Ações de participação social de chefes de cozinha para mudanças sociais: reflexões a partir de matérias jornalísticas
DOI:
https://doi.org/10.17058/agora.v25i1.18099Palavras-chave:
Práticas solidárias, Gastronomia social, Narrativas jornalísticas, Produtos locaisResumo
A gastronomia e a cozinha são compreendidas neste artigo como um espaço que está na relação entre seres humanos e alimentos, com técnicas, valores e símbolos, que exprimem relações sociais construídas ao longo da história. Entendê-las sob esta perspectiva nos leva a compreender que suas práticas se dão além dos espaços dos restaurantes e que os/as chefes de cozinha vêm se destacando como potentes agentes de transformação social, tendo a comida papel central na transformação da vida das pessoas. Este estudo de caráter descritivo e exploratório tem como objetivo analisar, a partir de publicações jornalísticas, formas de participação social de chefes de cozinha como agentes que usam a comida como ferramenta social. Foram selecionadas para a coleta de dados nove matérias de jornais digitais de dois tipos editoriais de mídias jornalísticas, um relacionado a diretrizes ideológicas e comerciais e o outro sem vínculos com grupos políticos ou anunciantes. As matérias foram publicadas no período de 2016 a 2020. Evidenciamos práticas sociais inseridas em estratégias de aproximação entre produtores e consumidores através do consumo de alimentos provenientes da agricultura familiar ou de produtores locais. As práticas em alguns casos têm a comida e a cozinha como forma de fortalecer a identidade cultural dos grupos sociais. A ideia de engajamento social e político associado à participação também pode ser vista através da participação dos/das chefes em eventos. Pode ser vista, ainda, em ações que reivindicam a segurança alimentar e nutricional para todos. Por fim, práticas solidárias de preparação e distribuição de alimentos foram observadas durante o período da pandemia de COVID-19.
Downloads
Referências
ALVARES MATTIA, A. et al. A gastronomia como ferramenta de transformação social: estudo de caso do Projeto Co[m]feito. Extensão Tecnológica: Revista de Extensão do Instituto Federal Catarinense, v. 7, n. 14, p. 170–187, 21 dez. 2020.
AMON, D.; MENASCHE, R. Comida como narrativa da memória social. Sociedade e Cultura, v. 11, n. 1, 3 ago. 2008.
BARBOSA, L. A Ética e a Estética na Alimentação Contemporânea. In: Produção, Consumo e Abastecimento Alimentar: desafios e novas estratégias. Porto Alegre: UFRGS, 2016.
BARBOSA, L.; CAMPBELL, C. (EDS.). Cultura, consumo e identidade. 1. ed. Rio de Janeiro, RJ, Brasil: FGV Editora, 2006.
BINZ, P.; De CONTO, S. Gestión de la gastronomía sustentable: Prácticas del sector de alimentos y bebidas en hospedajes. Estudios y Perspectivas en Turismo, v.28; p. 507-519; 2019.
BOURDIEU, P. O poder simbólico. Lisboa: Bertrand Brasil, 1989.
BRANDÃO, I. R. Afetividade e Transformação Social. Sobral: Edições Universitárias, 2012.
BRASIL. 11.346. Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional – LOSAN. 2006. Disponível em: < http://www4.planalto.gov.br/consea/conferencia/documentos/lei-de-seguranca-alimentar-enutricional>. Acesso em: 13 jan. 2023.
CANCLINI, N. G. Consumidores e cidadãos − conflitos multiculturais da globalização. Rio de Janeiro: UFRJ, 2010.
CARVALHO, S. M. DE et al. Feiras Orgânicas enquanto política de abastecimento alimentar e promoção da saúde: um estudo de caso. Saúde em Debate, v. 46, spe2, p. 542–554, 2022.
CASTRO, H. C., MACIEL, M. E., & MACIEL, R. A. Comida, cultura e identidade: conexões a partir do campo da gastronomia. Ágora, v.18, n.7, p. 18-27, 2016.
CRESWELL, J. Investigação qualitativa e projeto de pesquisa: escolhendo entre cinco abordagens. 3. ed. Porto Alegre: Penso, 2014.
