Os corpos outros na formação em saúde: em direção a uma perspectiva interseccional do paciente nos modelos cognitivos idealizados
DOI:
https://doi.org/10.17058/signo.v48i91.17977Palavras-chave:
formação em saúde, modelos cognitivos idealizados, paciente, interseccionalidadeResumo
Este ensaio teórico busca discutir como aspectos do campo conceitual na formação em saúde podem ter consequências materiais na perspectiva assumida por futuros profissionais. A partir da fundamentação teórica dos Modelos Cognitivos Idealizados (MCI), refletimos sobre qual é o estereótipo social consagrado de paciente ideal nesse campo, e quais são os corpos outros que são ocultados e/ou pouco considerados, mais tarde, nos atendimentos em saúde. Propomos que o tensionamento desse MCI para a construção de sentidos que vejam as intersecções em saúde permite levar em conta o impacto de determinantes sociais da saúde na vida de pacientes que são atravessados por opressões as mais diversas e que ficam à margem desse MCI. Por fim, vislumbramos a necessidade de práticas de ensino que permitam perspectivar modelos culturais que se radializem para as margens, bem como de se aprofundar competências culturais nas faculdades de ciências da saúde.
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