Enunciados de potencial metaforicidade: o dito e o implícito
DOI:
https://doi.org/10.17058/signo.v48i91.17826Palavras-chave:
Metaforicidade potencial, Ditadura no Brasil, Procedimento de Identificação de Metáfora, Responsividade, ImplícitoResumo
Este trabalho tem por objetivo explorar a metaforicidade potencial de um enunciado, buscando surpreendê-la em sua formação no curso de uma troca verbal autêntica. Para tal, escolheu-se trabalhar com um sintagma explorado em diversas manchetes da mídia - “estragar a Páscoa” -, extraído de pronunciamento do presidente do Superior Tribunal Militar, general Luis Carlos Gomes Mattos, em 19 de abril de 2022, em resposta à divulgação de áudios que denunciavam a prática da tortura no Brasil do período ditatorial. A noção de metaforicidade indicará a propriedade de uma expressão que, tomada inicialmente em sua acepção básica, autoriza, em um segundo momento, uma leitura potencialmente metafórica. Como metodologia, adotou-se o procedimento de identificação de metáfora idealizado pelo grupo Pragglejaz (2007), objetivando captar a produção de uma leitura metafórica do referido sintagma com base em um funcionamento assentado na ironia. Do ponto de vista teórico, recorreu-se a trabalhos de Voloshinov, Lakoff e Johnson, Vereza, dentre outros. Os resultados alcançados confirmam a ideia de uma metaforicidade potencial do sintagma em análise, tendo em vista atualizações de usos da expressão já claramente metafóricos e, por certo, políticos, nas mídias. Do exposto, conclui-se que, no contexto investigado, a metaforização funciona como traço de responsividade do enunciado, quando o projeto do interlocutor é desqualificar eticamente gestos de ironia que se apreendem como significado básico de um enunciado.
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