COLLAÇO, J. Gastronomia: a trajetória de uma construção recente. Habitus, v. 11, n. 2, p. 203-222, jul./dez. 2013.
CONTRERAS, J.; GRACIA, M. Alimentação, Sociedade e Cultura. Rio de Janeiro, RJ, Brasil: Fiocruz, 2011.
CRESWELL, J. Investigação qualitativa e projeto de pesquisa: escolhendo entre cinco abordagens. 3. ed. Porto Alegre: Penso, 2014.
DÓRIA, C. A.; AZEVEDO, E. “Banquetaço: ativismo alimentar e a construção de novas formas de expressão política”. Le Monde Diplomatique, 19 mar. 2019.
GÓIS, C.W.L. Saúde Comunitária. Pensar e fazer. São Paulo: Aderaldo & Rothschild, 2008.
GUILHERME, N. O. S.; PORTILHO, F. Ecochefs, tapiocas e a gastronomização da agricultura familiar. In: GARSON, M.; TORQUATO, S. (org.). Alimentação e ciências sociais: Perspectivas contemporâneas. Rio de Janeiro: Autografia, 2018, p. 93–119.
INSTITUTO MANIVA. Disponível em: <https://www.institutomaniva.org/>. Acesso em: 7 jan. 2023.
JALIL, L. M.; et al. O impacto da Covid-19 na vida das mulheres rurais do Nordeste do Brasil. Cadernos de Agroecologia: Convergências e divergências: mulheres, feminismos e agroecologia, [online]. 2021 v. 16, n. 1. Disponível em: <http://cadernos.aba-agroecologia.org.br/cadernos/article/view/6621/4890>. Acesso em: 10 jan. 2023.
LEE, K.-H.; PACKER, J.; SCOTT, N. Travel lifestyle preferences and destination activity choices of Slow Food members and non-members. Tourism Management, v. 46, p. 1–10, fev. 2015.
MARTÍN-BARBERO, J. ¿Desde dónde pensamos la comunicación hoy? Chasqui. Revista Latinoamericana de Comunicación, n. 28, p. 13–29, 2015.
MOTTA, L. G. Análise crítica da narrativa. Brasília: UNB, 2013.
NASSER, M. A. et al. Vulnerabilidade e resposta social à pandemia de Covid-19 em territórios metropolitanos de São Paulo e da Baixada Santista, SP, Brasil. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, v. 25, n. supl. 1, p. e210125, 2021.
NEVES, J. A. et al. Unemployment, poverty, and hunger in Brazil in Covid-19 pandemic times. Revista de Nutrição, v. 34, p. e200170, 2021.
NETTO, L. P. A redenção moral pelo consumo: ética, comunicação e o consumo consciente. Em: Corpo e consumo nas cidades. Rio de Janeiro, RJ, Brasil: UERJ, 2014. v. 1p. 25–45.
NICOLI, M. A. Em tempos de pandemias faz-se necessário afirmar convergências e produzir redes de solidariedade que produzam mais vidas, nas vidas. Interface - Comunicação, Saúde, Educação [online]. 2022, v. 26. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/interface.210670>. Acesso em: 15 jan. 2023.
NIEMEYER, C. B.; SILVEIRA, V. C. A. - Da pandemia à agroecologia: redes de solidariedade na construção de um novo paradigma socioecológico - Saúde debate, v. 46, spe2, p. 377-390, 2022.
NUNES, N. C.; E SILVA, K. B. A.; KRAEMER, F. B. Reflexões sobre a comensalidade nas ações de assistência alimentar em tempos de Covid-19: uma vivência no Movimento Fazendinhando. Revista de Alimentação e Cultura das Américas, [S. l.], v. 2, n. 2, p. 274–286, 2020. DOI: 10.35953/raca.v2i2.82.
OLIVEIRA, J.T.C., Et al. “Hunger and rage (and the virus) are human things”: reflections on solidarity in times of Covid-19. Rev. Nutr. 2021;34:e200183. https://doi.org/10.1590/1678- 9865202134e200183.
