempre presente em imagens ligadas ao cuidado, ao lar e a submissão perante a figura masculina. O trabalho foi a categoria mais presente nas cartilhas e livros de alfabetização. Identificamos que o discurso da meritocracia orientava a lógica destas representações sociais que, ligadas ao contexto histórico, demonstram a intencionalidade e a violência de uma ideologia que romantiza as relações de trabalho, que, sobretudo naquele período, já eram de extrema exploração.
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