PAIVA, J. B. DE et al. A confluência entre o “adequado” e o “saudável”: análise da instituição da noção de alimentação adequada e saudável nas políticas públicas do Brasil. Cadernos de Saúde Pública, v. 35, n. 8, p. e00250318, 2019.
PEREIRA, C. Sentidos e práticas do consumo dos alimentos da agricultura familiar por atores gastronômicos na cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, 2022.
PEREIRA, C.; CAMPOS, F.M.; KRAEMER, F.B. Chefes usam produtos da agricultura familiar: narrativas jornalísticas sobre o consumo de alimentos. In: Comensalidades e Subjetividades. Sabor Metrópole. [s.l.] CRV, 2023.
PEREIRA GARCIA, J. et al. Dinâmicas alimentares alternativas e gastronomia: consumo de produtos locais em restaurantes de Brasília. Revista Grifos, v. 31, n. 57, p. 01–18, 28 mar. 2022.
PORTILHO, F. Sustentabilidade ambiental, consumo e cidadania. São Paulo: Cortez Editora, 2005.
PORTILHO, F.; CASTAÑEDA, M.; CASTRO, I. R. R. DE. A alimentação no contexto contemporâneo: consumo, ação política e sustentabilidade. Ciência & Saúde Coletiva, v. 16, n. 1, p. 99–106, jan. 2011.
REDE PENSSAN. VIGISAN, Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil. 2020.
REZENDE, R.; LAVINAS, E. L. C. Gastronomia midiática: reality shows e a estetização da comida na TV. Lumina, v. 11, n. 3, p. 75–94, 30 dez. 2017.
SABOURIN, E. Práticas sociais, políticas públicas e valores humanos. In: SCHNEIDER, S.(Org.). A diversidade da agricultura familiar. Porto Alegre: Editora da UFRGS. 2006, p.108 -132.
ŞAHİN, E. A bibliometric overview of the International Journal of Gastronomy and Food Science: To where is gastronomy research evolving? International Journal of Gastronomy and Food Science, v. 28, p. 100543, jun. 2022.
SARTI, F. M., MARCHIONI, D. M. L., BANDONI, D. H. et al. Análise Custo-Efetividade Aplicada à Políticas Públicas de Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil: Uma Avaliação Do Programa Cozinhas Comunitárias." Revista Gestão & Políticas Públicas, p. 368-86, 2013.
SIQUEIRA, D. DA C. O.; GROTZ MAJEROWICZ, F.; GONÇALVES DANTAS, R. Lágrimas de papel: Mestre Pastinha e os regimes de afeto no jornalismo impresso. Intertexto, n. 52, p. 103478, 24 maio 2021.
The world´s 50 best. Disponível em: . />. Acesso em: (07 jan. 2023).
TRICHES, R. M.; SCHNEIDER, S. Alimentação, sistema agroalimentar e os consumidores: novas conexões para o desenvolvimento rural. Cuadernos de Desarrollo Rural, v. 12, n. 75, p. 21, 16 mar. 2015.
WARD, P.; COVENEY, J.; HENDERSON, J. Editorial: A sociology of food and eating: Why now? Journal of Sociology, v. 46, n. 4, p. 347–351, dez. 2010.
ZANETI, T.; SCHNEIDER, S. Ingredientes singulares à la carte : implicações do uso de produtos diferenciados na gastronomia contemporânea. Anthropology of Food, n. 01, 2016.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2023 Clarissa Magalhães do Vale Pereira, Flávia Milagres Campos, Fabiana Bom Kraemer
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
A submissão de originais para este periódico implica na transferência, pelos autores, dos direitos de publicação impressa e digital. Os direitos autorais para os artigos publicados são do autor, com direitos do periódico sobre a primeira publicação. Os autores somente poderão utilizar os mesmos resultados em outras publicações indicando claramente este periódico como o meio da publicação original. Em virtude de sermos um periódico de acesso aberto, permite-se o uso gratuito dos artigos em aplicações educacionais e científicas desde que citada a fonte conforme a licença CC-BY da Creative Commons.